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Grupo de empresários reclama do governo por não debater proposta
DO ENVIADO ESPECIAL A PUEBLA
A Coalizão Empresarial, o grupo dos diferentes setores empresariais que acompanha as negociações da Alca, chegou a Puebla
reclamando do governo brasileiro
por não ter negociado com ela a
proposta apresentada primeiro
ao Mercosul (e encampada por
este) e agora aos demais 30 participantes da Área de Livre Comércio das Américas.
"Fomos comunicados, mas não
participamos", reclama Antonio
Donizeti Beraldo, da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
"O processo nunca foi tão fechado", reforça Pedro de Camargo Netto, com a vantagem de
quem tem longa experiência em
negociações agrícolas internacionais e já passou pelo governo (na
gestão de Pratini de Moraes como
ministro da Agricultura, durante
a administração do presidente
Fernando Henrique Cardoso),
para voltar agora às negociações
pelo setor privado.
É verdade que a queixa reflete
uma divisão básica no empresariado: o setor agrícola e do agronegócio é agressivamente pró-abertura, porque o Brasil não protege esse setor que, não obstante,
é muito competitivo internacionalmente. Quanto mais o mundo
derrubar o protecionismo agrícola, melhor para o agronegócio
brasileiro.
Mas em amplos setores da indústria, há uma tendência a defender o protecionismo, sob a alegação de que as condições de concorrência para o industrial brasileiro são perversas, pelos juros altos, escassez de crédito, problemas de infra-estrutura etc.
Defesa do modelo
É sintomático, por exemplo,
que Ruy de Salles Cunha, secretário-geral da Abinee (Associação
Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica), defenda o modelo
"Alca light" que o governo conseguiu fazer valer. Em tese o setor
eletroeletrônico estará entre os
"sensíveis", para o qual a queda
das tarifas de importação se dará
em mais de 10 anos, a partir da assinatura do acordo da Alca.
Mas é igualmente sintomático
que Paulo Venturelli (do Ministério da Agricultura) critique as posições que o governo de que faz
parte está apresentando.
Venturelli acha que ao defender
uma abertura lenta para os "sensíveis", o Brasil está convidando
os seus parceiros das Américas a
incluir produtos agrícolas de interesse do Brasil na lista de seus
próprios "sensíveis".
Venturelli vai mais longe: defende que o governo abra o setor
de compras governamentais, de
olho no gigantesco mercado norte-americano de concorrências
públicas.
Só em 2001, foram US$ 224 bilhões, sem contar a área de defesa.
No Brasil, as concorrências, se excluídas as estatais, não passam de
algo em torno de US$ 7 bilhões e
US$ 8 bilhões por ano.
Mas Antônio Simões, do Itamaraty, devolve: na área das compras
de menor valor, os americanos
defendem seus produtores por
meio do "Buy American Act"
(compre produtos americanos),
ao passo que, nas grandes compras, o Brasil não têm empresas
em condições de de fato competir.
Seja qual for a tese correta, o fato
é que Pedro de Camargo Netto
afirma que o governo tem "um
mérito inegável: uma política definida e o empenho em levá-la
adiante".
Mas o elogio é temperado por
uma dúvida: essa política (alusão
à prioridade para o Mercosul e
para relações Sul/Sul, com Índia e
África do Sul, por exemplo) tem
consistência econômica? Ele próprio admite não saber responder,
mas teme que nem no Mercosul
nem na América do Sul a prioridade gere comércio, "que, enfim,
é o objetivo de qualquer acordo
comercial".
Onde, sim, haveria geração de
comércio seria na Alca, porque
nela estão os Estados Unidos.
Mas o empresariado parece
compartilhar a visão de Washington de que o Itamaraty é refratário
a um acordo que envolva a única
superpotência remanescente no
planeta.
(CR)
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