São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Quebra do Lehman elimina vagas e atrai brasileiros de volta ao país

Percepção é que cenário no mercado financeiro brasileiro ainda é mais favorável

JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um enxugamento menos intenso do que no exterior, o mercado de trabalho brasileiro atraiu de volta profissionais que deixaram o Brasil no passado para fazer carreira no mercado financeiro em Nova York e Londres em busca de altos salários e bonificações.
A quebra do Lehman Brothers foi um marco para a avalanche de retornos de brasileiros expatriados. Mas o mercado já havia começado a azedar há mais de um ano.
Cerca de 130 mil vagas em serviços financeiros foram abolidas até agora nos Estados Unidos desde seu pico, em dezembro de 2006, quando alcançava 6,18 milhões de postos.
Paulo Alexandre Rodrigues, que tem MBA na London Business School, trabalhava em Londres no Libertas Capital, um banco de investimento no qual levantava recursos com investidores para empresas de pequeno porte, pequena liquidez e, portanto, alto risco.
Rodrigues saltou da crise no primeiro semestre. Os investidores começaram a diminuir em abril, e a instituição em que o brasileiro trabalhava teve uma forte queda nessas operações, sendo forçada a fechar escritórios e cortar funcionários.
Foi aí que a empresa ofereceu incentivos a quem tivesse interesse em se desligar voluntariamente. "Eu já tinha decidido que voltaria ao Brasil por razões pessoais, então acabei agarrando a oferta", diz Rodrigues, que deixou o país em 11 de agosto "vendo amigos perderem emprego na área de crédito". Com a queda das Bolsas, os IPOs (aberturas de capital) estacionaram e o banco no qual ele trabalhava registrou perdas no primeiro semestre. Hoje, Rodrigues busca vaga no país.

Recrutamento
Antes da concordata do Lehman Brothers, a empresa de recrutamento Robert Half era procurada por esses profissionais só cinco vezes por mês. De lá para cá, o número de contatos disparou. Segundo Fernando Mantovani, diretor da empresa no Brasil, desde então já recebeu cerca de 250 contatos. "Antes, o motivo para quererem voltar era de ordem pessoal, familiar. Quem volta hoje o faz porque o mercado lá fora está ruim e aqui há chance de crescimento e manutenção do emprego. Muitos acabaram perdendo o lugar lá fora", diz.
Ricardo Bevilacqua, diretor-geral da Robert Half, afirma que esses brasileiros expatriados não costumavam colocar currículo no mercado, como ex-funcionários do Bear Stearns e do próprio Lehman.
"Eles dificilmente ficavam procurando emprego e, quando voltavam, estavam com carreira alavancada", diz Mantovani. "Antes, quando o mercado estava bom, esses profissionais exigiam muito das instituições, queriam remunerações agressivas. Agora não precisam mais receber proposta significativamente mais vantajosa."
De acordo com o Itamaraty, há uma percepção de aumento do movimento de retorno de brasileiros, principalmente dos Estados Unidos, ao longo de 2008, motivados por razões econômicas.
Camila Detomi deixou o HSBC em Londres, em setembro, quando recebeu convite para vir trabalhar na estruturação da área de renda fixa internacional do Banco Safra de Investimento. "Eu vejo o mercado financeiro no Brasil se desenvolvendo e o mercado de Londres praticamente parado."
Detomi diz que, na sua turma de MBA na London Business School, no primeiro semestre, muitos nem chegaram a receber propostas de trabalho -era muito comum receber antes da crise. "Lá, há poucos negócios ocorrendo, e muitos bancos para disputar tais negócios."
O Brasil ainda é um cenário mais favorável, segundo ela. "Aqui a crise chegou há pouco. Lá, o mercado está pesado desde agosto de 2007."


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