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Sem Bevilaqua, BC melhora a sua comunicação com mercado
Reunião da diretoria do banco com mercado em São Paulo tem mais debate
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mudança na diretoria do
Banco Central, com a substituição de Afonso Bevilaqua pelo
economista Mário Mesquita na
diretoria de Política Econômica, poderá ser insuficiente para
forçar uma queda mais acelerada nos juros, mas já serviu para
o BC melhorar sua comunicação com o mercado financeiro.
A primeira reunião com economistas da era pós-Bevilaqua,
realizada nos dias 15 e 16 de
março, em São Paulo e no Rio
de Janeiro, foi marcada por
uma descontração incomum e
muito mais discussão, segundo
participantes relataram à Folha.
O primeiro sinal de mudanças foi a apresentação feita pelo
diretor de Política Monetária,
Rodrigo Azevedo, sobre o cenário internacional.
Azevedo está no BC desde
outubro de 2004 e sempre participou das reuniões com o
mercado. Mas não costumava
fazer apresentações. Ficava
sentado à mesa, e o papel de interlocutor cabia exclusivamente a Bevilaqua.
Até o presidente do BC, Henrique Meirelles, costumava ficar em segundo plano nas reuniões conduzidas pelo ex-diretor. Não raro, havia bate-boca
entre Bevilaqua e algum desavisado que discordasse das análises do Banco Central.
Na avaliação de um analista
que freqüenta esses encontros,
acabou aquele tom imperial do
BC que vigorava antes, embora
a análise continue tão conservadora quanto era a de Bevilaqua. Dessa vez, porém, o BC falou mais o que está pensando,
segundo esse analista.
A cada três meses, antes de
elaborar o relatório de inflação,
o BC organiza encontros com
cerca de 80 economistas de
bancos, consultorias e algumas
entidades de classe.
O objetivo é, de um lado, ouvir as opiniões do mercado e, de
outro, mandar o recado do BC
para que não haja surpresas
muito grandes em relação ao
que pensa a autoridade monetária e aumentar a previsibilidade das políticas.
Segundo o relato de um economista que esteve no encontro, com Bevilaqua, as reuniões
foram sendo esvaziadas porque
todos os participantes se continham para não enfrentar a ira
do diretor. Com Mesquita, os
interlocutores do BC se mostraram mais dispostos a falar,
estimulando o debate, disse o
economista.
Um dos sinais mais importantes que o BC deu aos economistas foi sobre o ritmo de redução dos juros. Em sua apresentação, o diretor Mário Mesquita ressaltou que um dos fatores de maior peso na análise
do BC não é o risco de alta da inflação, mas as incertezas associadas ao impacto que a redução já feita nos juros poderá ter
na economia.
Para o mercado, a leitura foi
uma só: mesmo com a melhora
no cenário econômico, o BC
não vai retomar os cortes de 0,5
ponto na Selic, a taxa básica de
juros. A política deverá continuar sendo a de 0,25 ponto.
A comunicação do BC com os
agentes econômicos é considerada fundamental no sistema
de metas de inflação. Isso porque é a percepção do mercado
sobre as ações do BC que influencia as expectativas de inflação futura.
Se os economistas acham que
o governo vai deixar os preços
subirem acima da meta fixada,
incorporam esses reajustes as
suas projeções e não aceitam
pagar juros mais baixos. No cenário contrário, se o Banco
Central tem credibilidade, o
mercado aceita cobrar taxas
menores do governo.
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