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MICHAEL PETTIS
Ásia enfrentará um 2009 difícil
O excesso produtivo da
Ásia precisa ser eliminado
pela elevação do consumo
ou pelo corte na produção
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COM A recente desaceleração
acentuada na produção industrial chinesa, a teoria
quanto à desacoplagem mundial parece ter sofrido uma morte bem merecida. A ideia de que os países em
desenvolvimento se haviam tornado menos dependentes das condições econômicas dos EUA, e assim
poderiam estar isolados da crise
norte-americana, baseava-se em
uma poderosa combinação de má
análise e de otimismo infundado. Na
verdade, o primeiro estágio da crise
afetou primordialmente os países
que sofrem de déficits comerciais,
entre os quais muitas das nações ricas. O segundo estágio verá a crise se
expandir aos países que ostentam
superávits comerciais, a maior parte
dos quais em desenvolvimento.
A dependência dos países em desenvolvimento quanto à demanda
dos EUA deveria ter sido óbvia com
base nos dados dos balanços mundiais de pagamentos, que demonstram que o déficit comercial dos
EUA e o superávit comercial dos
países em desenvolvimento subiram, como proporção do PIB mundial, quase ininterruptamente entre
1997 e 2007. Isso sugere que há muito mais crise ainda por vir. Até agora,
a crise envolveu principalmente o
ajuste em países grandes e de consumo excessivo -EUA, Espanha, Reino Unido, França, Itália e Austrália.
O balanço mundial de pagamentos precisa chegar a um ponto de
equilíbrio, e uma redução no consumo em uma das pontas do balanço
precisa ser compensada por um
ajuste semelhante na ponta oposta.
Existem duas maneiras pelas
quais o sistema pode se ajustar. Uma
é que os desequilíbrios mundiais
subjacentes se perpetuem. Os governos dos EUA e dos demais países
com déficits comerciais podem tomar empréstimos e promover gastos agressivos para substituir o consumo domiciliar. Mas porque o consumo alimentado por endividamento em países como os Estados Unidos é um dos problemas fundamentais, simplesmente substituir o excesso de consumo de uma entidade
americana pelo de outra não poderá
servir de solução de longo prazo.
O segundo caminho é que os países com superávit comercial promovam forte crescimento do consumo
interno, provavelmente por meio de
maciça expansão fiscal que se equipare à queda no consumo dos domicílios norte-americanos e, com isso,
reduzam o problema da capacidade
de produção ociosa. O problema para essa solução é que a escala do
ajuste requerido está além da capacidade da maioria dos países. O ônus
do ajuste recairá sobre os que têm
superávits comerciais, a menos que
os que apresentam déficits se disponham a absorver grande parte dele.
Mas, dadas as realidades políticas, é
a produção asiática que tem maior
probabilidade de declinar. Os problemas econômicos serão graves e
potencialmente desestabilizadores.
Antes que isso aconteça, existe um
grave risco de que países asiáticos,
individualmente, tentem evitar essa
contração na demanda via medidas
comerciais que reforcem sua capacidade de exportar o excesso de capacidade -subsídios à exportação, financiamento subsidiado, desvalorização cambial, tarifas de importação- e assim lhes permitam forçar
seus parceiros comerciais a cuidar
do ajuste por excesso de capacidade.
O excesso de consumo dos EUA
era parte essencial do recente desequilíbrio mundial -e esse consumo
precisa cair, e a poupança nacional
precisa crescer. Mas, da mesma forma que o excesso de consumo norte-americano precisa cair, o excesso de
produção da Ásia precisa ser eliminado. Isso só pode acontecer por alta no consumo ou pelo corte na produção. A Ásia terá um 2009 difícil.
MICHAEL PETTIS é professor de finanças na Universidade
de Pequim. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Hoje, excepcionalmente, a coluna de LUIZ CARLOS
MENDONÇA DE BARROS não é publicada.
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