São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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PÉ NO FREIO

PIB tem expansão de apenas 0,5% no 2º tri

Sob efeito do câmbio desfavorável, economia tem o pior desempenho desde o 3º trimestre do ano passado, aponta IBGE

Resultado torna mais difícil para o governo atingir a meta de crescimento de 4% proposta para este ano, afirmam especialistas


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Sob impacto do câmbio e de fatores pontuais, como a greve da Receita Federal, a economia brasileira pisou no freio no segundo trimestre: o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,5% na comparação livre de influências sazonais com o primeiro trimestre, quando a expansão havia sido maior (1,3%). Foi o pior desempenho desde o terceiro trimestre do ano passado (-1,2%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No primeiro semestre de 2006, a economia cresceu 2,2% -menos do que em igual período de 2005 (3,4%) e com resultado semelhante ao de todo o ano passado (2,3%). Na média dos três primeiros anos do governo Lula (2003-2005), o crescimento foi de 2,6%. Em relação ao segundo trimestre de 2005, o PIB subiu 1,2%.
Segundo especialistas, os dados indicam que será bem mais difícil para o governo alcançar a meta traçada para 2006 -4% de expansão. O economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Estêvão Kopschitz disse que a instituição irá rever para baixo a projeção de crescimento de 3,8% do PIB neste ano. A consultoria LCA já reduziu sua estimativa -de 3,7% para 3,5%.
Para Rebeca Palis, gerente da coordenação de Contas Nacionais do IBGE, vários fatores contribuíram para a desaceleração da economia no segundo trimestre, como a greve na Receita, a Copa do Mundo (que reduziu o número de dias úteis) e a valorização do real. "O câmbio valorizado durante muito tempo acaba afetando o setor externo", disse Palis.
As exportações, em volume, caíram 5,1% na comparação com o primeiro trimestre. Em relação ao segundo trimestre de 2006, a retração foi de 0,6%, a primeira taxa negativa desde o terceiro trimestre de 2003.
Do lado da produção, foi a indústria que teve o pior desempenho -queda de 0,3% do primeiro para o segundo trimestre. Agropecuária e serviços foram melhor -altas de 0,8% e de 0,6%, respectivamente.
Sob a ótica da demanda, os investimentos foram o destaque negativo (retração de 2,2%), enquanto a expansão da massa salarial e do rendimento assegurou o aumento do consumo das famílias (1,2%).
Para Edgard Pereira, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o câmbio foi a "principal causa da desaceleração" do PIB, ao reduzir a competitividade das exportações e fazer a indústria trocar fornecedores locais por estrangeiros.
Já Bráulio Borges acredita que o câmbio manteve sua influência negativa, mas a greve na Receita Federal afetou não só as exportações como as importações de insumos para a produção doméstica.
Kopschitz, do Ipea, disse que, se por um lado o câmbio prejudicou o setor externo, por outro provocou queda de preços e a conseqüente expansão do consumo interno.
Apesar do fraco desempenho no primeiro semestre, economistas esperam aquecimento no segundo semestre. A LCA projeta expansão de 5% contra o mesmo período de 2005, graças à fraca base de comparação.
"Vários fatores para impulsionar a economia neste ano foram dados, como mais crédito e emprego. A expectativa é que o ritmo volte a aumentar no segundo semestre", disse Alex Agostini, da Austin Ratings.
Para Ana Maria Castelo, economista da GV Consult, "o resultado tem de ser lido com cautela, pois não significa que a economia embicou para baixo". "Temos de considerar que pesquisas de confiança e de intenção de investimento mostram algum otimismo", disse.
Para Celso Toledo, o PIB não surpreende, dados os impeditivos ao crescimento já conhecidos, como alta carga tributária e baixa taxa de investimento. "Do ponto de vista qualitativo, o resultado não é surpreendente. É a cara do Brasil que a gente conhece, com uma economia que cresce pouco, com todos os seus óbices estruturais."


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