São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
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NEGÓCIOS
Empresa se associa ao grupo francês Havas em operação de US$ 100 milhões, a maior no setor de livros
Editora Abril compra Ática e Scipione

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Duas das maiores editoras brasileiras de livros didáticos, a Ática e a Scipione, foram compradas pelo Grupo Abril e por um dos maiores grupos de comunicação da Europa, o Havas, da França.
O valor do negócio foi de cerca de US$ 100 milhões, segundo Fábio Mendia, diretor-executivo da Abril. Cada um dos compradores entrou com metade do dinheiro.
Oficialmente, a compra -um dos maiores investimentos estrangeiros no setor de livros no Brasil- foi feita pelo braço espanhol do grupo Havas, a editora Anaya, que teve um faturamento de US$ 207 milhões em 1998.
Em setembro do ano passado, quando o Havas comprou a Anaya, um dos objetivos do grupo era exatamente investir na América Latina. Desde então, já foi adquirido o controle da editora Aique, na Argentina.
As editoras Ática e Scipione, que são controladas pelo mesmo grupo de acionistas, mas são empresas separadas, vão manter sua estrutura operacional e a diretoria e vão continuar publicando o mesmo tipo de livros. A direção das editoras vai responder a um conselho de administração, formado por dois representantes de cada um dos novos donos.

Menos dívidas
Para a Abril, o negócio significa a retomada dos investimentos, depois que o grupo conseguiu melhorar sua situação financeira, afetada pela desvalorização do real em janeiro último.
"O grupo conseguiu reduzir seu endividamento em 78% com a venda da sua participação na Listel (listas telefônicas) e da DirectTV nos últimos meses", disse Mendia. Em maio, a Abril vendeu a DirectTV para a Galaxy Latin America; em junho, passou sua cota na Listel para a BellSouth Advertising and Publishing.
Além disso, o negócio significa a volta da Abril ao setor de livros didáticos, onde já atuou entre 1970 e 1981. Esse mercado movimentou cerca de US$ 998 milhões em 1997, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro, e vem crescendo a cada ano nesta década, acompanhando o aumento no número de crianças e adolescentes matriculados nas escolas.
O governo é o maior comprador de livros didáticos do país, tendo adquirido cerca de 80 milhões de exemplares em 1997.
Essa expansão da venda de livros didáticos vem chamando a atenção de editoras estrangeiras, especialmente da Europa, onde as possibilidades de crescimento quase não existem mais, afirmou Alfredo Chianca, diretor-geral da Editora Ática.
Nos últimos dois anos, a Ática foi assediada por pelo menos quatro grupos do exterior. Especialistas do setor acreditam que as empresas que perderam o negócio da Ática e da Scipione vão procurar outras editoras. A tendência seria de internacionalização do segmento de livros didáticos.
Outro fator de atração são as margens de lucros do negócio no Brasil, que, embora em queda nos últimos anos, ainda são bem mais atraentes do que na Europa.
As negociações dos controladores da Ática e da Scipione com o grupo Havas aceleraram-se desde abril. Em maio, a Abril entrou no negócio. A Abril e o Havas já vinham estudando a possibilidade de fazer uma parceria há bastante tempo, disse Mendia, mas só agora se decidiram por um negócio.
Considerado o maior grupo de comunicações da França, o Havas atua não apenas na edição e distribuição de livros, mas também na publicação de revistas e jornais e na área de publicidade. Recentemente, passou a ser um dos maiores produtores mundiais de CD-ROM na área educacional.


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