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LUÍS NASSIF
A Petrobras e a Bolívia
A Petrobras não quer ser
confundida com as diversas empresas petrolíferas que
chegaram à Bolívia no bojo da
privatização de parte da YPFB
(a estatal petrolífera boliviano). Quem me disse isso foi o
presidente da Petrobrás José
Sergio Gabrielli de Azevedo em
e-mail deste final de semana,
antes do anúncio da ocupação
dos campos de petróleo pelo
exército boliviano.
A Petrobrás chegou à Bolívia
em 1996, dentro de um acordo
celebrado entre os governos dos
dois Estados nacionais. De um
lado, esses acordos possibilitariam a exploração e produção
das potenciais reservas de gás
natural da Bolívia, que se encontravam pouco exploradas e
utilizadas até então. Por outro,
ajudariam no desenvolvimento do mercado de gás natural
que tinha naquele momento
participação inexpressiva na
oferta de energia no Brasil.
Depois disso, ocorreu a privatização (chamada de capitalização na Bolívia), por meio da
segmentação e venda de ativos
da YPFB, permitindo a entrada no mercado boliviano de
multinacionais sem histórico
relevante de atuação no país e
sem compromissos maiores
com o desenvolvimento do
país.
Além de desenvolver as reservas de gás, a Petrobras garantiu a infra-estrutura e também
o mercado, que representa hoje
em dia a maioria das exportações bolivianas. A unidade de
negócios que a Petrobras instalou na Bolívia operou desde o
início em colaboração próxima
com a estatal boliviana YPFB.
Além de montar sociedade
com a YPFB, financiando e
construindo o trecho boliviano
do duto (posteriormente privatizado), buscando gás nos campos de San Alberto e San Antonio, a Petrobras assumiu o risco exploratório. A YPFB tinha
a opção de associar-se com
50% de participação em caso
de êxito. Posteriormente, essas
participações da YPFB também foram privatizadas.
Durante os dez primeiros
anos do gasoduto, continua
Gabrielli, a Petrobras comercializou o gás com perdas, visando fomentar o uso do combustível no Brasil, ao mesmo
tempo em que garantia o pagamento do gás contratado. Ou
seja, a Petrobras assumiu os
riscos de transportar e comprar
o gás boliviano em um momento em que a Bolívia não
dispunha de reservas suficientes para cumprir o contrato e o
mercado de gás do Brasil não
estava suficientemente desenvolvido.
As demais empresas só ingressaram na Bolívia quando
esses riscos já haviam sido assumidos pela Petrobras.
Em 2003 a Bolívia começou a
discutir o fortalecimento da
YPFB. A Petrobras ofereceu
apoio técnico e gerencial, parceria nas refinarias no relançamento da rede de postos com a
marca YPFB, além de sociedades em novas áreas de exploração e produção na Bolívia, nos
moldes dos contratos originais
para San Alberto e San Antonio.
Também desde 2003 a Petrobras vem oferecendo a possibilidade de aumentar os investimentos, viabilizando projetos
com objetivo de industrializar
o gás na Bolívia. Já se ofereceu
para participar de usinas termelétricas, redes de distribuição de gás e, principalmente, e
da construção de um pólo gás-químico na fronteira.
Por esse motivo, espera não
ser enxergada da mesma maneira que as empresas que vieram na esteira da privatização.
E-mail:
luisnassif@uol.com.br
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