São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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Se juro subir, economia terá "vôo de galinha"

DA SUCURSAL DO RIO

Com o resultado do crescimento da economia acima do estimado, especialistas em projeção do PIB (Produto Interno Bruto) voltam suas preocupações para a sinalização do Banco Central de aumento das taxas de juros básicos da economia. Atualmente, a Selic está em 16% ao ano.
Caso isso ocorra neste ano, eles avaliam que poderá ficar comprometido um crescimento sustentável da economia em 2005. A economia correria o risco de passar por mais um crescimento sem continuidade ou, como prefere o mercado, repetiria o "stop and go" de períodos anteriores.
"O aumento dos juros tira o fôlego da economia e vamos voltar ao "stop and go" ou mais um "vôo de galinha" [de curto alcance]", afirmou Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores.
"É certo que 2005 vai ser um ano de ajuste mais rigoroso nos Estados Unidos, o que vai tornar mais difícil trazer investimentos para o Brasil. Se a sinalização aqui também for de aumento da taxa de juros, pode comprometer a capacidade de crescimento."

EUA e BC podem atrapalhar
Estêvão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, também coloca os Estados Unidos e o Banco Central como personagens que podem atrapalhar o desempenho da economia em 2005.
"Uma possível decisão dos Estados Unidos de reduzir seu déficit fiscal poderá ter impacto no financiamento aos países emergentes", disse Kopschitz.
"Se o Banco Central elevar os juros neste ano, poderá frear as expectativas positivas e, assim, restringir o consumo e os investimentos em 2005."
A sinalização de alta dos juros foi dada pela ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Segundo o texto, com a alta do preço do petróleo, os riscos de aumento da inflação são maiores do que eram no passado -o que, por sua vez, recomendaria uma atitude "mais ativa da política monetária".
Além dos Estados Unidos e do Banco Central, Alex Agostini, da Global Invest, ressalta ainda que uma expansão mais vigorosa da economia brasileira em 2005 pode "esbarrar" na falta de investimentos em infra-estrutura, como portos, estradas e energia.
"É uma coisa que coloca em risco o desempenho do próximo ano. Esses investimentos já deveriam ter sido feitos, já que seu tempo de maturação (conclusão) é de dois a cinco anos."

Ipea não vai revisar taxa
Para 2005, o Ipea estima crescimento de 3,7% do PIB. Kopschitz diz que a taxa não deve ser revista, apesar de o resultado do PIB do segundo trimestre ter ficado acima da previsão, que era de 3,5%.
O economista Johan Soza, da Rosenberg e Associados, afirmou que já trabalha com o cenário "de mais um vôo de galinha" em 2005. A consultoria revisou ontem a estimativa para o crescimento da economia em 2004 de 3,8% para 4%. Mas não vai mudar a de 2005, que é de 2,8%.
Segundo Soza, os números positivos do PIB podem acabar se tornando mais um motivo para o Banco Central aumentar os juros. "Como há o temor de que o crescimento gere um gargalo na economia e acarrete mais inflação, os números podem colocar lenha na fogueira do Banco Central."


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