São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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FMI teme agora nova onda recessiva

Em relatório, Fundo alerta para o risco de ciclo econômico em forma de W, com uma queda inicial, recuperação e nova queda à frente

Segundo o FMI, a economia global sofrerá uma retração de 1,1% em 2009; todos os países desenvolvidos devem fechar ano no vermelho

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou ontem para o risco de a economia global mergulhar novamente em uma recessão, levando o atual ciclo a assumir a forma de W -queda inicial, recuperação neste segundo semestre e nova queda mais à frente.
Em seu relatório "Panorama da Economia Global", o Fundo diz ainda que a atual recuperação será atípica, com desemprego elevado e baixos níveis de investimentos e consumo.
Para o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, o ciclo de reposição de estoques que vem puxando a atividade em vários países está chegando ao fim. E os consumidores, diz, estão "traumatizados" pela crise.
Segundo o FMI, a tendência é que as famílias aumentem seus níveis de poupança daqui em diante e que as empresas não invistam mais, pois já operam neste momento com grande capacidade ociosa.
"É preciso que a recuperação comece a se mover no sentido de um aumento do consumo e do investimento privado. E não está claro se isso se dará com força suficiente."
"O risco é a demanda privada não decolar, os gastos públicos começarem a diminuir e termos uma recessão com duas quedas seguidas."
O economista-chefe do Fundo afirma que "a boa notícia" é que é possível dizer que o mundo já deixou a recessão para trás. Mas que só é garantido prever o que ocorrerá "apenas nos seis meses à frente. Depois disso, não sabemos".
No relatório apresentado ontem, o FMI estima que a economia global sofra uma retração de 1,1% em 2009. No cenário otimista (que descarta a recessão em forma de W), o mundo cresceria 3,1% em 2010 puxado pelos países emergentes.
Neste ano, todas as economias avançadas devem fechar no vermelho, algumas com quedas superiores a 4% (Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido). No ano que vem, a maioria também cresceria a taxas muito próximas de zero.
Já os emergentes cresceriam, segundo o Fundo, 1,7% em 2009 e 5,1% em 2010. Entre eles, a China liderará o bloco, com um crescimento estimado de 8,5% neste ano e de 9% em 2010. Já o Brasil, segundo o Fundo, encolheria 0,7% neste ano e cresceria 2,5% no ano que vem.
Apesar da previsão de recuperação no melhor cenário, o Fundo projeta que os níveis de desemprego em vários países continuarão a subir até o final de 2010.
"Diante de uma demanda e receitas em baixa, grande capacidade ociosa e aperto no crédito, as empresas do setor não-financeiro continuarão demitindo. Um aumento da utilização da capacidade instalada e de investimentos que poderiam lastrear a volta do emprego parecem muito distante", diz o relatório do Fundo.
O Fundo diz que os governos e bancos centrais devem "estar preparados" para, se necessário, voltarem a gastar mais dinheiro público para sustentar uma recuperação da qual o setor privado pode não dar conta.


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