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VISÃO DO GOVERNO
"Mercado interno pode puxar o crescimento"
Para Mantega, país pode compensar recuo externo
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que, mesmo
em um cenário de menor crescimento da economia mundial,
o Brasil poderá expandir sua
economia apoiando-se na demanda interna.
"Temos um grande mercado
doméstico que está em fase de
expansão por causa do aumento do emprego, da massa salarial e do crédito", diz Mantega.
A seguir, trechos da entrevista de Mantega à Folha, realizada na última quarta-feira, em
São Paulo.
(SB)
FOLHA - Como a desaceleração da
economia americana e o menor
crescimento global irão afetar a economia brasileira?
GUIDO MANTEGA - A desaceleração da economia mundial até
agora é apenas uma hipótese,
não é uma realidade. Já se fala
nisso há alguns anos e a desaceleração não acontece. Acredito
que a economia internacional
vai continuar vigorosa, talvez
um pouco menos do lado dos
Estados Unidos, mas um pouco
mais do lado da União Européia
e do Japão, que estão com taxas
maiores de crescimento. Dessa
forma, o quadro vai continuar
favorável para o comércio internacional.
FOLHA - Mas se o Brasil cresceu
pouco quando a economia global
estava aquecida, o que vai alavancar
o PIB agora?
MANTEGA - Mesmo que haja alguma desaceleração gradual da
economia internacional, o Brasil está em condições de substituir a demanda externa pelo
crescimento do mercado interno. No mercado externo temos
crescido 16%, 17% ao ano. Se,
em vez disso, viermos a crescer
15%, 13%, 12%, isso não vai fazer muita diferença. Significará
um crescimento menor, mas
sempre um crescimento. O
Brasil tem vantagens comparativas no mercado internacional, está ocupando mercados
que antes não eram nossos.
FOLHA - O mercado interno é capaz
de compensar essa queda no comércio exterior nos próximos anos?
MANTEGA - O Brasil tem um
grande mercado interno, que
está em expansão por causa do
aumento do emprego e da massa salarial. Isso compensa alguma eventual desaceleração no
mercado internacional. Temos
uma grande vantagem que os
tigres asiáticos não possuem: o
mercado deles é pequeno e esses países são totalmente voltados para as exportações. Já o
Brasil tem um grande mercado
doméstico, que está em fase de
expansão. É isso que temos de
aproveitar. As empresas orientam parte da produção para o
mercado interno e uma parte
para o externo -assim elas se
complementam. Se cai um pouco o mercado interno, a empresa procura exportar mais, faz
um preço melhor. O importante é que os dois mercados estejam sintonizados e isso já está
acontecendo. Então, não temo
um desaquecimento da economia internacional.
FOLHA - Como o governo deve estimular o crescimento?
MANTEGA - Vamos continuar
tomando medidas para baratear o custo dos investimentos,
compensar desvantagens cambiais que possam acontecer, reduzir o custo financeiro com a
queda dos juros -esse é o caminho que estamos tomando. Hoje a competição no mercado
globalizado é mais acirrada e
nós temos de compensar a perda de vantagem cambial que tivemos no passado. Há dois ou
três anos, a economia brasileira
tinha uma vantagem cambial
[real menos valorizado em relação ao dólar] e havia custos encobertos. Com o câmbio a R$ 3,
você podia ter custo tributário
e financeiro maior e pagar
energia mais cara. Estamos
conscientes dos problemas que
alguns setores estão vivendo
em conseqüência do câmbio e
também de outros problemas,
como a concorrência desleal, o
produto contrabandeado ou
subfaturado. Estamos combatendo isso e vamos continuar
reduzindo a taxa de juros, diminuindo o custo financeiro das
empresas. Alguns setores ainda
têm tributos altos e vamos ter
que reduzi-los. Estamos fazendo isso gradualmente. O que fizemos para a construção civil
vamos fazer para outros setores, de modo a dar competitividade para a indústria brasileira.
Além disso, vamos fomentar a
inovação, pois é importante
que a indústria renove seus
produtos.
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