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TROCA DE COMANDO
Declarações do novo ministro da Fazenda foram mal recebidas por analistas do mercado financeiro
Mantega é criticado por fala sobre Previdência
JONATHAN WHEATLEY
DO "FINANCIAL TIMES", EM SÃO PAULO
As declarações do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega,
dando conta de que não acha necessária uma nova reforma na
Previdência, foram mal recebidas
pelos analistas de mercado, que as
encaram como um alerta para um
desajustamento das contas públicas -o que o ministro refuta.
Um dos principais problemas
das contas públicas brasileiras, o
bilionário déficit da Previdência,
foi parcialmente atacado com reformas levadas a cabo pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas novas reformas, a fim de
diminuir as despesas previdenciárias, são sempre pedidas. Mantega, em entrevista concedida ao
jornal britânico "Financial Times" e publicada ontem pela Folha, afirmou, no entanto, que não
vê como premente a necessidade
de mudanças no sistema, mas sim
em sua gestão. "Não acredito que
precisemos de mais reformas da
Previdência. O que precisamos é
de melhor administração."
A imposição de um custo adicional de cerca de R$ 5 bilhões por
ano ao sistema já subfinanciado
devido ao aumento do salário mínimo concedido no ano passado
pode ser parcialmente contrabalançada por ganhos em eficiência
e uma ação mais dura contra as
fraudes, disse Mantega.
As declarações do ministro sugerem desvio da trajetória fiscal
rígida determinada por seu antecessor e preocuparam os investidores internacionais, que vêm
exortando o Brasil a lançar reformas estruturais para poder alcançar crescimento mais rápido.
"É uma admissão extraordinária", disse Christian Stracke, analista de mercados emergentes da
empresa de pesquisas Credit
Sights, de Nova York. "Uma próxima rodada de reformas do sistema previdenciário tinha sido uma
das promessas certeiras dadas pela equipe econômica que deixou o
governo. A premissa de todos os
que têm vínculos com mercados
financeiros era que uma nova reforma estrutural era prioridade."
Escândalo
Mantega assumiu o lugar de
Antonio Palocci Filho quando ele
foi obrigado a deixar o cargo, depois de ter seu nome vinculado a
um escândalo de corrupção que
atinge o governo desde junho do
ano passado. Os "falcões" fiscais
da equipe de Palocci, como o secretário do Tesouro, Joaquim
Levy, e o secretário-executivo,
Murilo Portugal, decidiram partir
com o ex-ministro.
Os mercados financeiros brasileiros reagiram negativamente
quando Mantega, crítico declarado dos juros altos adotados pelo
Banco Central e dos superávits orçamentários primários (antes de
descontados os pagamentos da
dívida), superiores às metas, foi
nomeado para tomar o lugar de
Palocci, na segunda-feira.
As ações, os títulos e a moeda tiveram queda acentuada, mas se
recuperaram mais tarde no decorrer da semana, ajudados em
parte pelo rápido anúncio feito
por Mantega da indicação de dois
sucessores de Levy e Portugal,
ambos favoráveis ao mercado.
Joaquim Levy defendia a necessidade da reforma fiscal e expressara preocupação diante de uma
iniciativa recente no Senado para
reverter parte da legislação aprovada pelo governo anterior, de
Fernando Henrique Cardoso.
"A reforma fiscal é seriamente
necessária", disse Nuno Câmara,
economista latino-americano sênior da Dresdner Kleinwort Wasserstein, em Nova York.
"Não há como adiá-la por mais
tempo. O déficit da Previdência é
um problema subjacente grave, e
Levy fez um excelente trabalho no
sentido de deixar isso claro para
todos", afirmou o economista.
Câmara previu que os mercados
vão exercer forte pressão sobre o
vencedor da eleição presidencial
brasileira, em outubro. "Os mercados vão reagir com força se o
próximo governo chegar ao poder e não disser nada sobre reforma fiscal", disse ele. "Isso se refletirá num custo mais alto dos empréstimos contraídos por empresas brasileiras."
Para a Câmara, investidores que
podem ter começado a enxergar
as perspectivas econômicas com
complacência de repente começaram a prestar atenção mais cuidadosa às contas fiscais.
A visão de Mantega contraria a
dos "falcões" que deixaram o Ministério da Fazenda ao lado do ex-ministro Palocci, que concordam
com os críticos que pedem cortes
impopulares nas aposentadorias
e na Previdência Social, para fornecer o capital de investimentos
necessário para impulsionar o
crescimento.
Mas Mantega excluiu qualquer
mudança em relação às políticas
"eficientes e bem-sucedidas" executadas por Palocci e disse que o
Brasil se encontra em "uma situação estruturalmente nova, que está consolidada e é permanente",
permitindo um crescimento de
entre 4% e 4,5% neste ano.
Tradução de Clara Allain
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