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análise
Rejeição ao plano foi resposta do povo para a elite
CHRYSTIA FREELAND
DO "FINANCIAL TIMES"
Nesta semana, o povo
americano se rebelou contra
a sua elite. Essa é a grande
história política por trás da
surpreendente rejeição pelos deputados do plano de
resgate financeiro que foi arduamente -e, nos foi dito, de
modo vitorioso-remendado
no fim de semana.
Ninguém ficou muito animado com a proposta final.
Wall Street queria um plano
que desse bastante munição
para Henry Paulson, o secretário do Tesouro, e confiasse
que ele atiraria nos alvos certos. Os acadêmicos preferiam soluções que atingissem diretamente os problemas do sistema bancário,
com o governo recebendo
participações nas empresas.
Os ideólogos da direita e da
esquerda ficaram horrorizados com um pacote que, ao
mesmo tempo, aumentava o
poder do governo e salvava a
plutocracia financeira.
Mas, apesar das reservas, o
veredicto quase unânime daqueles que já foram chamados de os homens sábios nos
dois partidos, no governo, na
academia, nas empresas e na
mídia "mainstream" era que
o plano de Paulson seria, sem
nenhuma dúvida, certamente, absolutamente aprovado.
Eles ainda esperam que alguma versão do plano seja
aprovada. Como um veterano banqueiro e diplomata
me disse ontem: "Ele será
aprovado porque tem que
ser. Eles não podem fazer nada. O risco é grande demais."
Mas 205 deputados decidiram segunda que não acreditam no "establishment" político e econômico do país -e
votaram de acordo.
O julgamento econômico
desses legisladores pode estar errado, mas a discordância deles capturou precisamente a crescente raiva entre o eleitorado americano.
Os americanos têm bons
motivos para não confiarem
na sua elite. Os líderes políticos do país, liderados pela
Casa Branca de George W.
Bush, tornaram fácil acreditar que o governo americano
simplesmente não funciona.
Do furacão Katrina até a
Guerra do Iraque (pelo menos até antes da insurgência), passando pelo déficit orçamentário e a falta de uma
política de energia nacional,
Washington não parece estar entregando um serviço
muito bom para os cidadãos.
Nem os líderes empresariais parecem muito confiáveis neste momento. Mas,
antes mesmo do aperto do
crédito, o salário médio estava se estagnando, enquanto a
renda dos super-ricos decolava, criando a maior disparidade desde a era dourada (no
final do século 19).
Tudo isso torna fácil entender o sentimento bipartidário e amplamente disseminado de "vamos chutar para
fora esses bastardos".
Mas aqui vem o problema:
a atual crise financeira é global, de grande velocidade e
cruelmente sofisticada. É
exatamente o tipo de coisa
que precisa de tecnocratas
sofisticados e abnegados.
Mas, mesmo que os americanos encontrem os necessários gênios financeiros honrados -o que não será pouca
coisa-, poderão confiar neles? O destino da economia
global pode depender da resposta dessa questão.
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