São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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Meirelles diz que não haverá corte "drástico" de juros ou mudança na meta de inflação, mas que país crescerá 3,5%

Presidente do BC descarta mudança de rumo

DENISE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o governo continuará perseguindo o cumprimento do centro da meta de inflação (de 5,5%), sinalizou que não deve haver uma queda drástica nos juros e que, ainda assim, o país vai crescer 3,5% neste ano.
As declarações de Meirelles aconteceram em uma aula inaugural para estudantes da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo.
Foi a primeira vez que Meirelles falou publicamente desde a divulgação, na sexta-feira, de que o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 0,2% em 2003 sobre 2002.
Meirelles disse acreditar que, para o país alcançar um crescimento sustentado de longo prazo, o fundamental "é prosseguir com a disciplina fiscal e monetária, como fazem todos os países civilizados, sem exceção". Por isso, ele também descartou um corte drástico na taxa básica de juros (a Selic, que está em 16,5% ao ano). Segundo ele, uma redução forte nos juros geraria aumento da inflação, não crescimento econômico.
"O regime de metas de inflação, que prevê o uso da taxa de juros como instrumento de política monetária para combater a inflação, é o regime de maior sucesso em todo o mundo", disse.
A meta de inflação do país para este ano é de 5,5% (centro), com tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. No início do ano, fatores sazonais -como aumento de preços de produtos agrícolas devido às chuvas- provocaram uma pressão na inflação. Por causa disso, o BC resolveu não abaixar os juros no primeiro bimestre de 2004.
Em Brasília, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, também negou que o governo esteja estudando alterações na meta a ser perseguida neste ano.
Meirelles afirmou que o BC não vai ceder ao "apelo fácil dos cantos de falsas sereias" para baixar os juros, numa tentativa de estimular a economia. "Baixar os juros artificialmente, sem reduzir de forma consistente o risco Brasil, seria repetir a mesma série de desastres vivida pela economia brasileira nas últimas décadas." Ele ainda alega que uma política monetária mais "frouxa" poderia ser uma nova tentativa fracassada de combate à inflação, com resultados de crescimento só a curto prazo, como "bolhas espasmódicas" - sem sustentação.
Meirelles previu um crescimento do PIB de 3,5% ou mais neste ano. Segundo ele, a expectativa é fundamentada na recuperação da produção industrial, principalmente nos setores mais sensíveis às condições de crédito, como bens de capital e de consumo duráveis. Também destacou o aumento das vendas do comércio, nos setores de automóveis, móveis e eletrodomésticos.
Para minimizar as críticas em relação à demora do BC em reduzir as taxas de juros para promover o crescimento do país, Meirelles sustentou que a queda do Produto Interno Bruto no ano passado foi resultado da grave crise enfrentada pelo país no fim de 2002 e da contração da economia no primeiro semestre.
Ele disse que, anualizada, a expansão do último trimestre de 2003 foi de 6%. Afirmou ainda que é difícil manter um crescimento tão forte ao longo de 2004.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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