São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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COMÉRCIO MUNDIAL

Para Associação dos Manufatureiros, brasileiros podem perder investimentos por dificultar negociações no bloco

Indústria dos EUA ataca ação do Brasil na Alca

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O governo brasileiro está dificultando as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), especialmente no caso das regras de proteção à propriedade intelectual. A atitude afastará os investimentos diretos no país. Essa é a opinião do diretor de Política e Comércio Internacional da Associação Nacional de Manufatureiros dos Estados Unidos, Scott Otteman, 44.
Em entrevista à Folha, Otteman, que representa a maior associação da indústria dos EUA, disse que há uma competição "enorme para atrair investimentos estrangeiros, e o desejo de vender para o mercado brasileiro não é mais suficiente para atraí-los ao Brasil".
Na avaliação de Otteman, o maior acesso ao mercado dos EUA ampliará os investimentos no Brasil: "A combinação de regras de investimento [proteção da propriedade intelectual] fortes e um acesso ao mercado de toda a América, incluindo o principal mercado que é os EUA, seria um fator fundamental para o Brasil atrair mais investimentos estrangeiros". Ele destaca que os investimentos caíram de US$ 33 bilhões em 2000 para US$ 10 bilhões em 2003.
Otteman disse que a adesão à Alca daria ao Brasil mais competitividade em relação a outros emergentes, que também querem vender seus produtos no mercado norte-americano.
Para ele, a Alca possível, num primeiro momento, será um acordo em "várias camadas", sem tratar dos subsídios agrícolas. O modelo, disse, foi o que resultou da reunião ministerial da Alca em Miami, em setembro de 2003.
Haveria, segundo Otteman, um acordo mais amplo, que abrangeria algumas regras básicas e uma redução mínima de tarifas, e a possibilidade de negociações paralelas mais ambiciosas entre os parceiros.

Pirataria
Ele propõe que, quanto melhores as regras de proteção à propriedade intelectual, maior o acesso ao mercado (redução de tarifas de importação). Esse é o ponto mais sensível para a indústria dos EUA, que teme a pirataria e a quebra de patentes. O governo brasileiro recusa-se a negociá-lo na Alca, com outros dois itens: comércio de serviços e compras governamentais.
"A eliminação de algumas tarifas deveria ser reservada unicamente para aqueles países que concordem em selar acordos adicionais com regras melhores de proteção à propriedade intelectual, comércio de serviços e compras governamentais. Existem sinais de que os nossos governos partilham dessas idéias", afirmou.
Ele elogiou a política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assegurou "a estabilidade", mas disse que "o governo não tem pensado no futuro nem adotado medidas direcionadas ao mercado na área de politica comercial".
Em linha com a posição do governo norte-americano, Otteman defende que a questão do protecionismo agrícola seja tratada na OMC (Organização Mundial do Comércio), em razão dos altos subsídios concedidos pela União Européia.
"É uma questão que os EUA não podem abrir mão porque o nosso principal competidor nessa área não é o Brasil. É a União Européia, o principal usuário desse tipo de subsídio, assim como o Japão."

Kerry
Se o candidato democrata ao governo dos Estados Unidos, John Kerry, vencer as eleições presidenciais deste ano, ele prevê que as negociações para a formação da Alca sofram um atraso.
"Com certeza, haverá uma interrupção se o senador Kerry for eleito. Isso se um acordo não tiver sido anunciado até então."
O prazo original para a criação do bloco é janeiro de 2005, mas, para negociadores de vários países -incluindo o Brasil-, a data já é inviável. "Estamos trabalhando com esse prazo, mas será um desafio", disse.
Segundo Otteman, Kerry manterá uma posição liberal no comércio internacional, assim como Bush. Nos EUA, os democratas são considerados mais protecionistas em questões comerciais do que os republicanos.
"A forma como ele [Kerry] votou nos últimos anos no Senado tem sido pelo liberalismo no comércio internacional, embora tenha mais preocupações em incluir no acordos questões ambientais e trabalhistas do que o governo Bush", disse Otteman.
A Associação Nacional dos Manufatureiros tem 14 mil empresas filiadas e 300 entidades setoriais vinculadas a ela nos EUA.


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