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Presidente da Petrobras diz que ato
pode levar a "situação dramática"
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A HOUSTON, TEXAS
O presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, disse ontem que
a decisão do governo da Bolívia
de nacionalizar as reservas de gás
e as refinarias da estatal naquele
país foi "unilateral" e "não amistosa" e que pode levar a "situações
dramáticas".
"O decreto, a nosso ver, coloca
muitas definições e, ao mesmo
tempo, indefinições muito grandes que podem levar a situações
dramáticas", disse.
Apesar do tom de preocupação,
Gabrielli disse que, a principio, os
campos da estatal na Bolívia estão
operando normalmente e que o
gás está sendo enviado para o
Brasil. Antes de discutir como ficarão os ativos da companhia na
Bolívia depois do decreto de nacionalização, Gabrielli disse que
"a principal preocupação é manter a regularidade do fornecimento de gás ao Brasil".
Para Gabrielli, a decisão exige
uma "reação forte" da companhia. "O governo da Bolívia tomou medidas unilaterais, de forma não amistosa, que nos obrigam a reagir", afirmou.
Ele não descartou a possibilidade de a Petrobras ir à Justiça para
assegurar o direito de propriedade dos campos e dos ativos na Bolívia. "A Petrobras tomará todas
as medidas que foram necessárias
para preservar seus direitos. Todos. Quaisquer que sejam, em todos os níveis", afirmou Gabrielli.
O presidente da Petrobras se
disse surpreso com o teor do decreto e que em nenhum momento
das negociações a empresa foi avisada de que haveria o risco ver
seus ativos nacionalizados.
Gabrielli afirmou ainda que o
decreto tem vários pontos obscuros e indefinidos, como se haverá
ou não ressarcimento pela retomada da propriedade dos campos
e das duas refinarias que a Petrobras controla na Bolívia.
Outro ponto indefinido, segundo Gabrielli, é o preço do gás, que,
pelo decreto, passará a ser fixado
pelo governo boliviano.
Gabrielli soube do decreto ontem durante um almoço em
Houston (EUA) com a imprensa
brasileira e executivos da empresa, que visitaram a refinaria recém-adquirida de Pasadena.
No almoço, o diretor Paulo Roberto Costa ironizou a decisão de
Morales: "Hoje é 1º de Maio [Dia
do Trabalho] e ele tinha de fazer
uma festa. E fez uma festa."
Em razão da crise na Bolívia,
Gabrielli antecipou em um dia a
volta ao Brasil e retornaria ontem.
GNV mais caro
Para desestimular o consumo
no país de gás natural -produto
que importa da Bolívia-, a Petrobras fez proposta ao governo
brasileiro para reduzir a tributação sobre a gasolina e aumentar
sobre o GNV (Gás Natural Veicular), cujo consumo atual cresce a
taxa de cerca de 20% ao ano e já
atinge 3 milhões de m3/ dia.
O Brasil consome cerca de 32
milhões de m3 de gás por dia, sendo 26 milhões da Bolívia.
Segundo o diretor de Exploração e Produção da companhia,
Guilherme Estrella, não faz sentido estimular o consumo de gás
veicular se existe hoje sobra de gasolina no país, produto que o Brasil exporta.
"O GNV é um produto que o
Brasil ainda não tem em abundância, enquanto temos gasolina,
que pode ser seu substituto, sobrando", disse ele.
Na visão de Estrella, se o mercado de GNV continuar aumentando no atual ritmo, a necessidade
de importação de gás natural
crescerá nos próximos anos -ao
menos enquanto a Petrobras não
começar a explorar as reservas
dos campos da bacia de Santos.
Mantido o ritmo, a Petrobras
estima que em 2010 o consumo de
gás natural no Brasil será de 115
milhões de m3 por dia, dos quais
70 milhões seriam atendidos pela
produção dos campos nacionais.
Outros 30 milhões viriam da Bolívia. Haveria um déficit potencial
de 15 milhões de m3.
O jornalista Pedro Soares viajou a convite da Petrobras
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