São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2008

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entrevista 2

"Valorização do real começou a surtir efeito"

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Roberto Giannetti, diretor de relações internacionais e de comércio exterior da Fiesp e sócio da Cotia Trading, as importações continuarão crescendo de maneira acelerada.

 

FOLHA - A queda na balança comercial era esperada?
ROBERTO GIANNETTI
- O aumento nas importações surpreendeu. Trabalhávamos com estimativa de crescimento de 25% a 30% em relação a 2007, mas o número superou os 44%. Como tudo na economia, há efeitos positivos e negativos. Entre os positivos, está a importação de máquinas e equipamentos, e a tendência agora de ajuste no câmbio.

FOLHA - A perspectiva de aumento na taxa básica de juros não pode acabar com o efeito de correção cambial?
GIANNETTI
- Sim, há efeitos opostos. O Banco Central erra ao aumentar taxa de juros porque afeta crescimento e câmbio e prestigia a arbitragem [operação especulativa de compra da moeda]. A redução do superávit tende a desvalorizar o real em relação ao dólar, mas a alta dos juros atrai capital especulativo e valoriza o real.

FOLHA - O que aconteceu para que houvesse o aumento de 44,1% nas importações?
GIANNETTI
- A sobrevalorização está começando a surtir efeito. O crescimento de 15% a 20% nas importações era pequeno para o câmbio atual. A economia está em alta, e a propensão a importar é grande por causa do aumento de renda e emprego. O lado ruim é que o aumento excessivo de importações destrói empregos na indústria nacional: troca-se a produção interna por importação.

FOLHA - Os negócios andam acelerados na Cotia Trading?
GIANNETTI
- Sim, há muita demanda por matérias-primas, como produtos siderúrgicos e químicos.

FOLHA - Mesmo em áreas nas quais a indústria brasileira é competitiva?
GIANNETTI
- Os produtos siderúrgicos, por exemplo, têm bom custo de produção, mas preço final alto. A indústria nacional ainda conta com proteções, como imposto de importação de 12%. O quadro de entrega também não agrada aos clientes porque há empresas que estão com a produção saturada ou têm prazos muito longos.

FOLHA - As importações tendem a continuar em alta?
GIANNETTI
- Sim, elas continuarão crescendo de forma acelerada porque há demanda contratada de produtos para os próximos 90 a 180 dias no mesmo nível atual.

FOLHA - Haverá superávit?
GIANNETTI
- Esperamos que o superávit seja mais ou menos a metade do ano passado, algo ao redor de US$ 20 bilhões, no máximo. Ainda é um bom superávit, que dá liquidez ao país e capacidade de gerar reservas, mas é ruim porque tem efeito negativo sobre o PIB. Poderíamos crescer 6% se não fosse pelas contas externas.


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