São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PIB sobe 0,5% e se afasta da meta oficial

Com real valorizado, setor externo contribui negativamente no 3º tri; agropecuária e investimentos são destaques positivos

Economia precisaria crescer mais de 5% no 4º trimestre para atingir previsão do governo de 3,2%, o que, para analistas, é improvável


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,5% do segundo para o terceiro trimestre, e o resultado praticamente enterra as esperanças do governo de atingir a meta de expansão de 3,2% da economia neste ano. As principais travas foram o real forte - que estimula as importações e segura as exportações- e a agricultura, que se recuperou um pouco neste trimestre, mas teve desempenho ruim no primeiro semestre.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o crescimento no terceiro trimestre ficou em 3,2% na comparação com o terceiro trimestre de 2005. Se mantiver o mesmo ritmo no último trimestre, o PIB fechará 2006 em 2,7% -pouco acima dos 2,3% de 2005.
Para bater na meta de 3,2%, a expansão tem de acelerar para 5,2% nos três últimos meses do ano, nível que não é alcançado desde o terceiro trimestre de 2004 (5,9%). Mas, em 2004, a economia estava mais aquecida e o PIB cresceu 4,9%.
Especialistas crêem num maior dinamismo neste trimestre. Mas a aceleração será insuficiente para alcançar um PIB maior do que 3% -teto das projeções. No acumulado do ano (janeiro a setembro), a economia avançou 2,5%. Considerando os quatro últimos trimestres, a alta ficou em 2,3%.
"É muito, muito difícil atingir a meta. Para isso, a expansão teria de ser muito forte. Acho que é impossível crescer 3,2% neste ano", disse Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments, que espera 2,8% neste ano.
Os dados do terceiro trimestre ficaram próximos da média das projeções de mercado, que indicavam uma alta do PIB em torno de 0,5%. "O resultado é decepcionante, mas não surpreendente. Dificilmente chegaremos aos 3%, apesar de dados que já mostram que o último trimestre do ano será melhor", disse Ana Maria Castelo, economista da GV Consult.
Para a economista, o câmbio e o fraco desempenho agrícola, especialmente na primeira metade do ano, foram as principais travas do PIB em 2006.
O destaque positivo, sob a ótica da demanda, foram os investimentos, que subiram 2,5% do segundo para o terceiro trimestre, já excluídos os efeitos sazonais. Pelo lado da produção, a agropecuária surpreendeu positivamente, com alta de 1,1%. O consumo das famílias também foi bem, embora esteja em desaceleração. A alta foi igual à do PIB -0,5%, a 13ª alta trimestral seguida.
Sob impacto da valorização do real, o setor externo, por sua vez, inibiu o crescimento da economia no terceiro trimestre, com as importações aumentando num ritmo bem mais forte (20% ante o terceiro trimestre de 2005) do que as exportações (7,5%).
Para Rebeca Palis, gerente das Contas Nacionais do IBGE, o câmbio é "o principal fator" para o menor dinamismo das exportações e para a expansão das importações: "É óbvio que a contribuição do setor externo para o PIB tem sido, desde o primeiro trimestre deste ano, sistematicamente negativa".
Bráulio Borges, economista da LCA, afirma que será muito difícil para o governo bater a meta de crescimento de 3,2% num cenário em que o setor externo joga o PIB para baixo. "Para crescer 3,2%, o PIB tem de subir mais de 2% na margem, o que é muito raro, ainda mais com o setor externo com contribuição muito negativa."
O lado positivo é que o câmbio valorizado, diz Palis, impulsiona as importações de bens de capital, o que favorece o aumento futuro da capacidade produtiva do país e alavanca os investimentos na economia.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Número do 2º tri é revisado para baixo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.