São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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LUÍS NASSIF

A Petrobras e a Bolívia

A Petrobras não quer ser confundida com as diversas empresas petrolíferas que chegaram à Bolívia no bojo da privatização de parte da YPFB (a estatal petrolífera boliviano). Quem me disse isso foi o presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli de Azevedo em e-mail deste final de semana, antes do anúncio da ocupação dos campos de petróleo pelo exército boliviano.
A Petrobrás chegou à Bolívia em 1996, dentro de um acordo celebrado entre os governos dos dois Estados nacionais. De um lado, esses acordos possibilitariam a exploração e produção das potenciais reservas de gás natural da Bolívia, que se encontravam pouco exploradas e utilizadas até então. Por outro, ajudariam no desenvolvimento do mercado de gás natural que tinha naquele momento participação inexpressiva na oferta de energia no Brasil.
Depois disso, ocorreu a privatização (chamada de capitalização na Bolívia), por meio da segmentação e venda de ativos da YPFB, permitindo a entrada no mercado boliviano de multinacionais sem histórico relevante de atuação no país e sem compromissos maiores com o desenvolvimento do país.
Além de desenvolver as reservas de gás, a Petrobras garantiu a infra-estrutura e também o mercado, que representa hoje em dia a maioria das exportações bolivianas. A unidade de negócios que a Petrobras instalou na Bolívia operou desde o início em colaboração próxima com a estatal boliviana YPFB.
Além de montar sociedade com a YPFB, financiando e construindo o trecho boliviano do duto (posteriormente privatizado), buscando gás nos campos de San Alberto e San Antonio, a Petrobras assumiu o risco exploratório. A YPFB tinha a opção de associar-se com 50% de participação em caso de êxito. Posteriormente, essas participações da YPFB também foram privatizadas.
Durante os dez primeiros anos do gasoduto, continua Gabrielli, a Petrobras comercializou o gás com perdas, visando fomentar o uso do combustível no Brasil, ao mesmo tempo em que garantia o pagamento do gás contratado. Ou seja, a Petrobras assumiu os riscos de transportar e comprar o gás boliviano em um momento em que a Bolívia não dispunha de reservas suficientes para cumprir o contrato e o mercado de gás do Brasil não estava suficientemente desenvolvido.
As demais empresas só ingressaram na Bolívia quando esses riscos já haviam sido assumidos pela Petrobras.
Em 2003 a Bolívia começou a discutir o fortalecimento da YPFB. A Petrobras ofereceu apoio técnico e gerencial, parceria nas refinarias no relançamento da rede de postos com a marca YPFB, além de sociedades em novas áreas de exploração e produção na Bolívia, nos moldes dos contratos originais para San Alberto e San Antonio.
Também desde 2003 a Petrobras vem oferecendo a possibilidade de aumentar os investimentos, viabilizando projetos com objetivo de industrializar o gás na Bolívia. Já se ofereceu para participar de usinas termelétricas, redes de distribuição de gás e, principalmente, e da construção de um pólo gás-químico na fronteira.
Por esse motivo, espera não ser enxergada da mesma maneira que as empresas que vieram na esteira da privatização.


E-mail:
luisnassif@uol.com.br



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