|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO TENSO
Michel Mussa, economista-chefe do Fundo, diz que medidas fiscais são insuficientes para repor confiança
Para FMI, Brasil precisa de apoio externo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
O Fundo Monetário Internacional (FMI) acha que, sozinho, o
conjunto de medidas fiscais preparadas pelo governo brasileiro
para 1999 não é suficiente para o
país recuperar a confiança e o capital dos investidores estrangeiros.
Segundo o economista-chefe da
instituição, Michel Mussa, "no
atual adverso ambiente financeiro, confiar apenas em medidas fiscais pode não bastar; um substancial pacote de apoio financeiro externo pode ser útil para ajudar os
esforços das autoridades brasileiras".
As declarações foram feitas durante entrevista coletiva em Washington para apresentar a nova
versão do relatório do FMI sobre
as perspectivas da economia mundial para os próximos 18 meses.
O relatório afirma que a situação
econômica internacional e as condições financeiras se deterioraram
"consideravelmente" nos últimos
meses, em decorrência do agravamento da recessão na Ásia e das
crises no Japão e na Rússia.
O crescimento da economia
mundial em 1998 será de 2%, segundo a nova avaliação do Fundo,
metade da previsão feita em maio.
Para o Brasil, a previsão de crescimento agora é de 1,8% em 1998.
A América Latina foi a região
mais afetada pelos respingos dos
problemas da Ásia. Mussa acha
que o pânico dos investidores estrangeiros pode se prolongar por
bastante tempo e o fluxo de capitais para o mercado latino-americano se estender por algum tempo.
Crise russa
Mussa disse que, na sua opinião,
o governo brasileiro demorou para reagir à crise da Rússia em julho, ao contrário do que fizera em
outubro de 1997, quando os problemas tiveram início na Ásia.
Mas, em resposta a outra pergunta na coletiva, o economista
reconheceu que acontecimentos
como os dos últimos meses são raros, provocam pânico e "não se
deve adotar políticas monetárias
apressadas nessas condições".
Há consenso entre técnicos do
FMI e do governo brasileiro em relação à identificação do principal
problema do país (o crescimento
de seu déficit fiscal) e de sua melhor solução (medidas de ajuste
fiscal rigorosas, como as já anunciadas).
Mussa afirmou que os termos do
pacote de ajuda ao Brasil já estão
sendo discutidos, mas que os seus
detalhes ainda precisam ser elaborados. Ele não falou em quantias.
Em Washington, as estimativas
são de que o pacote vai ser de valor
em torno de US$ 30 bilhões e terá a
participação, além do FMI, do
Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e
provavelmente de bancos privados. Uma vez acertados os termos
do acordo, levará cerca de seis semanas até ser implementado.
Na opinião de Mussa, o Federal
Reserve (Fed), banco central norte-americano, continuará a reduzir as taxas de juros nos EUA nos
próximos meses. Ele recomendou
que o Fed reavalie a situação a cada seis semanas para tomar decisões.
Ele ainda acha que "90% dos
bancos centrais do mundo" também reduzirão taxas nacionais de
juros em breve para evitar uma recessão mundial e brincou: "Para
vocês verem que o FMI nem sempre defende políticas de aperto".
Sobre os juros no Brasil, Mussa
disse que eles não podem se manter "por muito tempo" nos níveis
atuais e que se espera que as "vigorosas medidas" propostas pelo
governo e o pacote de ajuda internacional restaurem a confiança e
permitam a redução dos juros.
Apesar dos problemas atuais,
Mussa é otimista em relação a
1999, quando o crescimento da
economia mundial deverá ganhar
algum ímpeto, ainda que modesto, e os riscos de crise diminuirão.
Embora todos os países da América Latina estejam sofrendo com
a crise global, a Argentina é, segundo Mussa, um dos menos afetados. Ele disse que a confiança na
moeda daquele país sobreviveu
aos problemas e não há indicação
de fuga significativa de capital de
lá.
Mas, "se um acidente acontecer
com o Brasil, provocará um grande impacto na Argentina", disse.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|