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LUÍS NASSIF
A mudança do Estado brasileiro
No segundo Relatório
Anual de Avaliação do Plano Plurianual -o chamado
"Avança Brasil", tema de minha
coluna de ontem-, conseguiu-se
pela primeira vez criar indicadores relevantes para cada programa, medir e avaliar os problemas
e avanços.
Isso não significa que todos os
programas foram bem sucedidos,
longe disso. Significa que se conquistaram dois avanços irreversíveis na administração pública. O
primeiro foi a criação de indicadores de acompanhamento, passo inicial para qualquer trabalho
de gestão. Por meio dos indicadores sabe-se quem produz, quem
não produz, o que precisa ser reforçado e o que precisa ser aprimorado.
O segundo avanço foi ter lançado as bases para toda uma nova
geração de funcionários públicos
trabalhando dentro do novo conceito de empreendedorismo. São
gerentes incumbidos de tocar os
programas, interagindo entre os
diversos ministérios e responsabilizando-se pela avaliação final.
No relatório apresentado ao
Congresso, o principal obstáculo
identificado pelos gerentes não
foi a receita. Em 140 programas,
a dificuldade maior foi montar
contratos, convênios e licitações
(gestão de contratos). Em 84 foi o
contingenciamento orçamentário e, em 79, o atraso na liberação
de recursos.
O levantamento mostra a nítida necessidade de investir pesadamente na gestão de recursos
humanos. Em 220 programas,
65% do total, as dificuldades
eram a quantidade e a qualificação dos funcionários envolvidos.
O próximo presidente da República precisará investir pesadamente em capacitação, porque a
base está formada. A elite anterior dos funcionários públicos foi
formada nos anos 70. Muitos se
aposentaram e não foram substituídos.Agora, com carreiras estratégicas definidas, é hora de investir pesadamente na nova geração.
O papel dos gerentes é ajudar a
definir os objetivos, integrando
toda a organização em torno deles. Há um conflito inerente entre
o gerente e o gestor tradicional,
formado dentro de um sistema
burocrático. Por isso mesmo, o
papel dos gerentes não pode ficar
restrito ao manejo da informação. Há um sistema indireto de
avaliar se estão participando das
decisões, da formulação do orçamento, do estabelecimento das
metas, da programação financeira, da distribuição dos recursos
humanos.
Ponto relevante são os sistemas
de avaliação. Cada gerente avalia seu programa. Depois o seu
ministério faz uma análise crítica da avaliação do gerente, inclusive do ponto de vista setorial. As
secretarias de planejamento e orçamento de cada ministério
coordenam a avaliação setorial.
O texto sai por consenso. Em cada programa reúnem-se todos os
ministérios de um lado, o órgão
de planejamento setorial e o gerente do outro, e as secretarias de
Planejamento, de Orçamento, de
Gestão, o Ipea e o Departamento
de Estatais. Daí sai o relatório setorial. Para terminar o relatório
final houve 22 reuniões setoriais,
com meio dia cada, com o objetivo de fazer a agenda setorial de
2002.
Na terceira etapa, o Ministério
do Planejamento avalia o conjunto de programas do ministério, o plano, o cenário macroeconômico (previsão inicial de receita), comparando-os com o cenário de referência, identificando
receita e despesa, obrigações fiscais, quantidade de dinheiro,
alocação estratégica nos ministérios.
É ponto relevante que, mesmo
com o desmonte do Estado no período Sarney e com os chamados
ventos neoliberais dos anos 90, o
Estado brasileiro não perdeu a
estrutura de planejamento. Além
da manutenção do Ministério do
Planejamento, cada ministério
preservou sua estrutura, ainda
que escassamente utilizada até
há pouco tempo.
Antes de se meter a montar planos vagos, cada presidenciável
deveria incumbir sua equipe de
ler o relatório, que está no Congresso. O relatório, em si, contém
um programa de governo completo, com todas as ferramentas
para ser implementado. O próximo presidente precisará apenas
redefinir suas prioridades, de
acordo com suas propostas de
campanha. Depois, a máquina
pública responderá adequadamente, se houver continuidade
na modernização da gestão.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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