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ROBERTO RODRIGUES
Plantar florestas é um bom negócio
Não se pode imaginar que o
plantio de florestas seja um
tema romântico; tem que dar
lucro, ser um negócio positivo
O MINISTÉRIO do Meio Ambiente anunciou há poucos
dias uma significativa redução do desmatamento da Amazônia
no último ano e uma expectativa de
crescente controle oficial nessa
área. Trata-se de uma importante e
alvissareira notícia, seja pelo fato
em si, seja pelas conseqüências positivas que ele traz para o comércio
internacional de produtos agrícolas.
Nossos concorrentes, que vão perdendo mercados graças à alta eficiência competitiva dos agropecuaristas brasileiros, vivem inventando
argumentos para cortar nossos
mercados. Entre esses argumentos,
sempre ganha força a hipotética
"devastação da floresta tropical".
No entanto, há outro fato ainda
mais relevante para o país, que é o
espetacular crescimento do plantio
de florestas novas.
Por trás desse avanço, está uma
poderosa estrutura de geração de
tecnologia, liderada pela Embrapa
Florestas, sediada em Colombo
(PR) e que trabalha articulada com
outras várias instituições, inclusive
ligadas a universidades. Os trabalhos, centrados em eucaliptos e pínus, vêm avançando para outras espécies, como a acácia negra, a teca, a
araucária, a seringueira e espécies
nativas, sempre com o apoio do Ibama e de empresas privadas.
A verdade é que há uma crescente
demanda interna e externa por produtos que vêm de floresta, como celulose e papel, siderurgia, construção civil, movelaria, carvão vegetal, e
agora vem o álcool de celulose, além
de produtos fitoterápicos e medicinais. Portanto, ao mesmo tempo em
que se reduz o abate das matas nativas, é essencial implementar as florestas plantadas, para atender a essa
demanda. E o Brasil, por sua extensão territorial e seu clima, forçosamente tem que ocupar um espaço
relevante no mundo nessa área.
Por outro lado, não se pode imaginar que o plantio de florestas seja
um tema romântico, voltado apenas
à sustentabilidade ambiental ou à
beleza natural. Tem que dar lucro,
deve ser um negócio positivo, para
atrair a atenção de agricultores como uma boa alternativa à atividade
rural.
Isso vem acontecendo, graças a
esse mercado crescente.
Em 2006, foram plantados mais
131 mil hectares de florestas em todo o país, além da reforma dos outros 500 mil hectares. E isso vem
acontecendo em todas as regiões.
Minas Gerais é o maior Estado produtor, com mais de 1,2 milhão de
hectares de eucaliptos e pínus, seguido de São Paulo, com 970 mil
hectares, Paraná, com 808 mil, Santa Catarina, com 600 mil, Bahia,
com 594 mil, e Rio Grande do Sul,
com 370 mil.
Metade da demanda de produtos
florestais (390 milhões de m33/ano)
é atendida pelas florestas plantadas,
equivalentes a 184 milhões de m3/ano, sendo 73% de eucaliptos e 27%
de pínus. Dessa forma, o temido
apagão florestal projetado há anos
para o Brasil não é mais um problema: foi resolvido.
O Brasil já é hoje o 3º maior exportador mundial de celulose (atrás
do Canadá e dos Estados Unidos), o
17º maior exportador mundial de
papel, o 4º de madeira serrada e de
compensados. E as vendas externas
em 2006 de produtos de florestas
plantadas foram de US$ 5,158 bilhões, 10% a mais que no ano anterior. A Sociedade Brasileira de Silvicultura informa que apenas o complexo soja e as carnes têm maior valor exportado que os derivados de
madeira.
É, sem dúvida, um atraente setor,
que muito crescerá ainda no Brasil,
inclusive com o impulso de recursos
que virão do CDM (Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, na sigla
em inglês)...
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas), presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
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