São Paulo, quinta, 1 de outubro de 1998

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MERCADO TENSO
Michel Mussa, economista-chefe do Fundo, diz que medidas fiscais são insuficientes para repor confiança
Para FMI, Brasil precisa de apoio externo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acha que, sozinho, o conjunto de medidas fiscais preparadas pelo governo brasileiro para 1999 não é suficiente para o país recuperar a confiança e o capital dos investidores estrangeiros.
Segundo o economista-chefe da instituição, Michel Mussa, "no atual adverso ambiente financeiro, confiar apenas em medidas fiscais pode não bastar; um substancial pacote de apoio financeiro externo pode ser útil para ajudar os esforços das autoridades brasileiras".
As declarações foram feitas durante entrevista coletiva em Washington para apresentar a nova versão do relatório do FMI sobre as perspectivas da economia mundial para os próximos 18 meses.
O relatório afirma que a situação econômica internacional e as condições financeiras se deterioraram "consideravelmente" nos últimos meses, em decorrência do agravamento da recessão na Ásia e das crises no Japão e na Rússia.
O crescimento da economia mundial em 1998 será de 2%, segundo a nova avaliação do Fundo, metade da previsão feita em maio. Para o Brasil, a previsão de crescimento agora é de 1,8% em 1998.
A América Latina foi a região mais afetada pelos respingos dos problemas da Ásia. Mussa acha que o pânico dos investidores estrangeiros pode se prolongar por bastante tempo e o fluxo de capitais para o mercado latino-americano se estender por algum tempo.

Crise russa
Mussa disse que, na sua opinião, o governo brasileiro demorou para reagir à crise da Rússia em julho, ao contrário do que fizera em outubro de 1997, quando os problemas tiveram início na Ásia.
Mas, em resposta a outra pergunta na coletiva, o economista reconheceu que acontecimentos como os dos últimos meses são raros, provocam pânico e "não se deve adotar políticas monetárias apressadas nessas condições".
Há consenso entre técnicos do FMI e do governo brasileiro em relação à identificação do principal problema do país (o crescimento de seu déficit fiscal) e de sua melhor solução (medidas de ajuste fiscal rigorosas, como as já anunciadas).
Mussa afirmou que os termos do pacote de ajuda ao Brasil já estão sendo discutidos, mas que os seus detalhes ainda precisam ser elaborados. Ele não falou em quantias.
Em Washington, as estimativas são de que o pacote vai ser de valor em torno de US$ 30 bilhões e terá a participação, além do FMI, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e provavelmente de bancos privados. Uma vez acertados os termos do acordo, levará cerca de seis semanas até ser implementado.
Na opinião de Mussa, o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, continuará a reduzir as taxas de juros nos EUA nos próximos meses. Ele recomendou que o Fed reavalie a situação a cada seis semanas para tomar decisões.
Ele ainda acha que "90% dos bancos centrais do mundo" também reduzirão taxas nacionais de juros em breve para evitar uma recessão mundial e brincou: "Para vocês verem que o FMI nem sempre defende políticas de aperto".
Sobre os juros no Brasil, Mussa disse que eles não podem se manter "por muito tempo" nos níveis atuais e que se espera que as "vigorosas medidas" propostas pelo governo e o pacote de ajuda internacional restaurem a confiança e permitam a redução dos juros.
Apesar dos problemas atuais, Mussa é otimista em relação a 1999, quando o crescimento da economia mundial deverá ganhar algum ímpeto, ainda que modesto, e os riscos de crise diminuirão.
Embora todos os países da América Latina estejam sofrendo com a crise global, a Argentina é, segundo Mussa, um dos menos afetados. Ele disse que a confiança na moeda daquele país sobreviveu aos problemas e não há indicação de fuga significativa de capital de lá.
Mas, "se um acidente acontecer com o Brasil, provocará um grande impacto na Argentina", disse.



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