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Lula fará decreto para Oi comprar a BrT
Decisão foi acertada em reunião anteontem no Planalto; BNDES emprestará R$ 1,8 bilhão para financiar o negócio
Teles devem anunciar acerto na semana seguinte à do Carnaval; banco estatal deve ter 16,5% do capital votante da nova empresa
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editará decreto alterando regras do setor de telefonia fixa, e o BNDES emprestará
R$ 1,8 bilhão para viabilizar a
compra da Brasil Telecom
(BrT) pela Oi (ex-Telemar).
Segundo a Folha apurou, a
decisão foi tomada em reunião
no Palácio do Planalto anteontem à noite, quando Lula e auxiliares definiram o ritual administrativo e político para dar
o aval do governo à operação.
O BNDES deverá ficar com
16,5% do capital de controle
(votante) da nova empresa, segundo relato a Lula do presidente do banco de fomento estatal, Luciano Coutinho. A pedido do Planalto, Coutinho foi
o principal interlocutor do governo com os grupos privados
Andrade Gutierrez e La Fonte,
controladores da Oi, para formatar o negócio.
Coutinho disse a Lula que o
BNDES emprestaria R$ 1,8 bilhão aos empresários Sérgio
Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do La
Fonte. Justificou o uso de verba pública dizendo que viabilizará uma empresa que valerá
mais de R$ 15 bilhões. O governo argumenta ser necessário
uma tele nacional forte para
competir com gigantes estrangeiras como a mexicana Telmex (Claro e Embratel) e a espanhola Telefónica.
No relato de Coutinho, uma
aliança de Andrade e Jereissati
com a Fundação Atlântico, o
fundo de pensão dos funcionários da Oi, dará aos empresários o controle acionário da nova tele. Os dois terão juntos
40% do controle, mais 11% da
Fundação Atlântico. Os demais
49% do capital votante serão
divididos assim: 16,5% do
BNDES, 12,5% da Previ (fundo
de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil), 10% da Petros (fundo dos funcionários da
Petrobras) e 10% da Funcef
(fundo da Caixa). Sérgio Rosa,
presidente da Previ, quer indicar o presidente da tele.
Por determinação de Lula,
Coutinho colocou "travas", nas
palavras de um negociador privado envolvido na operação,
para evitar que a nova empresa
seja vendida pelos empresários
no curto prazo. O BNDES terá
poder de veto sobre decisões da
empresa (como alienação, fusão e emissões) e direito de
preferência caso os dois empresários desejarem vendê-la.
Na hipótese de um empresário desejar vender sua parte,
deverá oferecê-la antes ao sócio privado e depois ao BNDES.
Como antecipou a Folha, essas "travas" foram condicionantes de Lula para editar o decreto presidencial.
O decreto permitirá que uma
tele de telefonia fixa compre a
outra, algo vetado hoje pelo
PGO (Plano Geral de Outorgas), marco regulatório da privatização das teles, há dez anos.
Além de Lula e Coutinho, os
ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) participaram da reunião no Planalto.
A cúpula do governo avalia
que no prazo de dois meses será cumprido um ritual administrativo e político do negócio.
Os empresários disseram ao
Planalto que deverão fazer um
anúncio formal após o Carnaval -o mais provável é que
ocorra na segunda ou terça-feira seguintes à festa.
Feito o anúncio, os empresários avisarão à Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações). A agência reguladora
consultará o Ministério das
Comunicações, responsável
pela política do setor. O ministério encaminhará as orientações e recomendará que a Anatel convoque seu conselho consultivo. Esse conselho aprovará a operação, que contará com
o decreto presidencial.
Laços
A Oi (ex-Telemar) financiou
atividade empresarial de um filho de Lula, Fábio Luiz. O presidente fica contrariado quando a
imprensa correlaciona a compra da Brasil Telecom pela Oi
com o aporte de recursos da antiga Telemar para a companhia
do filho do presidente, a Gamecorp.
Sérgio Andrade também é
um empresário próximo da cúpula do PT. Lurian, filha de Lula, chegou a morar em Paris
num apartamento da família
Andrade. O grupo Andrade Gutierrez foi o maior financiador
do PT em 2006, ano de eleições
presidenciais e para os governos estaduais. Doou para o partido R$ 6,4 milhões. Para a
campanha de Lula, a empresa
não foi a maior doadora, mas
deu R$ 1,5 milhão.
A decisão sobre o decreto
ocorreu um dia depois de Lula
se esquivar de comentar a compra da Brasil Telecom pela Oi:
"Tem um negócio acontecendo, eu não posso dar opinião
enquanto não tiver um retrato
fiel da engenharia que está sendo discutida". Anteontem, em
mais de duas horas de reunião,
Coutinho apresentou a "engenharia". Lula a avalizou.
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