São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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ROBERTO RODRIGUES

Plantar florestas é um bom negócio

Não se pode imaginar que o plantio de florestas seja um tema romântico; tem que dar lucro, ser um negócio positivo

O MINISTÉRIO do Meio Ambiente anunciou há poucos dias uma significativa redução do desmatamento da Amazônia no último ano e uma expectativa de crescente controle oficial nessa área. Trata-se de uma importante e alvissareira notícia, seja pelo fato em si, seja pelas conseqüências positivas que ele traz para o comércio internacional de produtos agrícolas.
Nossos concorrentes, que vão perdendo mercados graças à alta eficiência competitiva dos agropecuaristas brasileiros, vivem inventando argumentos para cortar nossos mercados. Entre esses argumentos, sempre ganha força a hipotética "devastação da floresta tropical".
No entanto, há outro fato ainda mais relevante para o país, que é o espetacular crescimento do plantio de florestas novas. Por trás desse avanço, está uma poderosa estrutura de geração de tecnologia, liderada pela Embrapa Florestas, sediada em Colombo (PR) e que trabalha articulada com outras várias instituições, inclusive ligadas a universidades. Os trabalhos, centrados em eucaliptos e pínus, vêm avançando para outras espécies, como a acácia negra, a teca, a araucária, a seringueira e espécies nativas, sempre com o apoio do Ibama e de empresas privadas.
A verdade é que há uma crescente demanda interna e externa por produtos que vêm de floresta, como celulose e papel, siderurgia, construção civil, movelaria, carvão vegetal, e agora vem o álcool de celulose, além de produtos fitoterápicos e medicinais. Portanto, ao mesmo tempo em que se reduz o abate das matas nativas, é essencial implementar as florestas plantadas, para atender a essa demanda. E o Brasil, por sua extensão territorial e seu clima, forçosamente tem que ocupar um espaço relevante no mundo nessa área.
Por outro lado, não se pode imaginar que o plantio de florestas seja um tema romântico, voltado apenas à sustentabilidade ambiental ou à beleza natural. Tem que dar lucro, deve ser um negócio positivo, para atrair a atenção de agricultores como uma boa alternativa à atividade rural.
Isso vem acontecendo, graças a esse mercado crescente.
Em 2006, foram plantados mais 131 mil hectares de florestas em todo o país, além da reforma dos outros 500 mil hectares. E isso vem acontecendo em todas as regiões. Minas Gerais é o maior Estado produtor, com mais de 1,2 milhão de hectares de eucaliptos e pínus, seguido de São Paulo, com 970 mil hectares, Paraná, com 808 mil, Santa Catarina, com 600 mil, Bahia, com 594 mil, e Rio Grande do Sul, com 370 mil.
Metade da demanda de produtos florestais (390 milhões de m33/ano) é atendida pelas florestas plantadas, equivalentes a 184 milhões de m3/ano, sendo 73% de eucaliptos e 27% de pínus. Dessa forma, o temido apagão florestal projetado há anos para o Brasil não é mais um problema: foi resolvido.
O Brasil já é hoje o 3º maior exportador mundial de celulose (atrás do Canadá e dos Estados Unidos), o 17º maior exportador mundial de papel, o 4º de madeira serrada e de compensados. E as vendas externas em 2006 de produtos de florestas plantadas foram de US$ 5,158 bilhões, 10% a mais que no ano anterior. A Sociedade Brasileira de Silvicultura informa que apenas o complexo soja e as carnes têm maior valor exportado que os derivados de madeira.
É, sem dúvida, um atraente setor, que muito crescerá ainda no Brasil, inclusive com o impulso de recursos que virão do CDM (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, na sigla em inglês)...


ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas), presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.


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