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PÉ NO FREIO
PIB tem expansão de apenas 0,5% no 2º tri
Sob efeito do câmbio desfavorável, economia tem o pior desempenho desde o 3º trimestre do ano passado, aponta IBGE
Resultado torna mais difícil para o governo atingir a meta de crescimento de 4% proposta para este ano, afirmam especialistas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Sob impacto do câmbio e de
fatores pontuais, como a greve
da Receita Federal, a economia
brasileira pisou no freio no segundo trimestre: o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,5%
na comparação livre de influências sazonais com o primeiro trimestre, quando a expansão havia sido maior (1,3%).
Foi o pior desempenho desde o
terceiro trimestre do ano passado (-1,2%), segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No primeiro semestre de
2006, a economia cresceu 2,2%
-menos do que em igual período de 2005 (3,4%) e com resultado semelhante ao de todo o
ano passado (2,3%). Na média
dos três primeiros anos do governo Lula (2003-2005), o
crescimento foi de 2,6%. Em
relação ao segundo trimestre
de 2005, o PIB subiu 1,2%.
Segundo especialistas, os dados indicam que será bem mais
difícil para o governo alcançar a
meta traçada para 2006 -4%
de expansão. O economista do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) Estêvão
Kopschitz disse que a instituição irá rever para baixo a projeção de crescimento de 3,8% do
PIB neste ano. A consultoria
LCA já reduziu sua estimativa
-de 3,7% para 3,5%.
Para Rebeca Palis, gerente da
coordenação de Contas Nacionais do IBGE, vários fatores
contribuíram para a desaceleração da economia no segundo
trimestre, como a greve na Receita, a Copa do Mundo (que reduziu o número de dias úteis) e
a valorização do real. "O câmbio valorizado durante muito
tempo acaba afetando o setor
externo", disse Palis.
As exportações, em volume,
caíram 5,1% na comparação
com o primeiro trimestre. Em
relação ao segundo trimestre
de 2006, a retração foi de 0,6%,
a primeira taxa negativa desde
o terceiro trimestre de 2003.
Do lado da produção, foi a indústria que teve o pior desempenho -queda de 0,3% do primeiro para o segundo trimestre. Agropecuária e serviços foram melhor -altas de 0,8% e de
0,6%, respectivamente.
Sob a ótica da demanda, os
investimentos foram o destaque negativo (retração de
2,2%), enquanto a expansão da
massa salarial e do rendimento
assegurou o aumento do consumo das famílias (1,2%).
Para Edgard Pereira, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), o câmbio foi a
"principal causa da desaceleração" do PIB, ao reduzir a competitividade das exportações e
fazer a indústria trocar fornecedores locais por estrangeiros.
Já Bráulio Borges acredita
que o câmbio manteve sua influência negativa, mas a greve
na Receita Federal afetou não
só as exportações como as importações de insumos para a
produção doméstica.
Kopschitz, do Ipea, disse que,
se por um lado o câmbio prejudicou o setor externo, por outro
provocou queda de preços e a
conseqüente expansão do consumo interno.
Apesar do fraco desempenho
no primeiro semestre, economistas esperam aquecimento
no segundo semestre. A LCA
projeta expansão de 5% contra
o mesmo período de 2005, graças à fraca base de comparação.
"Vários fatores para impulsionar a economia neste ano foram dados, como mais crédito e
emprego. A expectativa é que o
ritmo volte a aumentar no segundo semestre", disse Alex
Agostini, da Austin Ratings.
Para Ana Maria Castelo, economista da GV Consult, "o resultado tem de ser lido com
cautela, pois não significa que a
economia embicou para baixo".
"Temos de considerar que pesquisas de confiança e de intenção de investimento mostram
algum otimismo", disse.
Para Celso Toledo, o PIB não
surpreende, dados os impeditivos ao crescimento já conhecidos, como alta carga tributária
e baixa taxa de investimento.
"Do ponto de vista qualitativo,
o resultado não é surpreendente. É a cara do Brasil que a gente
conhece, com uma economia
que cresce pouco, com todos os
seus óbices estruturais."
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