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PIB sobe 0,5% e se afasta da meta oficial
Com real valorizado, setor externo contribui negativamente no 3º tri; agropecuária e investimentos são destaques positivos
Economia precisaria crescer mais de 5% no 4º trimestre para atingir previsão do governo de 3,2%, o que, para analistas, é improvável
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,5% do segundo
para o terceiro trimestre, e o resultado praticamente enterra
as esperanças do governo de
atingir a meta de expansão de
3,2% da economia neste ano. As
principais travas foram o real
forte - que estimula as importações e segura as exportações- e a agricultura, que se recuperou um pouco neste trimestre, mas teve desempenho
ruim no primeiro semestre.
Segundo dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o crescimento no terceiro trimestre ficou em 3,2% na comparação
com o terceiro trimestre de
2005. Se mantiver o mesmo ritmo no último trimestre, o PIB
fechará 2006 em 2,7% -pouco
acima dos 2,3% de 2005.
Para bater na meta de 3,2%, a
expansão tem de acelerar para
5,2% nos três últimos meses do
ano, nível que não é alcançado
desde o terceiro trimestre de
2004 (5,9%). Mas, em 2004, a
economia estava mais aquecida
e o PIB cresceu 4,9%.
Especialistas crêem num
maior dinamismo neste trimestre. Mas a aceleração será
insuficiente para alcançar um
PIB maior do que 3% -teto das
projeções. No acumulado do
ano (janeiro a setembro), a economia avançou 2,5%. Considerando os quatro últimos trimestres, a alta ficou em 2,3%.
"É muito, muito difícil atingir a meta. Para isso, a expansão
teria de ser muito forte. Acho
que é impossível crescer 3,2%
neste ano", disse Solange
Srour, economista-chefe da
Mellon Global Investments,
que espera 2,8% neste ano.
Os dados do terceiro trimestre ficaram próximos da média
das projeções de mercado, que
indicavam uma alta do PIB em
torno de 0,5%. "O resultado é
decepcionante, mas não surpreendente. Dificilmente chegaremos aos 3%, apesar de dados que já mostram que o último trimestre do ano será melhor", disse Ana Maria Castelo,
economista da GV Consult.
Para a economista, o câmbio
e o fraco desempenho agrícola,
especialmente na primeira metade do ano, foram as principais
travas do PIB em 2006.
O destaque positivo, sob a
ótica da demanda, foram os investimentos, que subiram 2,5%
do segundo para o terceiro trimestre, já excluídos os efeitos
sazonais. Pelo lado da produção, a agropecuária surpreendeu positivamente, com alta de
1,1%. O consumo das famílias
também foi bem, embora esteja
em desaceleração. A alta foi
igual à do PIB -0,5%, a 13ª alta
trimestral seguida.
Sob impacto da valorização
do real, o setor externo, por sua
vez, inibiu o crescimento da
economia no terceiro trimestre, com as importações aumentando num ritmo bem
mais forte (20% ante o terceiro
trimestre de 2005) do que as
exportações (7,5%).
Para Rebeca Palis, gerente
das Contas Nacionais do IBGE,
o câmbio é "o principal fator"
para o menor dinamismo das
exportações e para a expansão
das importações: "É óbvio que a
contribuição do setor externo
para o PIB tem sido, desde o
primeiro trimestre deste ano,
sistematicamente negativa".
Bráulio Borges, economista
da LCA, afirma que será muito
difícil para o governo bater a
meta de crescimento de 3,2%
num cenário em que o setor externo joga o PIB para baixo.
"Para crescer 3,2%, o PIB tem
de subir mais de 2% na margem, o que é muito raro, ainda
mais com o setor externo com
contribuição muito negativa."
O lado positivo é que o câmbio valorizado, diz Palis, impulsiona as importações de bens
de capital, o que favorece o aumento futuro da capacidade
produtiva do país e alavanca os
investimentos na economia.
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