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Guru da estratégia defende primazia das boas idéias
Chan Kim, de "A Estratégia do Oceano Azul", elenca casos criativos e rentáveis
Teoria pretende ensinar passos para o aumento da
lucratividade; para autor, brasileiros devem se inspirar
em idéias já implantadas
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos 15 anos, W.
Chan Kim e Renée Mauborgne,
professores de estratégia nos
negócios da prestigiada escola
de administração de empresas
francesa Insead, estudaram casos que sempre conduziam a
uma pergunta: "Como foi que
eu não tive essa idéia?".
Por suas mãos passaram 108
inovações, feitas desde o início
do século passado. Dos casos
estudados, 86% eram extensões de produtos e apenas 14%
eram lançamentos realmente
surpreendentes.
Quando colocaram na calculadora, no entanto, os professores constataram a inversão desses percentuais. A lucratividade das boas idéias é muito
maior do que a proporcionada
pelos simples lançamentos, nos
quais as empresas também gastam bastante tempo e dinheiro.
Os lançamentos representavam 62% do faturamento das
empresas e 39% dos lucros totais. Já as boas idéias, que batizaram de "oceanos azuis", responderam por 38% das vendas
e 61% dos lucros.
"O mercado é constituído por
dois tipos de oceanos, os vermelhos e os azuis", disse à Folha W. Chan Kim, que esteve
em São Paulo nesta semana para participar do Fórum Mundial de Estratégia e Marketing
da HSM.
"No oceano vermelho, cada
empresa briga com as demais,
para ficar com a maior parte da
demanda. No oceano azul,
criam-se demandas novas, que
garantem crescimento extremamente rentável." Para ele,
neste oceano a competição não
conta, já que as regras do jogo
ainda precisam ser definidas.
Com a teoria formulada, Kim
e Mauborgne escreveram o livro "A Estratégia do Oceano
Azul" (Editora Campus/Elsevier), no qual não só analisam
casos como também ensinam
as empresas a criar "oceanos
azuis", em seis passos.
"A estratégia do oceano azul
é conectar a inovação e o sucesso comercial. A maioria das empresas está confusa em entender onde está, e temos metodologias para ajudá-las a perceber
e a nadar para os oceanos
azuis." O próprio livro entrou
para a categoria dos "oceanos
azuis": tornou-se o maior recordista da Harvard Business
School Publishing, com mais de
1 milhão de cópias vendidas, em
39 línguas.
Além de prestar consultoria a
diversas empresas -muitas delas brasileiras-, Kim e Mauborgn colecionam histórias de
"oceanos azuis" em www.
blueoceanstrategy.com. "Os
brasileiros não têm de criar
seus oceanos. Há muitos exemplos testados em outros países
que podem ser adotados aqui",
disse. A seguir, Kim fala sobre
algumas desses exemplos adotados por grandes empresas do
mundo, incluindo no Brasil:
Outro olhar para o cliente
"Todos conhecem o varejo e
sabem as regras: para vender, é
necessário ter os melhores produtos pelo menor preço. Essa é
a estratégia "oceano vermelho",
na qual todos competem entre
si. A Casas Bahia constatou que
havia tantas pessoas sem poder
de compra que só conseguiria
ter esses não-clientes se lhes
desse crédito. Entrou numa nova área, fornecendo a possibilidade de compra a quem nem
sequer tinha como comprovar
sua renda. Óbvio que vendem
bens, mas também estão vendendo dinheiro. Atraíram
clientes, cresceram rapidamente, com alta rentabilidade,
apesar de concorrentes terem
falido. Quando as outras empresas começaram a imitar o
oceano azul das Casas Bahia,
ela resolveu tornar-se atraente
oferecendo serviços acima da
média. Fez um amplo trabalho
com seus funcionários, reduziu
o "turn over" [índice de troca de
empregados] e mudou o atendimento aos clientes. Isso não é
fácil de imitar."
Novos compradores
"A grande maioria dos hospitais da Argentina não pode
comprar os caríssimos equipamentos de ressonância magnética, essenciais para o diagnóstico de várias doenças. Muitas
fabricantes competiam entre si
tentando fazer scanners mais
simples, menores e mais baratos. Jamais funcionou. A Philips perguntou-se: "Por que temos de vender para hospitais?
Que tal tentar os usuários finais? São eles que usam e pagam pelo serviço". Eles criaram
então caminhões com equipamentos de ressonância magnética e foram de cidade em cidade. Havia filas enormes, e houve aumento no tráfego de pacientes de 20 a 30% por região.
As pessoas esperavam meses
para fazer exames porque havia
pouquíssimas máquinas no
país. Hoje, a Philips tem 200
caminhões rodando pela Argentina. As pessoas não têm de
viajar, o acesso é fácil, e a Philips não teve de competir em
custo e qualidade."
Além do básico
"A [rede varejista dos EUA]
Home Depot resolveu, anos
atrás, contratar universitários
para vender martelos, pregos,
furadeiras e outros equipamentos de construção. Eles
eram muito articulados, mas
não conheciam o que vendiam.
Só que o consumidor dessa loja
precisa de orientação. A Home
Depot percebeu que havia uma
enormidade de aposentados da
construção civil e passou a contratar avós encanadores, pedreiros e pintores. Como são
sozinhos, querem conversar e
tornaram-se trabalhadores entusiasmadíssimos. A empresa
foi ainda mais longe e abriu
cantos educativos nos quais os
aposentados dão aulas sobre
suas especialidades. Resultado:
os empregados são motivados,
os consumidores têm serviços
extras e os custos são muito
baixos, já que dinheiro não é a
motivação dos aposentados.
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