São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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Greve da Volks já paralisa fábricas do PR e de Taubaté

Sem peças do ABC, montadora concede folgas e marca férias coletivas em 3 unidades

Empresa afirma que medidas estão ligadas a ajuste na produção; funcionários de São Bernardo do Campo ficam parados até segunda


Paulo Whitaker/Reuters
Carros parados no pátio da fábrica do ABC, em greve há 3 dias


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A greve dos trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo em protesto contra o anúncio da demissão de 1.800 funcionários afetou a produção nas unidades de São José dos Pinhais (PR) e de Taubaté (SP), que concederam folgas a seus empregados e marcaram férias coletivas para este mês. A unidade de São Carlos também deve entrar em férias coletivas a partir do dia 18 por um período de dez dias.
Parados há três dias, os funcionários do ABC decidiram manter a greve na fábrica até segunda-feira. A decisão foi aprovada por cerca de 80% dos 6.000 presentes em assembléia realizada ontem à tarde.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT) chegou a cogitar mudar a tática do protesto, com paralisações setoriais, mas os trabalhadores preferiram continuar de braços cruzados. Na próxima quarta-feira, protestos ocorrerão nas principais concessionárias da VW em várias cidades. A manifestação terá apoio de outras centrais.
A paralisação no ABC ocorre por falta de acordo entre sindicato e montadora, que planeja demitir e cortar direitos trabalhistas para enxugar custos. A VW diz que precisa do acordo para garantir investimentos na unidade, onde trabalham 12,4 mil. Sem acordo, pode demitir até 6.100 e ameaça fechar a fábrica, inaugurada em 1959.
A falta de peças vindas da fábrica do ABC vai deixar 3.600 empregados do Paraná de folga hoje e amanhã. Em Taubaté, os 4.500 funcionários não trabalham hoje e na quarta-feira. "Prova do impacto da greve é que a empresa tem tentado colocar encarregados para trabalhar nos setores de estamparia e câmbio, que justamente fornecem peças para outras fábricas", diz José Loopez Feijóo, presidente do sindicato.
Para a montadora, a concessão das folgas tem como objetivo fazer ajustes na produção e já estava prevista antes mesmo da greve. Sem admitir o impacto da paralisação nas demais fábricas, a Volks também afirma que as férias estão agendadas de forma "preventiva". No ABC, também estão previstas coletivas a partir do dia 18 para 3.400 operários da linha Gol.

Estoque excessivo
A Volks de Taubaté informa que a concessão das folgas foi motivada pela existência de um "estoque excessivo" de carros no pátio da fábrica. A Folha apurou, entretanto, que a greve no ABC motivou a decisão.
A unidade Anchieta é responsável pela fabricação das transmissões para os modelos Gol e Parati feitos em Taubaté -são cerca de 800 por dia. Em São José dos Pinhais, a suspensão forçada impediu uma paralisação ontem em solidariedade aos demitidos em São Bernardo. "Se a fábrica parasse, estaríamos ajudando a Volks", diz Jamil Dávila, secretário do sindicato dos metalúrgicos de Curitiba (Força Sindical).
No Paraná, a principal peça em falta é o acabamento dos pedais do carro, fabricado no ABC. Por dia, são montados entre cerca de 700 a 800 carros (Fox, CrossFox e Golf). A montadora planeja cortar nessa unidade 1.400 empregos até 2008 -940 ainda neste ano. Os contratos de exportação também podem ser prejudicados com a greve. Segundo informam os sindicalistas, no ABC são feitas peças para África do Sul e China.
Na contramão da VW, a Fiat anunciou nesta semana a abertura de 300 vagas em unidades do grupo em Betim (MG), onde trabalham 9.000 pessoas. As contratações se devem à manutenção do ritmo de crescimento do mercado interno.

Colaboraram FÁBIO AMATO, da Agência Folha, em São José dos Campos, e MARI TORTATO, da Agência Folha, em Curitiba

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