São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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CLANDESTINO

Estudo a pedido de empresas avalia incidência de crimes e descobre que complexidade social é fator determinante

GV elabora índice sobre tendência à fraude


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Não é apenas a pobreza que explica as perdas que as distribuidoras de energia elétrica têm por causa de fraudes ou "gatos". A complexidade social, medida por taxa de homicídios, urbanização e favelização, também explica por que, em algumas áreas, as pessoas são mais predispostas a fraudar os medidores de energia ou fazer ligações clandestinas.
Essa constatação é das distribuidoras de energia elétrica, com base em um estudo da Fundação Getulio Vargas feito por encomenda da Ampla, empresa cuja área de abrangência cobre 73% do território do Estado do Rio.
Para entender por que as perdas da empresa eram maiores em algumas áreas, a pesquisa levou em conta também outros indicadores, além da renda, que explicariam essa "complexidade social".
Foi elaborado então um Índice de Complexidade Social para todos os Estados, levando em conta a taxa de óbitos por agressão, a de urbanização e a proporção de domicílios em favelas. O Estado que apresentou maior complexidade social foi o Rio de Janeiro, que, por essa razão, teve a nota máxima na escala criada para comparação, que vai de 0 a 1.
No Rio, as perdas de energia por razões técnicas ou comerciais chegam a 19,9%. No Paraná, onde o índice (de 0,460) é metade do verificado no Rio, a perda de energia foi de apenas 7,3% -a menor do Brasil em 2004.
"Nós tínhamos na empresa perdas da ordem de 23%, mas, quando fazíamos comparações com os demais Estados da região Sudeste, percebíamos que as perdas lá ficavam em um dígito apenas. No nosso caso, percebemos que a complexidade social explica muito mais as perdas do que a questão econômica", afirma Carlos Ewandro Moreira, diretor de relações institucionais e comunicação da Ampla.
Dentro da área de atuação da Ampla foram comparadas, por exemplo, duas localidades com o mesmo perfil socioeconômico: o bairro Jardim Catarina (em São Gonçalo, região metropolitana do Rio) e o município de Itaperuna (no interior do Estado). A renda média do trabalhador em Itaperuna é de R$ 383, o número médio de anos de estudo do chefe do domicílio é de 4,3 e o número de moradores por domicílio é de 3,6. Jardim Catarina tem maior renda (R$ 452), mais escolaridade (5,4 anos) e menos moradores por domicílio (3,4), mas a perda de energia lá é muito maior (44,3%) do que em Itaperuna (24,1%).
Para os autores do estudo, nesse caso "os valores associados à cultura mostram-se mais importantes na determinação das perdas de energia do que elementos estritamente econômicos".
O Índice de Complexidade Social tem a vantagem de refletir com maior precisão problemas causados pela violência e pela informalidade em determinadas áreas das cidades, o que dificulta o trabalho de fiscalização e punição a fraudes e furtos.
O índice, no entanto, não reflete outros fatores que podem contribuir para a perda. Tanto que São Paulo, com a segunda maior complexidade social, tem perda média de 9,7%, bem inferior à do Rio.
Para Fernando Maia, diretor técnico-regulatório da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), uma cultura maior de impunidade também explica a diferença entre Estados. "Há Estados onde há uma cultura maior da impunidade, quando os juízes resistem mais a punir o consumidor por falta de pagamento. É também questão cultural que não vai se refletir nesse tipo de indicador."


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