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País pode crescer só 0,5% em 2009, diz ONU
Previsão leva em conta agravamento da crise financeira; no cenário otimista, organismo prevê expansão de 3% para o Brasil
Para autor de estudo, "a cada
dia que passa, o mundo se
aproxima mais do cenário
pessimista", em que os EUA
teriam retração de 1,9%
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DOHA
O Brasil poderá ter crescimento econômico quase nulo
em 2009, caso se materialize o
cenário pessimista traçado pelas Nações Unidas ante o agravamento da crise financeira.
Se as condições continuarem
a piorar e em seis meses os pacotes lançados por vários governos no mundo não surtirem
o efeito de estimular o consumo e a produção e destravar o
crédito, a previsão da ONU é
que o PIB brasileiro tenha expansão de apenas 0,5% em
2009 e que a economia global
recue 0,4%. As projeções, antecipadas ontem em Doha, estão
no relatório anual da organização sobre as perspectivas econômicas mundiais, que será divulgado em janeiro.
Como de hábito, o estudo
tem três cenários: o base, o otimista e o pessimista. No cenário base, o crescimento econômico do Brasil em 2009 ficaria
em 2,9%, pouco abaixo da estimativa atual do FMI (Fundo
Monetário Internacional), de
3%. É justamente de 3% o percentual "otimista" da ONU.
Há pouco mais de uma semana, em conversa com a Folha
na Alemanha, o presidente do
BC, Henrique Meirelles, classificou de "conservadora" a previsão do FMI, dando a entender que espera mais de 3%.
Analistas consultados semanalmente pelo BC prevêem expansão de 3% em 2009.
Seja como for, será uma queda significativa para o Brasil,
que cresceu 5,4% em 2007 e,
segundo a ONU, crescerá 5,1%
neste ano. Para o autor do estudo, Rob Vos, "a cada dia que
passa, o mundo se aproxima
mais do cenário pessimista".
Embora o primeiro choque
da crise iniciada nos EUA tenha atingido os países ricos,
Vos acha que houve "complacência" no mundo em desenvolvimento, o que atrasou a
aplicação de medidas contra a
crise. Em outubro, ficou claro
que ninguém estava a salvo.
"Isso ocorreu por dois motivos: o primeiro é que os países
em desenvolvimento acreditaram que poderiam se descolar
da crise, um mito propagado
tanto pelo FMI como pelo Banco Mundial", disse Vos à Folha.
"E o segundo é que não se esperava uma fuga tão rápida de investimentos."
Voz não poupa críticas aos
que minimizaram o tamanho
da crise, entre eles o diretor-gerente do FMI, Dominique
Strauss-Kahn. Ele lembra que,
em março, depois do resgate do
banco de investimentos americano Bear Stearns, Strauss-Kahn chegou a dizer que o pior
da crise havia passado.
"Acho que há uma espécie de
falso pensamento positivo,
porque muitas das autoridades
econômicas são oriundas do
mercado financeiro, em que há
uma tendência a achar que
mensagens positivas podem
estimular o mercado", diz Ros.
O economista concorda com
a avaliação de muitos analistas
de que a crise financeira levará
ao menos 18 meses para se dissipar. Mesmo que estejam na
direção certa, do estímulo fiscal, pacotes de resgate como os
apresentados nos EUA, na China e na União Européia levarão
meses para terem efeito.
Com isso, o cenário-base do
estudo vê crescimento negativo de 1% nos EUA e 0,7% na zona do euro. No cenário pessimista, esses números caem para retrações de 1,9% e 1,5%, respectivamente.
O estudo da ONU alerta de
que o sistema bancário dos
EUA, de onde surgiu a crise,
ainda poderá provocar novos
choques no sistema global.
Entre setembro de 2007 e
outubro de 2008, 16 bancos nos
Estados Unidos entraram com
pedido de falência. Outros 100
estão sob observação do Fed, o
banco central americano.
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