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FOLHAINVEST
MERCADO FINANCEIRO
Para analistas, modelo engessa política monetária e adoção de núcleo pode tornar sistema mais flexível
Economistas questionam metas de inflação
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Economistas responsabilizam o
regime de metas de inflação, baseado no IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) cheio e
com tarifas indexadas, pela política de juros altos do Banco Central. Argumentam que o modelo
precisa ser revisto e que, se a meta
estivesse calcada no núcleo da inflação (que exclui tarifas e preços
agrícolas), não seriam necessários
juros tão draconianos, de imenso
custo para o país.
Dentre mais de 20 países que
adotam o sistema de metas ("inflation target"), apenas o Brasil
usa a inflação cheia. Uma alteração do modelo de metas não acarretaria problemas de credibilidade, uma vez que, decorridos quase cinco anos, ele já está consagrado, segundo economistas. A meta
para 2004 é de 5,5%, e, para o ano
que vem, de 4,5%.
"Já há maturidade para revisão
desse modelo", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN
Amro Asset Management. "É preciso avaliar o custo social desta
política econômica, se faz sentido
ter meta com este impacto. Com
metas em cima de preços livres,
estaríamos mais confortáveis."
Estima-se que, num cenário benigno, os preços administrados
tenham reajustes de 7,8% neste
ano. Para cumprir a meta, os preços livres, que pesam mais nos índices de inflação e subiram 8,1%
em 2003, teriam que aumentar no
máximo 4,5%.
"O discurso do BC [temeroso da
inflação] encobre a raiz do problema: o regime de metas, baseado no IPCA cheio e com tarifas indexadas, que engessa o país, dificulta baixar juros. Essa culpa não
é do BC, que tem de zelar pela regra", diz Alexandre Póvoa, economista do Banco Modal.
"Essa política de juros tem um
custo enorme para o Brasil. A
manchete da Folha de sábado
[sobre o gasto com juros da dívida
que consome a economia feita pelo país] reflete essa política. Se
olhassem para o núcleo, não precisariam de uma política de juros
tão agressiva", diz João Luiz Máscolo, professor do Ibmec.
Se houver elevação forte dos
preços administrados, há o risco
de não haver mais corte de juros.
"Podem até aumentá-los e as empresas nem chegarem a se animar
e contratar", diz Penteado.
Elevar os juros agora não teria
muito efeito sobre a inflação, pois
não impediria que as tarifas subissem. Não é problema de oferta e
demanda, segundo analistas.
"Tinha que trabalhar com núcleo, separando o que é efeito de
política monetária do efeito de
contratos, sazonalidade, aumento
de imposto", diz Máscolo.
Póvoa concorda e sugere desindexar as tarifas, à medida que
vençam os contratos. "Poderiam
retornar ao índice cheio quando
tarifas estiverem desindexadas."
"Não precisam tirar do índice.
Podem estabelecer válvulas de escape, como quando o petróleo sobe. O sistema precisa ser aperfeiçoado, e já perderam oportunidades", diz Jorge Simino, consultor
da MS Consult.
De acordo com os analistas, o
governo resistiria a mudanças do
sistema por temer reações.
"O país tem um histórico de
manipulação de índices. Se não
for bem explicado, as pessoas terão medo de mexer nos salários.
O governo não quer assumir esse
custo político. O governo Fernando Henrique não quis. Este, muito
menos", diz Máscolo. "Vai estourar meta? Tudo bem. Foi fixada
com base em índice errado mesmo... É de um primitivismo não
ter núcleo. Todas as economias
têm. Ninguém discute mais isso."
Ainda segundo os economistas,
fatos pontuais, como a elevação
da Cofins, não deveriam entrar no
cálculo da meta.
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