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Reforma boa é a reforma possível, diz Skaf
Presidente da Fiesp defende posição "realista" sobre votações no Congresso para que aprovação ocorra ainda neste semestre
Empresário sugere adoção de mecanismo que impeça aumento da carga fiscal, como um "gatilho" para corte automático de alíquotas
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, encaminhou ao Congresso a
proposta de reforma tributária
do governo com o objetivo de
ser aprovada neste ano. Apesar
de ainda não ter tido tempo para analisar em detalhes o projeto, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), Paulo Skaf, afirma que a reforma "tem pontos
muito positivos".
Skaf admite que não será fácil
a aprovação do projeto no Congresso num ano de eleições municipais e de CPI, mas ele acha
que o país não pode desperdiçar essa oportunidade. Por isso,
afirma que é fundamental que a
reforma seja aprovada ainda
neste primeiro semestre.
O presidente da Fiesp defende uma posição realista, de que
seja aprovada uma reforma que
contemple os pontos mais importantes, mesmo que não seja
a ideal. "Não vamos buscar uma
reforma completa, ampla e que
atenda todos os pontos, porque, assim, nós vamos acabar
ficando sem a reforma", diz.
FOLHA - O que o senhor achou do
projeto da reforma tributária?
PAULO SKAF - Sem dúvida nenhuma, o gesto de o governo
encaminhar ao Congresso um
projeto de reforma tributária é
muito positivo. O Brasil precisa
urgentemente de uma reforma
tributária. Aliás, já passou da
hora. Quisera já tivéssemos feito uma reforma tributária ao
longo dos últimos anos. Não tivemos ainda tempo para uma
análise detalhada, mas a primeira impressão é a de que o
projeto tem pontos muito positivos. Agora precisamos fazer
uma análise mais detalhada para que a gente identifique aquilo que realmente é bom e que
deve ser defendido e aquilo que
eventualmente precisa ser
aprimorado. Esse trabalho nós
vamos fazer no Congresso.
FOLHA - Como o sr. planeja acompanhar o projeto no Congresso?
SKAF - Enquanto o projeto estiver tramitando no Congresso,
acompanharemos seu encaminhamento, propondo emendas
e buscando aprimorá-lo para
que se tenha uma reforma tributária a melhor possível para
o país e que, ao mesmo tempo,
seja aprovada ainda neste ano.
FOLHA - Num ano de eleições, não
será mais difícil a reforma?
SKAF - Como estamos num ano
de eleições municipais, para
sermos realistas, não vamos
buscar uma reforma completa,
ampla e que atenda todos os
pontos, porque, assim, vamos
acabar ficando sem a reforma.
A nossa intenção é a de priorizar pontos e, dentro desses
pontos, nos concentrarmos para que sejam atendidos alguns
aspectos prioritários para o
Brasil. O que a sociedade brasileira espera de uma reforma
tributária é que ela seja capaz
de agilizar, simplificar e desonerar os impostos, e é isso o que
vamos defender.
O Brasil, há alguns anos, passou por diversos momentos de
crise. Nesses momentos, os governos usaram sempre o pretexto das crises para criar impostos e aumentar as alíquotas
dos impostos. Nós vivemos
também um período de inflação muito elevada, e os governos usaram esse pretexto para
reduzir os prazos dos recolhimentos dos impostos. Ora, com
a situação que o Brasil vive hoje, de estabilidade econômica e
de um novo ciclo virtuoso de
crescimento, precisamos que o
governo promova uma redução
das alíquotas e alongue os prazos de recolhimento.
FOLHA - Mas, em princípio, a proposta de reforma não defende a
simplificação e a desoneração?
SKAF - Tem muita coisa a ser
detalhada ainda na proposta.
Não estão definidas as alíquotas, por exemplo. O que parece
bom conceitualmente pode
deixar de ser bom, dependendo
da alíquota que se aplicar. Nós
tivemos o exemplo recente do
fim da cumulatividade do PIS e
da Cofins. É lógico que a sociedade aprovava, só que a alíquota aplicada nesse caso onerou a
sociedade. A carga tributária
aumentou. O que estamos fazendo agora, num primeiro
momento, é analisando o projeto. Os conceitos da proposta
são positivos. Os conceitos de
agilizar, simplificar, desonerar,
de acabar com a guerra fiscal,
todos estamos de acordo com
tudo isso. Agora precisamos ter
a certeza de que essa reforma
não vai levar a um aumento da
carga tributária. Vamos acompanhar, discutindo e procurando contribuir para aprimorar
ao máximo o projeto. Temos
consciência de que não temos
muito tempo. Com as eleições
no segundo semestre, seria importante que a aprovação da reforma ocorresse ainda no primeiro semestre. Se formos buscar aquela reforma ampla e
completa, corremos o risco de
não haver reforma neste ano.
FOLHA - O sr. acha mesmo possível
aprovar neste primeiro semestre,
com CPI, eleição municipal...
SKAF - É, CPI, eleição municipal, além do fato de que, quando se promove a discussão de
uma reforma, sempre surgem
muitos conflitos de interesses.
Não será uma discussão simples, mas o Brasil já esperou
muito. Não podemos perder essa oportunidade. Mesmo que
não consigamos uma reforma
que abranja e equacione todos
os problemas, pelo menos alguns focos prioritários devem
ser atingidos. O que se quer é
uma redução da carga tributária. A nossa carga tributária é
muito alta. Enquanto nós temos uma carga de 37% do PIB,
a Argentina tem 22%, países vizinhos, próximos, têm em torno de 20% do PIB. O ideal seria
criar um mecanismo de forma
que não permita aumento da
carga tributária, uma espécie
de gatilho. Ou seja, qualquer
aumento de arrecadação deveria ser repassado imediatamente à sociedade, por meio de
redução de alíquotas e ampliação de prazos de recolhimento.
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