São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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BC vê sinais de "robusta" recuperação

Ata do Copom justifica redução no ritmo da queda nos juros com aumento nas vendas no varejo e na compra de máquinas

Banco diz que possibilidade de afrouxamento fiscal com superávit primário menor no ano foi considerada na hora de reduzir Selic


Lula Marques - 20.dez.06/Folha Imagem
Henrique Meirelles, do BC, que reduziu ritmo da queda da Selic


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sinais de uma "robusta" recuperação no nível de atividade fizeram com que o Banco Central colocasse um freio no processo de queda dos juros, segundo a ata da reunião da semana passada do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), divulgada ontem.
Na reunião, o BC reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, depois de efetuar cinco cortes seguidos de 0,5 ponto em 2006.
Com base em indicadores como as maiores vendas no varejo e o aumento nas compras de máquinas e equipamentos, o texto diz que tanto o consumo interno quanto os investimentos das empresas têm apresentado crescimento "robusto" nos últimos meses.
Nesse cenário, o aumento da inflação ocorrido recentemente -que inicialmente era visto como temporário, reflexo do reajuste nos alimentos- poderia se propagar por mais tempo que o desejado. Ou seja, para o BC, a economia já dá sinais de forte recuperação, sendo possível reduzir os juros de forma mais lenta sem maiores prejuízos ao nível de atividade.
A ata contém a avaliação da situação da economia feita pelo BC na quarta-feira da semana passada, dois dias depois de o governo anunciar as medidas do PAC, pacote que tem como objetivo, justamente, estimular a retomada do crescimento.
A atuação do BC, porém, é pautada pela meta de inflação, não de crescimento.
A ata do Copom não faz referência direta ao PAC, com exceção da menção à uma de suas medidas: a possível redução da meta de superávit primário deste ano, quando a economia para o pagamento de juros pode passar do equivalente a 4,25% do PIB para 3,75% devido a maiores investimentos no chamado PPI (Projeto Piloto de Investimentos).
O PPI é formado por projetos de investimentos que podem, no futuro, gerar ganhos para o setor público e privado -construção de linhas de metrô e modernização de portos, por exemplo. Por isso, essas despesas são excluídas das metas fiscais do governo.
Apesar de existir desde 2005, o PPI nunca havia sido citado nas atas do Copom. O documento divulgado ontem diz que a meta menor para o superávit primário deste ano foi considerada na hora de decidir sobre o corte de juros, mas não relaciona os maiores gastos com a queda mais lenta da taxa Selic.
Em vez disso, o BC repete um argumento que já vinha sendo apresentado há vários meses: o efeito da queda dos juros ocorrida desde setembro de 2005 -a Selic caiu 6,75 pontos de lá para cá- ainda não foi sentido totalmente pela economia.
Segundo a ata do Copom, as "incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária" justificam um maior cuidado na redução dos juros. Em outras palavras, o BC diz que não sabe como a economia vai reagir à queda já ocorrida na Selic e receia que uma redução maior na taxa agora possa abrir espaço para uma alta inesperada da inflação.
Além dessa "incerteza", são poucos os obstáculos identificados pelo BC para a queda dos juros. De acordo com o documento, "o cenário externo permanece favorável", especialmente devido à recente queda das cotações do petróleo no mercado internacional. Isso deve fazer com que, pelas contas feitas durante a reunião do Copom da semana passada, o preço da gasolina no Brasil não sofra reajustes neste ano.

Confira a íntegra da ata do Copom


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