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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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Preocupação é com brasileiros em áreas de combate, epidemia de varíola e preço do petróleo

Novo grupo interministerial discute guerra

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro criou um grupo interministerial para avaliar o eventual impacto econômico interno de uma guerra no Iraque e elaborar um plano de proteção e retirada de brasileiros que fiquem sob ameaça de fogo cruzado na região. Há o temor de uma epidemia de varíola.
A reunião de criação do grupo foi na quarta de manhã, no Palácio do Planalto, sob a liderança do secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken -que coordenará o grupo.
Participaram os ministros José Dirceu (Casa Civil), Guido Mantega (Planejamento) e Dilma Rousseff (Minas e Energia), além de representantes do Itamaraty, do Ministério da Defesa e da Petrobras, entre outros.
O que mais preocupa o governo são as consequências da guerra sobre o abastecimento de petróleo e o preço internacional do produto, que tem efeito cascata sobre todos os preços da economia. Pode, portanto, ter um impacto perigoso na inflação.
A questão já vinha sendo considerada estratégica antes mesmo da posse de Lula, por causa da situação da Venezuela.
Um dos três maiores fornecedores de petróleo do Brasil, o país vizinho vive uma crise política que raia a guerra civil e se estendeu a uma greve de semanas nas próprias refinarias e distribuidoras. O ataque dos Estados Unidos ao Iraque ampliaria, ou ampliará, o problema de forma assustadora.

Varíola
Um dos temores do governo é que o ditador do Iraque, Saddam Hussein, tenha armazenado o vírus da varíola -doença erradicada no Brasil há décadas- e tente disseminá-lo durante a guerra, exportando a doença para outras regiões do planeta. Um brasileiro contaminado em alguns desses países poderia acabar transmitindo a doença no Brasil.
O Planalto quer saber, como medida de precaução, se o Brasil tem estoque de vacina. E, se não tiver, como pode providenciá-la. Além disso, pediu especificamente ao Itamaraty que levantasse o contingente de famílias e cidadãos brasileiros vivendo na área mais suscetível de ataques.
As embaixadas brasileiras no Kuait, no Irã, na Arábia Saudita e na Síria foram acionadas para o levantamento e estão fornecendo informações também sobre as movimentações na região, especialmente de tropas e armamentos americanos e ingleses.

Discurso diplomático
A reunião do Planalto não foi conclusiva. Foi, principalmente, para dar um "start" -como a Folha apurou em setores do governo- nas discussões e para que Gushiken já encomendasse um plano para a retirada de brasileiros sob ameaça.
Há dois motivos alegados para o sigilo: não criar tensão inútil na sociedade e não admitir explicitamente o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não admitiu durante sua viagem à Suíça, à França e à Alemanha no início da semana: que o Brasil, a esta altura, também considera a guerra praticamente inevitável.
O discurso unificado, tanto no Planalto quanto no Itamaraty, é meramente formal e repete o tom tradicional que vinha sendo usado pelo governo Fernando Henrique Cardoso diante da questão.
O novo governo também "espera" que o governo de George W. Bush siga rigorosamente o artigo 441 da ONU (Organização das Nações Unidas), pelo qual os EUA só invadiriam o Iraque com o aval prévio do Conselho de Segurança da organização. Além disso, Lula tem dito e seus assessores repetido que tudo está sendo feito para evitar a guerra e o governo brasileiro trabalha prioritariamente com essa possibilidade.
Apesar disso, Lula e seu governo sabem que a guerra não só é inevitável como é iminente e poderá durar meses, até julho, pelo menos. E já se preparam para os seus efeitos internamente.



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