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Projeto de lei dará mais de R$ 1 bi do FAT a qualificação
Ao menos 8% dos recursos do fundo seriam investidos em ações para o emprego
Objetivo é determinar em lei percentual mínimo para verbas em programas para qualificar mão-de-obra e de recolocação no mercado
JULIANNA SOFIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério do Trabalho
prepara um projeto de lei para
garantir que ao menos 8% dos
recursos do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador) sejam
investidos no Sistema Público
de Emprego, que reúne programas de qualificação de mão-de-obra e recolocação do trabalhador no mercado. A determinação em lei do percentual permitirá que mais de R$ 1 bilhão seja
aplicado anualmente nessas
ações.
A estimativa do ministério é
que, neste ano, sejam destinados R$ 550 milhões do FAT ao
conjunto dos programas. "É
preciso definir em lei, como estão definidos na legislação percentuais para gastos na saúde e
na educação. Temos de fazer a
discussão com o Congresso. A
gente quer ter isso [8%] como
parâmetro legal", afirmou à Folha o secretário de Políticas Públicas de Emprego do ministério, Remígio Todeschini.
Segundo o secretário, a proposta deve ser encaminhada ao
Congresso Nacional depois das
eleições. Nos cálculos do vice-presidente do Codefat (Conselho Deliberativo do FAT) e representante da Força Sindical
no órgão, Luiz Fernando Emediato, o limite mínimo de 8%
corresponde neste ano a
R$ 2,4 bilhões.
Embora atualmente não haja
uma previsão legal, o Codefat
tradicionalmente define no orçamento anual do fundo 8% da
receita do FAT para o Sistema
Público de Emprego. O problema é que geralmente esses recursos são bloqueados pela
equipe econômica como uma
das formas de atingir a meta de
superávit primário (receitas
menos despesas, exceto os juros da dívida).
Conseguem escapar dos cortes apenas as despesas obrigatórias com pagamento de seguro-desemprego e abono salarial
-benefícios do Sistema Público de Emprego que são custeados com recursos do FAT.
"O projeto de lei é uma boa
idéia, mas muito complicado. É
só o governo parar de atrapalhar que fica mais simples", disse Emediato, referindo-se aos
cortes orçamentários.
A opinião é compartilhada
pelo representante da CNC
(Confederação Nacional do Comércio) no Codefat, Roberto
Nogueira Ferreira, que se disse
"perplexo" com a idéia. "Chegaria a ser divertido se não fosse
trágico. O orçamento feito no
conselho acaba sendo uma peça de ficção. Será que o próprio
governo precisa fazer projeto
de lei para que esse percentual
seja aplicado? Gestões internas
acabariam facilmente com o
problema."
O próprio secretário é crítico
sobre o uso do dinheiro do fundo no ajuste fiscal. "O FAT contribui fortemente para o ajuste
fiscal. É preciso concentrar
mais os recursos do fundo para
que sejam fortalecidas as políticas de emprego para ampliar as
metas de geração de vagas no
país", afirmou Todeschini.
Emediato acrescentou que já
sugeriu ao conselho entrar na
Justiça questionando a intervenção do governo nas decisões
do Codefat. "O Codefat é um
órgão tripartite e paritário [governo, trabalhadores e empresários]. Reúne-se e aprova um
orçamento. O Planejamento
reduz o valor na proposta orçamentária. Depois de aprovado
o Orçamento no Congresso, o
governo ainda corta de novo os
recursos."
Pressão
No ano passado, durante o 2º
Congresso Nacional do Sistema
Público de Emprego, Trabalho
e Renda, representantes dos
governos federal, estadual e
municipal, trabalhadores e empresários traçaram como meta
tornar obrigatórios os gastos
com o Sistema Público de Emprego.
Também foi definido no encontro que uma legislação específica deve ser criada para fixar um percentual mínimo de
8% para aplicação em ações e
programas. Esse limite deveria
ser atingido, progressivamente,
em um prazo de cinco anos e incidiria sobre as receitas primárias do FAT, que vêm da arrecadação do PIS/Pasep.
Todeschini lembra que, além
dos cortes orçamentários, o dinheiro do FAT hoje é sujeito à
DRU (Desvinculação de Recursos da União). Ou seja, 20% dos
recursos do fundo são desvinculados de sua destinação original e aplicados em outras
áreas. "A questão é que isso
[DRU] vem de pai para filho
desde o início do século passado", declara o secretário.
A estimativa do Ministério
do Planejamento é que sejam
arrecadados R$ 23,010 bilhões
com as contribuições destinadas ao FAT neste ano. Desse total, R$ 4,602 bilhões devem ser
desvinculados pela DRU.
Com o fim dessa prática, explica Todeschini, seria possível
destinar mais que R$ 1 bilhão
por ano para os programas de
intermediação e qualificação
de trabalhadores. Isso porque o
percentual de 8% incidiria sobre uma base maior de recursos
do fundo.
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