São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2008

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Bolsa sobe 3% com otimismo nos EUA

Avaliação de prejuízos e captação de recursos por bancos levam investidores a prever que final da crise está mais perto

Analistas alertam, porém, de que bom humor pode não durar, já que as causas das turbulências ainda não foram solucionadas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Por paradoxal que seja, resultados ruins de instituições financeiras foram os maiores responsáveis, ontem, pela elevação de 2,96% da Bolsa de Valores de São Paulo, que terminou o dia aos 62.774 pontos. O dólar comercial recuou 0,45%, vendido a R$ 1,745.
Após o banco suíço UBS anunciar que vai colocar no seu balanço mais US$ 19 bilhões (cerca de R$ 33,15 bilhões) em perdas relacionadas ao mercado imobiliário dos EUA e o americano Lehman Brothers informar que captou US$ 4 bilhões com uma emissão de ações para garantir que continuará de pé, os investidores em Wall Street comemoraram. Com o pouco de luz que tais fatos lançam sobre a situação das instituições -grande dúvida a perturbar os investidores nos últimos meses-, a Bolsa de Nova York avançou sólidos 3,67%, e a Nasdaq (onde se negociam ações de empresas de tecnologia) subiu 3,19%, em um movimento seguido de perto pela Bovespa durante todo o pregão.
As cotações de commodities também responderam, caindo. O ouro recuou 3,66%, e o barril de petróleo teve queda de 0,6%, a US$ 100,98 na Nymex (Bolsa de Mercadorias de Nova York).
Desde que estourou a crise, no início do segundo semestre do ano passado, o mercado se pergunta qual é a verdadeira extensão dos danos causados aos bancos pela inadimplência entre os mutuários ditos "subprime" (de alto risco) nos EUA.
Havia a desconfiança de que as instituições não estavam informando a totalidade dos prejuízos até porque não conseguiam contabilizá-los, o que alimentou boatos catastróficos sobre a sua saúde e ainda uma forte oscilação nas Bolsas. A incerteza tem sido o problema essencial.
A escrituração das perdas do UBS e o êxito do Lehman Brothers em obter os fundos de que precisa sustentam a esperança de que a apuração dos prejuízos esteja melhorando e os bancos tenham encontrado formas de se reequilibrar.
No entanto, o alívio deve ser apenas momentâneo. "Isso afasta temporariamente o risco de uma crise sistêmica. Mas os investidores ainda estão muito perdidos. Como os últimos cinco anos foram bem tranqüilos, o mercado se desacostumou a lidar com a volatilidade", afirma Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset Management. "Até porque a causa das dificuldades das instituições, que é a desvalorização das casas dadas como garantias pelos clientes para pegar empréstimos, ainda não foi resolvida. Os preços tendem a cair mais."
Max Bueno, analista da corretora Spinelli, concorda: "O que vimos hoje [ontem] foi uma reação pontual. O mercado continuará acompanhando com máxima atenção tanto os balanços dos bancos quanto os dados a respeito do setor imobiliário". Na sua opinião, é difícil prever quando se poderá de fato falar que o pior já passou. "Para alguns, o cenário melhora na segunda metade do ano. Para outros, mais pessimistas, somente em 2009."
Além da situação das instituições financeiras, o medo de que as dificuldades que elas atravessam atinjam outros setores da economia americana está no topo das preocupações dos investidores. Por esse motivo, a divulgação, pela consultoria ISM, de que a atividade da indústria dos EUA cresceu em março também ajudou a levantar os ânimos na terça-feira. O indicador ficou em 48,6 pontos.
Leituras abaixo de 50 pontos indicam contração e, acima, expansão. Em fevereiro, o índice tinha registrado 48,3 pontos e o consenso dos economistas era o de que recuaria para 47,5 pontos no mês passado.

Ações
Na Bovespa, os papéis da Vale tiveram valorização com o financiamento recorde que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou para a companhia. O PN subiu 2,18%, para R$ 51,90, e o ON (ordinário) avançou 2,06%, a R$ 61,75.


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