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Preocupação é com brasileiros em áreas de combate, epidemia de varíola e preço do petróleo
Novo grupo interministerial discute guerra
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro criou um
grupo interministerial para avaliar o eventual impacto econômico interno de uma guerra no Iraque e elaborar um plano de proteção e retirada de brasileiros que fiquem sob ameaça de fogo cruzado na região. Há o temor de uma
epidemia de varíola.
A reunião de criação do grupo
foi na quarta de manhã, no Palácio do Planalto, sob a liderança do
secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken
-que coordenará o grupo.
Participaram os ministros José
Dirceu (Casa Civil), Guido Mantega (Planejamento) e Dilma
Rousseff (Minas e Energia), além
de representantes do Itamaraty,
do Ministério da Defesa e da Petrobras, entre outros.
O que mais preocupa o governo
são as consequências da guerra
sobre o abastecimento de petróleo e o preço internacional do
produto, que tem efeito cascata
sobre todos os preços da economia. Pode, portanto, ter um impacto perigoso na inflação.
A questão já vinha sendo considerada estratégica antes mesmo
da posse de Lula, por causa da situação da Venezuela.
Um dos três maiores fornecedores de petróleo do Brasil, o país vizinho vive uma crise política que
raia a guerra civil e se estendeu a
uma greve de semanas nas próprias refinarias e distribuidoras. O
ataque dos Estados Unidos ao Iraque ampliaria, ou ampliará, o
problema de forma assustadora.
Varíola
Um dos temores do governo é
que o ditador do Iraque, Saddam
Hussein, tenha armazenado o vírus da varíola -doença erradicada no Brasil há décadas- e tente
disseminá-lo durante a guerra,
exportando a doença para outras
regiões do planeta. Um brasileiro
contaminado em alguns desses
países poderia acabar transmitindo a doença no Brasil.
O Planalto quer saber, como
medida de precaução, se o Brasil
tem estoque de vacina. E, se não
tiver, como pode providenciá-la.
Além disso, pediu especificamente ao Itamaraty que levantasse o
contingente de famílias e cidadãos brasileiros vivendo na área
mais suscetível de ataques.
As embaixadas brasileiras no
Kuait, no Irã, na Arábia Saudita e
na Síria foram acionadas para o
levantamento e estão fornecendo
informações também sobre as
movimentações na região, especialmente de tropas e armamentos americanos e ingleses.
Discurso diplomático
A reunião do Planalto não foi
conclusiva. Foi, principalmente,
para dar um "start" -como a Folha apurou em setores do governo- nas discussões e para que
Gushiken já encomendasse um
plano para a retirada de brasileiros sob ameaça.
Há dois motivos alegados para o
sigilo: não criar tensão inútil na
sociedade e não admitir explicitamente o que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva não admitiu
durante sua viagem à Suíça, à
França e à Alemanha no início da
semana: que o Brasil, a esta altura,
também considera a guerra praticamente inevitável.
O discurso unificado, tanto no
Planalto quanto no Itamaraty, é
meramente formal e repete o tom
tradicional que vinha sendo usado pelo governo Fernando Henrique Cardoso diante da questão.
O novo governo também "espera" que o governo de George W.
Bush siga rigorosamente o artigo
441 da ONU (Organização das
Nações Unidas), pelo qual os EUA
só invadiriam o Iraque com o aval
prévio do Conselho de Segurança
da organização. Além disso, Lula
tem dito e seus assessores repetido que tudo está sendo feito para
evitar a guerra e o governo brasileiro trabalha prioritariamente
com essa possibilidade.
Apesar disso, Lula e seu governo sabem que a guerra não só é
inevitável como é iminente e poderá durar meses, até julho, pelo
menos. E já se preparam para os
seus efeitos internamente.
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