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Doação a políticos orientou votação na Câmara dos EUA
205 congressistas que apoiaram plano receberam mais da indústria financeira
Levantamento mostra que entre democratas que votaram pelo resgate tendência foi maior que entre republicanos
DE WASHINGTON
Os 205 congressistas que votaram a favor da proposta de
resgate financeiro feita pelo governo Bush na segunda-feira
receberam em média 51% mais
doações das indústrias financeira, de seguridade e imobiliária do que os 228 contrários.
O levantamento é do Center
for Responsive Politics, órgão
não-governamental que examina o dinheiro recebido por políticos em eleições.
Entre os democratas, a diferença é ainda maior: os que votaram a favor da medida no
partido de oposição receberam
em média 78% mais do que os
que votaram contra; entre os
governistas, os que fecharam
com o pacote de seu partido receberam em média 23% mais
do que os que se rebelaram.
Parte da explicação vem do
fato de entre os rebeldes muitos serem de primeira legislatura, políticos novatos que
atraem menos doações, ou representantes de distritos pobres, o que também afugenta os
grandes doadores. De qualquer
maneira, além de maior derrota política do governo George
W. Bush, o resultado de segunda-feira foi considerado também um grande tombo para a
poderosa indústria do lobby,
uma atividade legal no país.
"Parte do problema é que o
Congresso tem dois ouvidos",
disse Scott Talbott, vice-presidente sênior de assuntos governamentais da Financial Services Roundtable, que representa
cem dos maiores nomes das
instituições financeiras do país,
à Associated Press. "Em um, ele
ouve os eleitores perguntando:
"Por que ajudar uma indústria
que se machucou sozinha?". Em
outra, ouve ameaça de recessão
terrível vinda do governo."
Ele não disse que nas caixas
de entrada de seus e-mails esses congressistas também entram em contato com outro
apelo: da própria Financial Services Roundtable, que mesmo
antes de o secretário do Tesouro, Henry Paulson, entregar
suas duas páginas e meia de
proposta para o Congresso, já
estavam fazendo lobby para a
ampliação do significado de
"instituição financeira em dificuldade" na futura lei, como
maneira de ampliar o número
de empresas e setores que podem receber parte da ajuda federal de até US$ 700 bilhões.
Outro lobby que participou
ativamente das operações de
convencimento nos últimos
dias foi o da Câmara de Comércio dos EUA, maior entidade do
tipo no país, que reúne 3 milhões de empresas. Em carta
aos congressistas, ameaçava os
que votaram contra a medida:
"Não se engane", dizia o texto,
de acordo com o "New York Times". "Quando as conseqüências da inação do Congresso se
tornarem claras, os americanos
não vão tolerar aqueles que pararam e deixaram a calamidade
acontecer."
Mas os telefonemas dos eleitores falaram mais alto que os
telefonemas dos lobistas das
indústrias doadoras, pelo menos para parte dos congressistas que votaram "não" e pelo
menos por enquanto. A avaliação entre alguns deles era a de
que o governo não fez sua parte
e não vendeu direito o pacote
que promove a maior intervenção federal no mercado financeiro da história do país de uma
maneira palatável para o norte-americano médio.
Agora, para a nova rodada de
votações, um time de relações
públicas já trabalha para mudar a percepção do eleitor.
(SÉRGIO DÁVILA)
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