São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Restrição ao crédito é a maior preocupação dos empresários

A restrição ao crédito é hoje a maior preocupação do empresariado brasileiro. Essa conclusão foi constatada ontem durante dois encontros, em São Paulo, de diversos empresários com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Na parte da manhã, Mantega se reuniu com empresários do Iedi, e, à tarde, com os presidentes das principais montadoras do país.
Nos dois encontros, os empresários manifestaram forte preocupação com os efeitos da paralisia do crédito sobre a atividade econômica.
Os empresários elogiaram as medidas tomadas pelo governo para injetar liquidez no mercado, mas disseram que elas não foram suficientes para reverter esse quadro. A situação do crédito continuava difícil.
O interessante é que, no mês de outubro, os números do consumo ainda não tinham sido muito abalados pelas dificuldades do crédito. A retração das vendas tinha sido muito pequena ou até irrelevante.
A maior preocupação mesmo é com o que pode acontecer com a economia a partir do ano que vem. Até o final deste ano, o 13º salário e o período de festas devem sustentar as vendas num patamar elevado, mas, depois, espera-se uma desaceleração bastante forte.
As montadoras já manifestam uma preocupação maior. O problema é que 70% das vendas tanto de carros novos como usados são financiadas, o que justifica a apreensão do setor.
Os números de outubro das vendas de automóveis só serão conhecidos na segunda, mas se espera uma queda em relação a setembro, quebrando um ciclo de alta de um tempo bastante grande. A reunião contou com a presença do presidente do BC, Henrique Meirelles.
Nos dois encontros, Mantega afirmou que o governo irá fazer todos os esforços para preservar o mercado interno. Disse que iria acionar os bancos públicos -Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal- para socorrer as empresas.

TRIBUTO
Será lançado na terça-feira, em São Paulo, o livro "Fundamentos do Imposto de Renda" (Editora Quartier Latin, 1.160 págs.), do advogado tributarista Ricardo Mariz de Oliveira. O livro aborda a importância do patrimônio para o conceito de Imposto de Renda, a base de cálculo, entre outros temas. O prefácio é de Luís Eduardo Schoueri, professor titular de direito tributário da Universidade de São Paulo.

REAÇÃO EM CADEIA
Um dos sinais mais fortes que levaram a Vale a suspender parte da produção foi dado pelo seu principal cliente, a Arcelor Mittal, a maior siderúrgica do mundo. A empresa enfrenta uma grave crise e já avisou à Vale que todos os embarques de minério da Vale estão cancelados de outubro a dezembro. O motivo foi problema de liquidez. A crise é braba.

NA PAUTA
Começa, terça, em Nova York, o Business Social Responsability Conference, encontro mundial de responsabilidade corporativa, com patrocínio do grupo ABC de Comunicação. Na pauta, o impacto da crise global e do novo presidente dos EUA na agenda da sustentabilidade. Participarão Jeffrey Immelt, da GE, Anders Dahlvig, presidente da Ikea, e outros.

CENÁRIO

DEMANDA POR SOFTWARE QUE AVALIA E MEDE RISCO DE CARTEIRA DOBRA
Bernardo Gomes, presidente da Senior Solution, que desenvolve software para o mercado financeiro, notou que a procura por seu programa de avaliação online de carteiras de crédito, voltado a gestores de carteira, dobrou nos últimos 40 dias. Com a demanda maior na crise, lançou neste mês um software que também analisa o risco dos investimentos em diversos cenários e já vendeu cinco licenças. Agora, quer estender o produto a pessoas físicas e empresas.

COM ATRASO
Marcelo Felmanas, dono da 6F Decorações, uma importadora de objetos e móveis de luxo, que vende para multimarcas do país, pela insegurança que a crise provocou, pediu para atrasar o embarque de mercadorias enquanto espera o próximo pico de vendas, em janeiro. "A falta de previsibilidade atrapalha." Felmanas, que congelou os embarques há cerca de um mês, quando o dólar disparou, diz que a estratégia tem valido a pena.

BOLA DE NEVE
Segundo Mauro Batista, presidente do Sindseg SP (Sindicato das Seguradoras, Previdência e Capitalização do Estado de São Paulo), a piora da crise, que ainda vem por aí, não vai escolher vítima. "Vai atingir a todos." No setor de seguros, Batista afirma que a solidez das operadoras está garantida porque as reservas estão protegidas, por conta da legislação brasileira, que restringe aplicações em Bolsa. "Ao contrário do que ocorreu no cenário americano, as seguradoras aqui têm uma blindagem, pela própria lei, que não permite determinados modelos de gestão de ativos." Mesmo assim, Batista diz que o desempenho do setor no Brasil será afetado. "Com a perda do poder de compra do brasileiro, não poderemos crescer como foi projetado e seguir o modelo dos últimos anos. A alta dos custos será inevitável."

MUDANÇA
Circulam fortes rumores no mercado de mudanças na diretoria do Ibama. Valter Muchagata, atual coordenador-geral de área de energia elétrica de licenciamento ambiental, deve ser substituído por Leozildo Tabajara, superintendente do órgão em Rondônia e ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP). Nas mãos dele estará a decisão sobre a aprovação da licença da obra da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira. O leilão para construção da usina foi vencido por Camargo Corrêa e Suez. O Ibama disse que, até o momento, não foi informado sobre mudanças na diretoria.

PROTEGIDOS
Um dos pontos altos da reunião de ontem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com empresários do Iedi, em São Paulo, foi a seguinte frase de Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. "A atitude de máxima proteção individual hoje é o suicídio coletivo."

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


Próximo Texto: Vale corta produção e dá férias coletivas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.