São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Governo estuda suavizar custo para exportadores

Uma das medidas seria o Tesouro bancar parte do dispêndio com o crédito mais caro

Outra medida é dar mais recursos ao BNDES para reforçar as linhas de crédito destinadas a financiar as exportações brasileiras

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo deve usar recursos do Tesouro Nacional para bancar parte do aumento de custo que os exportadores estão tendo com o encarecimento e a escassez dos empréstimos externos provocados pela crise no sistema financeiro dos EUA.
Além disso, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pode ganhar novos recursos do governo para reforçar suas linhas de crédito destinadas a financiar as exportações brasileiras.
As duas medidas estão sendo elaboradas pela equipe econômica por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve avaliá-las durante reunião de coordenação convocada para hoje pela manhã a fim de discutir os efeitos da crise americana no Brasil.
Chamada tecnicamente de "equalização dos juros", a ajuda do Tesouro por intermédio especialmente do Banco do Brasil tem o objetivo de garantir às empresas brasileiras um custo próximo ao que elas estavam pagando antes do agravamento das turbulências no mercado financeiro. Os exportadores tinham acesso a recursos captados lá fora a um custo bem baixo, mas a crise tornou esse dinheiro escasso e muito caro.
Entre 2005 e 2007, as instituições financeiras que operam com comércio exterior no Brasil conseguiam captar com outros bancos lá fora pagando, em média, cerca de 0,5% acima da Libor -a taxa de referência no mercado internacional. Com o prenúncio de agravamento da crise, esse custo adicional dobrou no primeiro semestre deste ano para 1,1%.
No auge do estresse após o anúncio, nos EUA, da falência do Lehman Brothers, ele disparou e bateu os 7,6% acima da Libor. Foi aí que o BC anunciou a venda de dólares no mercado.
Com isso, o custo caiu, mas ainda está em torno de 1,8%, quase quatro vezes o valor que era referência antes da crise. A Libor hoje está em 3,9% ao ano.
A principal alternativa à falta e ao encarecimento das linhas externas é obter os recursos no mercado interno, o que tem um custo ainda maior, já que os juros no Brasil estão elevados. Por isso, a idéia do governo de cobrir parte do aumento do custo dos exportadores.
Segundo a Folha apurou, a medida seria adotada em caráter transitório, valendo apenas durante o período em que o crédito continuar travado e caro, e não implica dispêndios imediatos, já que o Tesouro teria de entrar com sua parte apenas na data do pagamento dos empréstimos concedidos por meio das linhas de crédito aos exportadores, conhecidas como ACC e ACE.
Já no caso do BNDES, a iniciativa pode levar a cortes nos gastos de custeio para uma nova operação de capitalização do banco. A instituição está com sua capacidade de empréstimos praticamente esgotada, diante da demanda por financiamentos para investimentos.
Para destinar mais recursos a suas linhas de crédito de exportações, o banco precisa de um reforço de caixa, cujos estudos já foram determinados por Lula. Neste ano, o banco concedeu US$ 3,396 bilhões de janeiro a agosto nas linhas de crédito de comércio exterior.
Uma das empresas que devem se beneficiar do reforço do BNDES é a Embraer, que depende muito de financiamento.


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