São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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BEBIDAS

Acordo com companhia belga pode criar a segunda maior cervejaria do mundo em ativos e a primeira em produção

AmBev negocia megafusão com a Interbrew

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A AmBev e a belga Interbrew confirmaram ontem que negociam um acordo que pode resultar na segunda maior companhia fabricante de cerveja do mundo. Se ratificado o acordo, a nova cervejaria reuniria ativos da ordem de US$ 27 bilhões e ficaria atrás somente da americana Anheuser-Busch, que tem valor de mercado estimado em US$ 43,3 bilhões.
No ranking mundial de produção, de acordo com o banco Itaú e a consultoria inglesa Canadean, com dados disponíveis até o terceiro trimestre de 2003, a nova cervejaria assumiria a liderança. Juntas, Interbrew e AmBev teriam uma produção de 164 milhões de hectolitros de cerveja (102 milhões das marcas comercializadas pela Interbrew contra 130 milhões de hectolitros da Anheuser-Busch). Mas em termos de receita os norte-americanos permaneceriam na frente: com ingressos totais de US$ 14 bilhões (em 2003), contra US$ 12 bilhões das concorrentes Interbrew e AmBev.
Segundo a Folha apurou, em um primeiro momento as duas empresas promoveriam um troca de ações -ou seja, a AmBev teria participação na Interbrew, e vice-versa. A operação envolveria troca de ações de valores entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões. Em uma segunda fase, seria formada uma terceira empresa, que controlaria os ativos das duas companhias.
Apesar de minoritária na troca de ações, a AmBev irá responder por parte substancial da gestão da nova empresa. Seus principais acionistas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, deverão fazer parte do conselho de administração da holding que controla a Interbrew.
As negociações entre a AmBev e a Interbrew já se arrastam há mais de um ano. Um dos principais ativos da AmBev, e que interessou à Interbrew, foi a gestão da companhia brasileira, considerada de excelência no mundo.

Divisão
No modelo acertado entre as empresas, chamado de aliança global, as duas cervejarias continuarão a existir. Para isso, o planeta será dividido ao meio. A AmBev cuidará das operações de produção e distribuição nas Américas. A Interbrew será responsável pela Europa e pela Ásia.
O acertado entre as duas empresas é que o modelo de gestão da AmBev, com as diversas técnicas implantadas pela empresa nos últimos anos, será adotado pela Interbrew. A gestão tem sido um dos principais problemas da Interbrew. Tanto que, nos dois últimos anos, a empresa trocou seis vezes seus principais executivos.
Com a operação, a AmBev espera melhorar seu "rating" para a categoria de "investment grade".
Para a AmBev, o interesse comercial na associação seria o de ter acesso ao mercado europeu -uma vez que a Interbrew está presente em duas dezenas de países no continente, sendo líder na Rússia, na Bélgica e na Alemanha, além de ter presença no Canadá e em parte da Ásia.
"É a oportunidade de a AmBev se tornar um "player" global. Na América do Sul, ela tem posição consolidada, mas não conseguiria sozinha fazer o mesmo na Europa ou na Ásia", argumenta Basílio Ramalho, analista do banco Itaú.
Ramalho lembra que, desde que foi criada, quatro anos atrás, resultado da fusão da Brahma com a Antarctica, a AmBev comprou cervejarias ou iniciou produção na América do Sul e, nos últimos meses, voltava-se para aquisições ou investimentos no Caribe e na América Central. No entanto, dado o custo de capital no Brasil, não teria como efetuar operações de vulto na Europa ou na Ásia.
De sua parte, a Interbrew tem participação muito pequena no mercado da América Latina. A companhia belga, controlada por três famílias, foi criada em 1987, com a união de três cervejarias. A Interbrew detém 30% do controle da mexicana Femsa, fabricante da cerveja Tecate.
Em dois dias, as ações da AmBev subiram quase 10%, diante da possibilidade de um acordo (5,2% na sexta e 4,6% ontem). As ações da Interbrew, por outro lado, caíram 3,3% ontem na bolsa de Bruxelas. Segundo analistas locais, a empresa belga pode ter ganhos no médio prazo, uma vez que a América do Sul, ao lado da China, é o único mercado de cerveja em crescimento.


Colaborou José Alan Dias, da Reportagem Local

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