São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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SHOW SINDICAL

Mesmo com uma maior proximidade com o Planalto, CUT ganhou no ano passado cerca de 10% do valor de 2000

Força ainda recebe mais repasses do governo

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CUT corre o risco de registrar queda nos repasses de recursos da União pelo segundo ano seguido, desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores.
No ano passado, o repasse à central representou pouco mais de 10% do valor transferido em 2000, sem contar com a inflação do período, de acordo com o Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais).
A maior proximidade com o Palácio do Planalto nos 20 anos de existência da CUT ameaça impor à maior central sindical do país uma segunda perda, ainda mais significativa, embora menos provável: a divisão da sua base -fustigada pela ala mais radical da central e por sindicatos de funcionários públicos com uma greve nacional já convocada para a semana que vem.
Sinais de uma crise de identidade, no entanto, são refutados tanto pela direção da central como por ex-cutistas que integram agora o governo. "É natural uma relação conflituosa entre central e o governo, temos uma posição crítica", avalia Luiz Marinho, amigo de Lula e presidente da CUT.
Interlocutores do presidente dizem que ele não esperava que a central agisse como "cordeirinho", assim como não conta com um confronto maior nem com o esvaziamento da CUT no período de seu mandato.

Repasses
Levantamento feito no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais) pelo gabinete do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS) mostra que a CUT vem recebendo menos recursos para qualificação profissional e atendimento a desempregados desde 2001.
A queda mais acentuada, no entanto, coincidiu com o primeiro ano de mandato do presidente Lula, quando as centrais sindicais deixaram de receber verbas do programa federal para treinamento de mão-de-obra.
Até 2000, a CUT recebia mais verbas da União do que a Força Sindical, a segunda maior central sindical do país. Desde a posse de Lula, a Força Sindical recebe bem mais do que o dobro da fatia destinada à CUT, para surpresa de outros de seus ex-fundadores que integram o primeiro escalão do governo.
A redução dos repasses federais para as centrais coincidiu com uma determinação do TCU (Tribunal de Contas da União) anunciada em julho do ano passado.
O tribunal constatou irregularidades no uso das verbas públicas destinadas ao treinamento dos trabalhadores. Na mesma época, o programa era reformulado: mudou de nome -de Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador, Planfor, para Plano Nacional de Qualificação, PNQ-, e a intermediação passou a ser feita sobretudo pelos Estados.
Entre as irregularidades atribuídas à CUT, o tribunal encontrou registros de um único trabalhador matriculado em 25 cursos de treinamento em seis municípios diferentes. Chamava-se Adão de Jesus Evling Naysinger.
Desde o ano passado, os repasses diretos da União às centrais ficaram limitados ao dinheiro destinado ao atendimento aos desempregados. Até 27 de abril, a fatia da CUT referente ao ano de 2004 não havia alcançado R$ 1 milhão. No mesmo período, a Força Sindical recebeu R$ 2,6 milhões.
Esses números podem ser explicados pela diferença de estilo de atuação das duas centrais. A CUT sempre investiu mais na sua atuação política, enquanto a Força apostou no chamado sindicalismo de resultados e na prestação de serviços aos associados.

Parcerias
Foram dois os principais momentos de parceria entre CUT e o governo desde a posse de Lula, além da festa de 20 anos da central, em agosto passado, que contou com a presença do próprio presidente e patrocínio de empresas estatais.
Em setembro de 2003, a CUT "faturou" a decisão do governo de regulamentar os empréstimos bancários a trabalhadores com desconto nas folhas de salários das empresas.
No mês passado, Luiz Marinho intermediou a proposta de melhorar os reajustes salariais oferecidos à fatia mais numerosa de funcionários públicos.
O presidente da CUT pediu R$ 1 milhão a mais para os reajustes, o governo ofereceu R$ 300 mil. Ambos tentam evitar a greve marcada para o dia 10.
Desde o ano passado, Luiz Marinho propõe a criação de 1 milhão de empregos em caráter emergencial. Na véspera do Dia do Trabalho, Lula sinalizou que estaria disposto a abrir frentes de trabalho para a recuperação de rodovias federais, pelo menos. Também mandou estudar a correção da tabela do Imposto de Renda.
Um outro aceno importante de Lula é a proposta contida na reforma sindical que deverá ser submetida ao Congresso no ano que vem e destina 10% da contribuição sindical dos trabalhadores aos cofres das centrais. A contribuição subiria do equivalente hoje a um dia de trabalho para 1% dos vencimentos dos trabalhadores.


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