São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009

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Lula lança pré-sal com ataque a tucanos

Tom político, nacionalista e estatizante marca anúncio de propostas para exploração de petróleo, que irão ao Congresso

Presidente sugere que tucanos queriam debilitar estatal e diz que, sob seu governo, empresa reagiu "de forma impressionante"


Sergio Lima/Folha Imagem
A ministra Dilma Rousseff, o presidente do Senado, José Sarney, o presidente Lula, a primeira-dama Marisa Letícia, o presidente da Câmara, Michel Temer, e o ministro Edison Lobão, em Brasília

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso nacionalista e estatizante, o presidente Lula anunciou ontem as propostas de um novo marco regulatório para a extração de petróleo na região do pré-sal, nova fronteira exploratória do país, a até 7 km de profundidade na costa brasileira, com potencial de mais do que dobrar as reservas brasileiras.
Lula criticou o que chamou de enfraquecimento da Petrobras na década de 1990 e defendeu maior participação da União na exploração das riquezas do país -como ocorrerá se o modelo de partilha de produção divulgado ontem for aprovado no Congresso.
O projeto do governo prevê ainda uma capitalização recorde da Petrobras, estimada em até R$ 100 bilhões, o que deverá justamente ampliar a participação estatal na empresa -o governo hoje tem o controle acionário da estatal, mas não tem a maioria das ações.
Numa continuação da retórica usada contra tucanos no segundo turno de 2006 e numa indicação de rumo para a campanha governista de 2010, Lula buscou colocar seu governo como o oposto da gestão tucana no cada vez mais importante setor de petróleo.
Ele foi irônico ao lembrar de tentativa de trocar o nome da Petrobras para Petrobrax no governo Fernando Henrique Cardoso e disse que a estatal era vista como "o último dinossauro a ser desmantelado".
Segundo Lula, 1997, ano da aprovação da atual Lei do Petróleo -que acabou com o monopólio da Petrobras na exploração e instituiu o modelo de concessão-, "foi tempo de pensamento subalterno."
"Se não fosse a forte reação da sociedade, teriam até trocado o nome da empresa. Em vez de Petrobras, a companhia passaria a ser a Petrobrax. Sabe-se lá o que esse "xis" queria dizer nos planos de alguns exterminadores do futuro", disse.
Para Lula, a mudança na mentalidade em seu governo levou a empresa a investir e descobrir o petróleo na camada pré-sal. "Desde o primeiro instante, meu governo deu toda força à Petrobras. Passamos a cuidar com muito carinho do nosso querido dinossauro. Deixamos claro que nossa política era fortalecer, e não debilitar, a Petrobras. A companhia, estimulada, recuperada e bem comandada, reagiu de forma impressionante", disse.
Ao chamar o pré-sal de "dádiva de Deus" e de "bilhete premiado", Lula disse que o governo e o Congresso devem tomar decisões acertadas para que a riqueza mineral não se transforme em fonte de problemas.
"Países pobres que descobriram muito petróleo, mas não resolveram bem essa questão, continuaram pobres. Outros, caíram na tentação do dinheiro fácil e rápido. Resultado: quebraram suas indústrias e desorganizaram suas economias. E, assim, o que era dádiva transformou-se numa verdadeira maldição", afirmou.
Antes de Lula, discursaram os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Deram explicações sobre as propostas do governo e a importância econômica do pré-sal.
Dilma, a pré-candidata de Lula para sucedê-lo, exibiu tabelas e fez um discurso com tom mais emocional -ela ainda chorou, após o discurso de Lula. "Pingou uma lágrima", disse.
Segundo Dilma, o pré-sal abrirá "as portas para o futuro", será "fonte de felicidade material e espiritual" e os recursos da exploração trarão "mais casas, mais comida e mais saúde".
Lobão, que anteontem anunciara, após reunião com Lula e os governadores do Sudeste, que o governo havia desistido de retirar do novo modelo benefícios atuais a Estados e municípios produtores de petróleo, deu ontem recado diferente: "Os Estados com fronteira com os campos de petróleo do pré-sal terão tratamento diferenciado, mas todos devem compartilhar dessa riqueza. Propomos o fortalecimento do pacto federativo mediante a distribuição das riquezas nacionais com todos os Estados e todos os municípios do país".
O tom épico-nacionalista do evento foi aberto pela manhã, no Blog do Planalto, inaugurado ontem, e no programa de rádio "Café com o Presidente", nos quais Lula afirmou que o pré-sal é "a segunda independência do Brasil".


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