São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Após pânico, Senado vota hoje pacote

Com perspectiva de avanço no projeto, mercados recuperam parte das perdas; Câmara pode voltar a analisar projeto amanhã

Obama e McCain, que são senadores, vão a Washington para votação; garantia de depósitos bancários pode aumentar

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Após o susto de anteontem, em que a rejeição do pacote do governo pela Câmara dos Representantes dos EUA espalhou o pânico nos mercados globais, líderes do Congresso anunciaram que a medida será levada à votação no Senado hoje à noite. O aparente avanço animou os mercados (leia textos nesta página), que recuperaram parte das perdas.
Ambos os candidatos majoritários à sucessão de George W. Bush, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, senadores, anunciaram que vão a Washington hoje, para a votação, prevista para depois do pôr-do-sol, em respeito ao fim do feriado de Ano Novo judaico. A possibilidade de a medida ser aprovada nessa Casa é maior, o que tende a aumentar a pressão em nova votação na Câmara, que pode acontecer amanhã.
Representantes do governo passaram o dia em negociações com líderes de ambas as Casas do Legislativo, após nova declaração pública de Bush sobre a crise. "Estou desapontado com o resultado", repetiu o republicano, ao citar a maior derrota política de seu mandato, "mas garanto aos nossos cidadãos e aos cidadãos do mundo que não é o fim do processo legislativo."
Bush disse que entendia a preocupação dos americanos com o valor do pacote proposto, que prevê gastos recordes de até US$ 700 bilhões. "Isso, sem dúvida, é uma grande quantia de dinheiro", disse. "Mas (...) a queda no mercado de ações ontem [segunda] representou mais de US$ 1 trilhão em perdas." Na seqüência, líderes da oposição democrata e do partido governista vieram a público reafirmar a disposição de voltar a negociar e aprovar o pacote até o fim da semana.
"Essa continua sendo nossa meta número 1", disse o democrata Harry Reid, líder da maioria no Senado, que disse ter passado o dia em conversas com Josh Bolten, chefe-de-gabinete de Bush. O presidente falou ao telefone também com Obama e McCain. "Estou prendendo meu nariz e votando a favor dessa medida por você", disse a senadora Hillary Clinton, ex-pré-candidata democrata à Presidência, indagada sobre o que diria aos eleitores.
De acordo com relatos vindos do Congresso, gabinetes de muitos republicanos que votaram contra a medida do governo receberam vários e-mails e telefonemas de eleitores pedindo que mudassem o voto, alguns de pequenos investidores que perderam dinheiro com a queda da Bolsa na segunda. "Acho que a mensagem dos mercados foi clara", disse o líder republicano do Senado, Mitch McConnell.
Além disso, o governo acenou com a possibilidade de fazer pequenos ajustes na proposta de lei, para acomodar pedidos da base governista. O jogo de cena político daria a justificativa necessária para os congressistas mudarem de idéia sem alienar seus eleitores. Segundo o relatório Cook, dos 11 republicanos que estão empatados nas disputas eleitorais de seus distritos, 9 votaram contra, assim como grande parte dos representantes de eleitorados pobres ou negros.
Em 4 de novembro, além do presidente, serão escolhidos todos os integrantes da Câmara dos Representantes e um terço do Senado. Segundo pesquisas, o plano proposto por Bush é impopular para a maioria.
Entre os pequenos ajustes, o mais bem recebido ganhou força ao longo do dia: a possibilidade de o valor máximo dos depósitos bancários garantidos pelo governo federal passar dos atuais US$ 100 mil para US$ 250 mil, como maneira de acalmar os correntistas e evitar corrida aos bancos.
O pedido de aumento, sem especificar novos limites, partiu da FDIC (órgão que garante operações do setor bancário). Foi enviado ao presidente do comitê de serviços financeiros da Câmara, democrata Barney Frank, e recebeu apoio dos dois candidatos presidenciais.
A FDIC calcula que 37% de todos os depósitos individuais em posse dos bancos hoje estejam acima do limite atual, um montante de US$ 2,6 trilhões. Para garantir os outros US$ 4,4 trilhões que se encaixam na categoria dos US$ 100 mil por cliente, o órgão conta com US$ 45 bilhões, mas pode tomar dinheiro emprestado do Tesouro num caso hoje improvável de corrida generalizada.
Até a conclusão dessa edição, ainda não estava claro o cronograma a ser seguido pela Câmara. O mais provável é que volte à votação a partir de amanhã.


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