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Quebra do Lehman elimina vagas e atrai brasileiros de volta ao país
Percepção é que cenário no mercado financeiro brasileiro ainda é mais favorável
JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um enxugamento menos intenso do que no exterior,
o mercado de trabalho brasileiro atraiu de volta profissionais
que deixaram o Brasil no passado para fazer carreira no mercado financeiro em Nova York
e Londres em busca de altos salários e bonificações.
A quebra do Lehman Brothers foi um marco para a avalanche de retornos de brasileiros expatriados. Mas o mercado já havia começado a azedar
há mais de um ano.
Cerca de 130 mil vagas em
serviços financeiros foram abolidas até agora nos Estados
Unidos desde seu pico, em dezembro de 2006, quando alcançava 6,18 milhões de postos.
Paulo Alexandre Rodrigues,
que tem MBA na London Business School, trabalhava em
Londres no Libertas Capital,
um banco de investimento no
qual levantava recursos com
investidores para empresas de
pequeno porte, pequena liquidez e, portanto, alto risco.
Rodrigues saltou da crise no
primeiro semestre. Os investidores começaram a diminuir
em abril, e a instituição em que
o brasileiro trabalhava teve
uma forte queda nessas operações, sendo forçada a fechar escritórios e cortar funcionários.
Foi aí que a empresa ofereceu incentivos a quem tivesse
interesse em se desligar voluntariamente. "Eu já tinha decidido que voltaria ao Brasil por razões pessoais, então acabei
agarrando a oferta", diz Rodrigues, que deixou o país em 11 de
agosto "vendo amigos perderem emprego na área de crédito". Com a queda das Bolsas, os
IPOs (aberturas de capital) estacionaram e o banco no qual
ele trabalhava registrou perdas
no primeiro semestre. Hoje,
Rodrigues busca vaga no país.
Recrutamento
Antes da concordata do Lehman Brothers, a empresa de recrutamento Robert Half era
procurada por esses profissionais só cinco vezes por mês. De
lá para cá, o número de contatos disparou. Segundo Fernando Mantovani, diretor da empresa no Brasil, desde então já
recebeu cerca de 250 contatos.
"Antes, o motivo para quererem voltar era de ordem pessoal, familiar. Quem volta hoje
o faz porque o mercado lá fora
está ruim e aqui há chance de
crescimento e manutenção do
emprego. Muitos acabaram
perdendo o lugar lá fora", diz.
Ricardo Bevilacqua, diretor-geral da Robert Half, afirma
que esses brasileiros expatriados não costumavam colocar
currículo no mercado, como
ex-funcionários do Bear
Stearns e do próprio Lehman.
"Eles dificilmente ficavam
procurando emprego e, quando
voltavam, estavam com carreira alavancada", diz Mantovani.
"Antes, quando o mercado estava bom, esses profissionais
exigiam muito das instituições,
queriam remunerações agressivas. Agora não precisam mais
receber proposta significativamente mais vantajosa."
De acordo com o Itamaraty,
há uma percepção de aumento
do movimento de retorno de
brasileiros, principalmente dos
Estados Unidos, ao longo de
2008, motivados por razões
econômicas.
Camila Detomi deixou o
HSBC em Londres, em setembro, quando recebeu convite
para vir trabalhar na estruturação da área de renda fixa internacional do Banco Safra de Investimento. "Eu vejo o mercado financeiro no Brasil se desenvolvendo e o mercado de
Londres praticamente parado."
Detomi diz que, na sua turma
de MBA na London Business
School, no primeiro semestre,
muitos nem chegaram a receber propostas de trabalho -era
muito comum receber antes da
crise. "Lá, há poucos negócios
ocorrendo, e muitos bancos para disputar tais negócios."
O Brasil ainda é um cenário
mais favorável, segundo ela.
"Aqui a crise chegou há pouco.
Lá, o mercado está pesado desde agosto de 2007."
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