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BEBIDAS
Acordo com companhia belga pode criar a segunda maior cervejaria do mundo em ativos e a primeira em produção
AmBev negocia megafusão com a Interbrew
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A AmBev e a belga Interbrew
confirmaram ontem que negociam um acordo que pode resultar na segunda maior companhia
fabricante de cerveja do mundo.
Se ratificado o acordo, a nova cervejaria reuniria ativos da ordem
de US$ 27 bilhões e ficaria atrás
somente da americana Anheuser-Busch, que tem valor de mercado
estimado em US$ 43,3 bilhões.
No ranking mundial de produção, de acordo com o banco Itaú e
a consultoria inglesa Canadean,
com dados disponíveis até o terceiro trimestre de 2003, a nova
cervejaria assumiria a liderança.
Juntas, Interbrew e AmBev teriam
uma produção de 164 milhões de
hectolitros de cerveja (102 milhões das marcas comercializadas
pela Interbrew contra 130 milhões
de hectolitros da Anheuser-Busch). Mas em termos de receita
os norte-americanos permaneceriam na frente: com ingressos totais de US$ 14 bilhões (em 2003),
contra US$ 12 bilhões das concorrentes Interbrew e AmBev.
Segundo a Folha apurou, em
um primeiro momento as duas
empresas promoveriam um troca
de ações -ou seja, a AmBev teria
participação na Interbrew, e vice-versa. A operação envolveria troca de ações de valores entre US$ 2
bilhões e US$ 3 bilhões. Em uma
segunda fase, seria formada uma
terceira empresa, que controlaria
os ativos das duas companhias.
Apesar de minoritária na troca
de ações, a AmBev irá responder
por parte substancial da gestão da
nova empresa. Seus principais
acionistas, Jorge Paulo Lemann,
Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, deverão fazer parte do
conselho de administração da
holding que controla a Interbrew.
As negociações entre a AmBev e
a Interbrew já se arrastam há mais
de um ano. Um dos principais ativos da AmBev, e que interessou à
Interbrew, foi a gestão da companhia brasileira, considerada de
excelência no mundo.
Divisão
No modelo acertado entre as
empresas, chamado de aliança
global, as duas cervejarias continuarão a existir. Para isso, o planeta será dividido ao meio. A AmBev cuidará das operações de produção e distribuição nas Américas. A Interbrew será responsável
pela Europa e pela Ásia.
O acertado entre as duas empresas é que o modelo de gestão da
AmBev, com as diversas técnicas
implantadas pela empresa nos últimos anos, será adotado pela Interbrew. A gestão tem sido um
dos principais problemas da Interbrew. Tanto que, nos dois últimos anos, a empresa trocou seis
vezes seus principais executivos.
Com a operação, a AmBev espera melhorar seu "rating" para a
categoria de "investment grade".
Para a AmBev, o interesse comercial na associação seria o de
ter acesso ao mercado europeu
-uma vez que a Interbrew está
presente em duas dezenas de países no continente, sendo líder na
Rússia, na Bélgica e na Alemanha,
além de ter presença no Canadá e
em parte da Ásia.
"É a oportunidade de a AmBev
se tornar um "player" global. Na
América do Sul, ela tem posição
consolidada, mas não conseguiria
sozinha fazer o mesmo na Europa
ou na Ásia", argumenta Basílio
Ramalho, analista do banco Itaú.
Ramalho lembra que, desde que
foi criada, quatro anos atrás, resultado da fusão da Brahma com
a Antarctica, a AmBev comprou
cervejarias ou iniciou produção
na América do Sul e, nos últimos
meses, voltava-se para aquisições
ou investimentos no Caribe e na
América Central. No entanto, dado o custo de capital no Brasil,
não teria como efetuar operações
de vulto na Europa ou na Ásia.
De sua parte, a Interbrew tem
participação muito pequena no
mercado da América Latina. A
companhia belga, controlada por
três famílias, foi criada em 1987,
com a união de três cervejarias. A
Interbrew detém 30% do controle
da mexicana Femsa, fabricante da
cerveja Tecate.
Em dois dias, as ações da AmBev subiram quase 10%, diante da
possibilidade de um acordo (5,2%
na sexta e 4,6% ontem). As ações
da Interbrew, por outro lado, caíram 3,3% ontem na bolsa de Bruxelas. Segundo analistas locais, a
empresa belga pode ter ganhos no
médio prazo, uma vez que a América do Sul, ao lado da China, é o
único mercado de cerveja em
crescimento.
Colaborou José Alan Dias,
da Reportagem Local
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