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Emprego deve ter pior 1º tri desde 2003
Especialistas preveem que criação de vagas formais terá freada brusca, principalmente na indústria e na construção civil
Expectativa é a de abertura
de 213,5 mil postos com
carteira assinada de janeiro
a março, queda de 61% ante o mesmo período de 2008
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado de trabalho vai
sofrer com maior intensidade
os efeitos da crise financeira internacional no primeiro trimestre e enfrentar uma freada
ainda mais brusca no ritmo de
expansão de vagas do que a já
constatada no final de 2008. A
criação de empregos formais
entre janeiro e março deve chegar ao menor nível desde 2003,
primeiro ano do governo Lula.
A expectativa é a de abertura
de 213,5 mil novas vagas no primeiro trimestre deste ano. Em
igual período de 2003, considerado um dos piores anos para o
emprego, foram gerados 140,8
mil postos de trabalho. Em
2008, foram 554,4 mil empregos com carteira assinada criados em igual período.
A previsão é da LCA Consultores, a partir de dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e da
Rais 2007 (Relação Anual de
Informações Sociais), ambos
do Ministério do Trabalho e
Emprego. A desaceleração será
mais brusca no setor industrial
e na construção civil.
Se os reflexos da crise sobre a
economia brasileira não se intensificarem e o mercado financeiro internacional não
presenciar novas quebras de
bancos e de empresas, o emprego deve crescer entre 1% e 1,5%
neste ano, o que reduz o número de vagas aos que ingressam
no mercado de trabalho. O percentual previsto é inferior à
metade do crescimento projetado para a ocupação em 2008
-entre 3,6% e 3,7%.
As previsões para o nível de
emprego, feitas por consultores, economistas e especialistas
em mercado de trabalho, levam
em consideração as seis regiões
metropolitanas pesquisadas
pelo IBGE: São Paulo, Rio, Belo
Horizonte, Salvador, Recife e
Porto Alegre.
Com estoques mais elevados,
produção desacelerada e escassez de crédito, as empresas devem não só frear a criação de
novas vagas mas também fazer
ajustes em seu quadro pessoal.
O efeito do "facão" deverá ser
sentido principalmente no primeiro trimestre.
"É o preço do ajuste", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da
RC Consultores. "O empresário
primeiro leva o susto. Depois
aguarda para verificar o volume
de estoques, a redução no nível
de atividade e a contração nas
vendas. Só então deve tomar a
decisão de corte de pessoal, o
que deve ocorrer de forma mais
intensa nos próximos três meses", afirma.
Empresas maiores e com
mais capacidade de planejamento devem iniciar esse ajuste, entretanto, já a partir do final do mês, avalia o economista. Caso da Vale -que anunciou
no início de dezembro a demissão de 1.300 empregados no
mundo e colocou em férias coletivas outros 5.500 trabalhadores, a maior parte em Minas
Gerais- e das montadoras.
O desemprego deve subir ao
menos um ponto percentual
neste ano e ficar acima da taxa
média de 8,5% prevista para
2008, segundo análise de José
Márcio Camargo, professor da
PUC-RJ e economista da Opus
Gestão de Recursos. Em novembro, a taxa de desemprego
verificada pelo IBGE foi de
7,6% -ficou estável em relação
à medida em outubro, 7,5%.
"Não acredito em uma onda
de demissões em 2009 como a
que assistimos nos anos 90.
Não será um "tsunami" nem
uma "marolinha", para usar as
mesmas metáforas do presidente Lula. Mas o país vai enfrentar uma grande ressaca [no
mercado de trabalho]", afirma.
Os cortes devem ocorrer de
forma mais intensa em setores
ligados ao crédito -como o automobilístico e de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, eletroeletrônicos)- e exportadores, como siderúrgico e
mineração. "São segmentos
que antes da crise haviam se
preparado para um crescimento robusto neste ano e aumentaram as contratações de forma
significativa. Terão de rever
seus planos", avalia Camargo.
Os dados do Caged de novembro já mostram que os
ajustes já começaram em vários setores, afirma Fábio Romão, economista da LCA. Foram 40.821 empregos perdidos
em novembro de 2008, a maior
retração no nível de emprego
formal dos últimos dez anos
para o mês. Em igual mês de
2007, o saldo foi positivo em
124,6 mil novos postos.
"Nos 12 subsetores que compõem o setor industrial, houve
fechamento de vagas. Em alguns casos, como metalurgia,
mecânica e material de transporte, a perda de postos foi
mais intensa. Esse movimento
está ligado à atual conjuntura
de travamento de crédito e queda significativa do nível de confiança", afirma Romão.
A indústria de transformação
cortou no país 80,8 mil empregos em novembro passado, ante 2.500 fechados em igual mês
de 2007. Na construção civil,
foram 22,7 mil vagas encerradas, ante 7.800 criadas no mesmo período de 2007. "Os danos
[da crise] ao mercado de trabalho foram mais rápidos do que
esperávamos", diz Romão.
Na avaliação da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), a queda no emprego pode se acentuar a partir
deste mês. "Estamos vivendo
um período inicial em relação à
crise, que tende a ficar mais difícil", diz Paulo Francini, diretor da Fiesp. "É como uma
doença. Tomam-se remédios
para atenuar sintomas e danos
que a moléstia causará. Mas é
inevitável ficar doente."
Apesar dos efeitos da crise, o
ministro do Trabalho, Carlos
Lupi, projeta recuperação do
emprego a partir de março e a
criação de 1,5 milhão de vagas
com carteira assinada em 2009.
De janeiro a novembro de
2008, foram 2,107 milhões.
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