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"Risco-Bolívia" já reduz uso de gás no país
Conversão de carros cai 65% em abril; indústrias e residências buscam alternativa por temor de nova crise com vizinho
Grandes consumidores
tentam garantir fonte de
energia alternativa ao
produto boliviano em caso
de novas interrupções
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Batizado de "risco-Bolívia", o
receio quanto ao futuro do suprimento de gás natural no
Brasil fez cair o número de conversões de veículos movidos a
GNV (gás natural veicular) e
provocou uma corrida de indústrias dispostas a trocar o
combustível ou investirem em
tanques de emergência de GLP
(gás de cozinha).
Tal receio cresceu depois da
interrupção, no mês passado,
da produção do campo de San
Alberto, que obrigou o corte do
gás à Argentina e à usina térmica de Cuiabá (MT) e quase afetou a distribuição da Petrobras.
O episódio provocou uma retração de 65% nas conversões
de veículos a gás em abril, segundo a Abegás (Associação
Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás). Em média,
são convertidos cerca de 20 mil
veículos por mês.
O presidente da Abegás, Armando Laudario, disse que, sob
risco de desabastecimento de
gás, o primeiro segmento a sofrer é o do GNV. "As pessoas
vêem uma notícia como essa na
TV, de que pode faltar gás, ligam para a oficina e desmarcam a conversão", disse.
Segundo ele, o crescimento
cada vez menor do GNV explica
a desaceleração do mercado de
gás natural no país, que crescia
à taxa de 20% ao ano até 2004.
Em 2005, o ritmo já foi menor
(8%). Em 2006, ficou em apenas 4%.
Para Francisco Barros, vice-coordenador do Comitê de
GNV do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), o setor já havia sentido uma redução das
conversões por conta do aumento de até 23% do gás natural nacional da Petrobras a partir de ontem, que nos postos
tendem a chegar a 8%.
Na indústria, diz Barros, não
há como reduzir o consumo,
mas as distribuidoras já sentem
demanda maior de empresas
que procuraram a troca do gás
natural por outro combustível.
Não fosse o receio de desabastecimento, avalia, o segmento industrial, que corresponde a cerca de 60% do consumo, poderia estar crescendo a
taxas maiores. Em fevereiro, a
expansão foi de só 2,5%.
O temor de serem obrigadas
a parar suas linhas de produção
por falta de gás e amargarem
prejuízos enormes fez com que
muitas indústrias trocassem o
gás de suas caldeiras, fornos e
outros equipamentos por combustíveis alternativos, especialmente o GLP.
As distribuidoras de GLP
(gás de cozinha) já notaram a
demanda crescente de indústrias e empresas comerciais
que buscam tanto a conversão
do gás para o GLP como a instalação de tanques para uso como
"backup" -ou seja, para suprir
a unidade emergencialmete em
caso de falta de gás natural.
A SHV Gas Brasil, uma das
maiores distribuidoras de GLP
do país, já foi procurada por
mais de 30 empresas que querem investir em equipamentos
de "backup". Outras dez pretendem abandonar o uso de gás
natural e substitui-lo por GLP.
Segundo Rubem Mesquita,
diretor de marketing e vendas
da SHV, dona das marcas Supergasbras e Minas Gás, as indústrias com grande consumo
e nas quais o peso do combustível no custo de produção é elevado optam pela instalação de
tanques de "backup".
Já as indústrias menores ou
que não são tão dependentes do
gás partem direto para a substituição, diz Mesquita.
É o caso da lavanderia catarinense Hospitec Produtos Hospitalares, que, insatisfeita com
os resultados do gás natural, está convertendo suas unidades
para o uso de GLP.
A empresa de autopeças Mubeia do Brasil e a companhia de
equipamentos para energia
Icomisa também já realizaram
a conversão.
Mesquita disse que empresas
maiores e intensivas no uso de
gás natural, como Ambev, Acesita e Gerdau, já procuraram a
SHV para instalar unidades de
"backup".
O superintendente da Abividros (Associação Nacional dos
Produtores de Vidros), Lucien
Belmont, disse que, para as indústrias intensivas em gás, como vidreiras, siderúrgicas e
químicas, é inviável usar GLP
por causa da dificuldade de armazenar grandes volumes e em
razão do elevado custo.
Enquanto o gás natural sai
por cerca de US$ 6 o milhão de
BTU (medida de energia), o
GLP sai por volta de US$ 12.
"O que aconteceu foi que a
Petrobras estimulou o consumo há quatro anos e fez tudo
mundo converter para gás natural. Agora, as indústrias vivem com uma faca apontada,
que é o risco de desabastecimento da Bolívia e a possibilidade de um racionamento de
gás em 2008 ou 2009", disse
Belmont.
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