São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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País pode crescer só 0,5% em 2009, diz ONU

Previsão leva em conta agravamento da crise financeira; no cenário otimista, organismo prevê expansão de 3% para o Brasil

Para autor de estudo, "a cada dia que passa, o mundo se aproxima mais do cenário pessimista", em que os EUA teriam retração de 1,9%

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA

O Brasil poderá ter crescimento econômico quase nulo em 2009, caso se materialize o cenário pessimista traçado pelas Nações Unidas ante o agravamento da crise financeira.
Se as condições continuarem a piorar e em seis meses os pacotes lançados por vários governos no mundo não surtirem o efeito de estimular o consumo e a produção e destravar o crédito, a previsão da ONU é que o PIB brasileiro tenha expansão de apenas 0,5% em 2009 e que a economia global recue 0,4%. As projeções, antecipadas ontem em Doha, estão no relatório anual da organização sobre as perspectivas econômicas mundiais, que será divulgado em janeiro.
Como de hábito, o estudo tem três cenários: o base, o otimista e o pessimista. No cenário base, o crescimento econômico do Brasil em 2009 ficaria em 2,9%, pouco abaixo da estimativa atual do FMI (Fundo Monetário Internacional), de 3%. É justamente de 3% o percentual "otimista" da ONU.
Há pouco mais de uma semana, em conversa com a Folha na Alemanha, o presidente do BC, Henrique Meirelles, classificou de "conservadora" a previsão do FMI, dando a entender que espera mais de 3%. Analistas consultados semanalmente pelo BC prevêem expansão de 3% em 2009.
Seja como for, será uma queda significativa para o Brasil, que cresceu 5,4% em 2007 e, segundo a ONU, crescerá 5,1% neste ano. Para o autor do estudo, Rob Vos, "a cada dia que passa, o mundo se aproxima mais do cenário pessimista".
Embora o primeiro choque da crise iniciada nos EUA tenha atingido os países ricos, Vos acha que houve "complacência" no mundo em desenvolvimento, o que atrasou a aplicação de medidas contra a crise. Em outubro, ficou claro que ninguém estava a salvo.
"Isso ocorreu por dois motivos: o primeiro é que os países em desenvolvimento acreditaram que poderiam se descolar da crise, um mito propagado tanto pelo FMI como pelo Banco Mundial", disse Vos à Folha. "E o segundo é que não se esperava uma fuga tão rápida de investimentos."
Voz não poupa críticas aos que minimizaram o tamanho da crise, entre eles o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Ele lembra que, em março, depois do resgate do banco de investimentos americano Bear Stearns, Strauss-Kahn chegou a dizer que o pior da crise havia passado.
"Acho que há uma espécie de falso pensamento positivo, porque muitas das autoridades econômicas são oriundas do mercado financeiro, em que há uma tendência a achar que mensagens positivas podem estimular o mercado", diz Ros.
O economista concorda com a avaliação de muitos analistas de que a crise financeira levará ao menos 18 meses para se dissipar. Mesmo que estejam na direção certa, do estímulo fiscal, pacotes de resgate como os apresentados nos EUA, na China e na União Européia levarão meses para terem efeito.
Com isso, o cenário-base do estudo vê crescimento negativo de 1% nos EUA e 0,7% na zona do euro. No cenário pessimista, esses números caem para retrações de 1,9% e 1,5%, respectivamente.
O estudo da ONU alerta de que o sistema bancário dos EUA, de onde surgiu a crise, ainda poderá provocar novos choques no sistema global.
Entre setembro de 2007 e outubro de 2008, 16 bancos nos Estados Unidos entraram com pedido de falência. Outros 100 estão sob observação do Fed, o banco central americano.


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