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RETRATO DO PAÍS
Para especialistas, todos os trabalhadores perderam rendimentos
Queda da concentração de renda frustra
DA SUCURSAL DO RIO
Especialistas econômicos avaliam que a redução na concentração de renda no Brasil de 2002 para 2003, apontada pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), do IBGE, não é um
fato a ser comemorado.
O índice de Gini da distribuição
de rendimentos de trabalho apresentou tendência de queda
-0,555 em 2003, o mais baixo resultado da série, de 1981, ano em
que atingiu 0,564. O índice varia
de zero a um. Quanto mais próximo de zero, menor é a concentração de renda.
A ressalva é que, pelo levantamento do IBGE, todos os trabalhadores perderam rendimentos
na comparação de 2002 para
2003. O índice de Gini só caiu porque os maiores rendimentos registraram uma queda superior
em relação aos mais baixos.
"Isso é uma redistribuição de
renda muito ruim, pois o índice
de Gini melhorou não porque aumentou a renda de quem ganha
menos. Foi porque o pessoal de
baixo perdeu menos do que o pessoal de cima", disse o diretor do
Instituto de Economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), João Sabóia.
"A distribuição de renda positiva é quando você tira dos que ganham mais e dá para os que ganham menos. Ou aumentam os
rendimentos de todo mundo, deixando os que ganham menos aumentarem mais. Agora, se cai todo mundo e simplesmente os que
ganham menos perdem menos, é
uma forma muito frustrante de
redistribuição."
Lauro Ramos, coordenador de
Estudos de Mercado de Trabalho
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) concorda.
"Parafraseando o economista
Edmar Bacha, que criou a expressão "Belíndia" [contraste da distribuição de renda no Brasil: muito
ricos -Bélgica- e muito pobres
-Índia], o Brasil diminuiu a concentração de renda indo na direção da Índia e não na direção da
Bélgica. Os pobres perderam menos, mas todo mundo perdeu.
Não há como dourar essa pílula."
Segundo a Pnad, o rendimento
médio real do trabalho caiu 7,4%
de 2002 para 2003. A perda real
entre os 50% das pessoas empregadas com os maiores rendimentos foi de 8,1%. Já a queda nos rendimentos dos 50% com as menores remunerações foi de 4,2%.
Os especialistas também destacam o fato de o índice de Gini divulgado pelo IBGE levar em conta
os rendimentos de trabalho, ou
seja, aqueles provenientes exclusivamente da ocupação da pessoa.
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