São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Doação a políticos orientou votação na Câmara dos EUA

205 congressistas que apoiaram plano receberam mais da indústria financeira

Levantamento mostra que entre democratas que votaram pelo resgate tendência foi maior que entre republicanos

DE WASHINGTON

Os 205 congressistas que votaram a favor da proposta de resgate financeiro feita pelo governo Bush na segunda-feira receberam em média 51% mais doações das indústrias financeira, de seguridade e imobiliária do que os 228 contrários.
O levantamento é do Center for Responsive Politics, órgão não-governamental que examina o dinheiro recebido por políticos em eleições.
Entre os democratas, a diferença é ainda maior: os que votaram a favor da medida no partido de oposição receberam em média 78% mais do que os que votaram contra; entre os governistas, os que fecharam com o pacote de seu partido receberam em média 23% mais do que os que se rebelaram.
Parte da explicação vem do fato de entre os rebeldes muitos serem de primeira legislatura, políticos novatos que atraem menos doações, ou representantes de distritos pobres, o que também afugenta os grandes doadores. De qualquer maneira, além de maior derrota política do governo George W. Bush, o resultado de segunda-feira foi considerado também um grande tombo para a poderosa indústria do lobby, uma atividade legal no país.
"Parte do problema é que o Congresso tem dois ouvidos", disse Scott Talbott, vice-presidente sênior de assuntos governamentais da Financial Services Roundtable, que representa cem dos maiores nomes das instituições financeiras do país, à Associated Press. "Em um, ele ouve os eleitores perguntando: "Por que ajudar uma indústria que se machucou sozinha?". Em outra, ouve ameaça de recessão terrível vinda do governo."
Ele não disse que nas caixas de entrada de seus e-mails esses congressistas também entram em contato com outro apelo: da própria Financial Services Roundtable, que mesmo antes de o secretário do Tesouro, Henry Paulson, entregar suas duas páginas e meia de proposta para o Congresso, já estavam fazendo lobby para a ampliação do significado de "instituição financeira em dificuldade" na futura lei, como maneira de ampliar o número de empresas e setores que podem receber parte da ajuda federal de até US$ 700 bilhões.
Outro lobby que participou ativamente das operações de convencimento nos últimos dias foi o da Câmara de Comércio dos EUA, maior entidade do tipo no país, que reúne 3 milhões de empresas. Em carta aos congressistas, ameaçava os que votaram contra a medida: "Não se engane", dizia o texto, de acordo com o "New York Times". "Quando as conseqüências da inação do Congresso se tornarem claras, os americanos não vão tolerar aqueles que pararam e deixaram a calamidade acontecer."
Mas os telefonemas dos eleitores falaram mais alto que os telefonemas dos lobistas das indústrias doadoras, pelo menos para parte dos congressistas que votaram "não" e pelo menos por enquanto. A avaliação entre alguns deles era a de que o governo não fez sua parte e não vendeu direito o pacote que promove a maior intervenção federal no mercado financeiro da história do país de uma maneira palatável para o norte-americano médio.
Agora, para a nova rodada de votações, um time de relações públicas já trabalha para mudar a percepção do eleitor.
(SÉRGIO DÁVILA)



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