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entrevista 2
"Valorização do real começou a surtir efeito"
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Roberto Giannetti, diretor de relações internacionais e de comércio exterior da Fiesp e sócio da Cotia Trading, as importações continuarão crescendo de maneira acelerada.
FOLHA - A queda na balança comercial era esperada?
ROBERTO GIANNETTI - O aumento nas importações surpreendeu. Trabalhávamos
com estimativa de crescimento de 25% a 30% em relação a 2007, mas o número
superou os 44%. Como tudo
na economia, há efeitos positivos e negativos. Entre os
positivos, está a importação
de máquinas e equipamentos, e a tendência agora de
ajuste no câmbio.
FOLHA - A perspectiva de aumento na taxa básica de juros
não pode acabar com o efeito de
correção cambial?
GIANNETTI - Sim, há efeitos
opostos. O Banco Central erra ao aumentar taxa de juros
porque afeta crescimento e
câmbio e prestigia a arbitragem [operação especulativa
de compra da moeda]. A redução do superávit tende a
desvalorizar o real em relação ao dólar, mas a alta dos
juros atrai capital especulativo e valoriza o real.
FOLHA - O que aconteceu para
que houvesse o aumento de
44,1% nas importações?
GIANNETTI - A sobrevalorização está começando a surtir
efeito. O crescimento de 15%
a 20% nas importações era
pequeno para o câmbio
atual. A economia está em alta, e a propensão a importar é
grande por causa do aumento de renda e emprego. O lado ruim é que o aumento excessivo de importações destrói empregos na indústria
nacional: troca-se a produção interna por importação.
FOLHA - Os negócios andam
acelerados na Cotia Trading?
GIANNETTI - Sim, há muita demanda por matérias-primas,
como produtos siderúrgicos
e químicos.
FOLHA - Mesmo em áreas nas
quais a indústria brasileira é competitiva?
GIANNETTI - Os produtos siderúrgicos, por exemplo,
têm bom custo de produção,
mas preço final alto. A indústria nacional ainda conta
com proteções, como imposto de importação de 12%. O
quadro de entrega também
não agrada aos clientes porque há empresas que estão
com a produção saturada ou
têm prazos muito longos.
FOLHA - As importações tendem a continuar em alta?
GIANNETTI - Sim, elas continuarão crescendo de forma
acelerada porque há demanda contratada de produtos
para os próximos 90 a 180
dias no mesmo nível atual.
FOLHA - Haverá superávit?
GIANNETTI - Esperamos que o
superávit seja mais ou menos a metade do ano passado,
algo ao redor de US$ 20 bilhões, no máximo. Ainda é
um bom superávit, que dá liquidez ao país e capacidade
de gerar reservas, mas é ruim
porque tem efeito negativo
sobre o PIB. Poderíamos
crescer 6% se não fosse pelas
contas externas.
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