São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2001

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ECONOMIA DE GUERRA

PIB dos Estados Unidos tem queda de 0,4% na taxa anualizada do terceiro trimestre, a maior desde 91

EUA registram maior freada em dez anos

DA REDAÇÃO

Era uma das notícias mais previsíveis (e antecipadas) do ano, mas foi menos negativa do que o imaginado. Tanto que o maior recuo no PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano nos últimos dez anos foi recebido com tranquilidade, e até com uma dose de otimismo, pelos investidores de Wall Street -o termômetro mais imediato da economia do país.
No terceiro trimestre do ano, a economia dos EUA encolheu 0,4%, a maior queda da taxa anualizada desde 1991. Naquele ano, os norte-americanos viviam seu último período recessivo. Desde então, a economia só havia retraído no primeiro trimestre de 93. Com a queda no último trimestre, chegou ao fim o período mais logo de expansão do país, que se estendeu por 99 meses.
A questão cuja resposta divide os analistas é se haverá uma ligeira recuperação até o final do ano ou se, no último trimestre, ocorrerá nova queda no PIB, o que caracterizaria uma recessão.
O recuo de 0,4% é um dado preliminar do Departamento de Comércio, que deverá ser revisado. A aposta geral entre os analistas era que haveria queda de 1%.
"Não é o fim do mundo", afirmou Charles Lieberman, economista-chefe da Advisor Financial. "É o sinal do início de uma recessão, mas fiquei surpreso, porque a queda foi menor do que tínhamos imaginado", disse Chris Rupkey, do banco Tokyo/Mitsubishi.

Pé no freio
Entre abril e junho, a economia dos EUA havia crescido, mas a um ritmo tímido de 0,3%, o que já sinalizava uma forte freada na atividade antes dos ataques de 11 de setembro. No segundo trimestre de 2000, os EUA ainda cresciam rapidamente (5,8%), impulsionados pelo boom da informática.
De acordo com Lieberman, um dos aspectos positivos do relatório do Departamento de Comércio é que os atentados parecem ter afetado mais a produção do que o consumo. Daí, conclui o analista, deverá haver margem para aumento na produção industrial nos próximos meses.
Entre julho e setembro, as empresas investiram 11,9% menos. Foi o terceiro recuo trimestral em gastos com novos equipamentos e instalações. O consumo cresceu 1,2% entre julho e setembro.
Ainda que tenham aumentado pouco, os gastos dos norte-americanos (que representam dois terços do PIB do país) evitaram um tombo mais acentuado da economia. O problema é que, com o aumento do desemprego, as pessoas estão começando a fechar a carteira. A confiança do consumidor do país, de acordo com relatório divulgado anteontem, caiu ao menor nível deste 94.
O relatório do Departamento de Comércio mostra ainda que o comércio internacional sofreu a maior queda em quase duas décadas. Tanto importações como exportações foram cerca de 15% menores no período.

Pacote
O presidente George W. Bush aproveitou para pressionar o Congresso, mais uma vez, a aprovar o pacote de estímulo à economia. "Os norte-americanos estão passando por tempos difíceis. Estão perdendo empregos, e isso me preocupa", afirmou Bush, ontem. "O Congresso precisa votar o pacote e colocá-lo na minha mesa [para ser sancionado" antes do final de novembro", completou o presidente norte-americano.
O plano de ajuda financeira, traçado sobretudo pelo Partido Republicano (de Bush) e baseado em isenção de impostos, tem enfrentado oposição dos democratas. Na semana passada, ele foi aprovado na Câmara, por uma estreita margem. Agora está no Senado, cuja maioria é democrata.
No formato em que passou na Câmara, o pacote chega a US$ 100 bilhões, acima do que gostaria Bush (entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões). Mas os senadores deverão fazer emendas ao projeto. Ontem, a bancada republicana no Senado disse que defenderia um plano emergencial de US$ 90 bilhões. Um socorro emergencial de cerca de US$ 55 bilhões já foi aprovado e assinado.
Glen Hubbard, principal conselheiro econômico de Bush, disse que a probabilidade de o país mergulhar em um período recessivo cresceu bastante. "Não há como negar isso", afirmou Hubbard, em entrevista à CNN. "Mas acho que ainda é cedo para afirmar que já estamos em recessão."
Também ontem, Paul O'Neill, secretário do Tesouro, disse que a recuperação da economia pode se dar ainda neste ano, caso o pacote seja assinado logo. "Ainda há argumentos plausíveis de que haja crescimento moderado no último trimestre", afirmou.


Com agências internacionais


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