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Reciclagem em baixa deteriora vida em favelas
DA SUCURSAL DO RIO
Ao arrastar para baixo o preço do material para reciclagem
(alumínio, ferro, papelão), a
crise global piorou as condições
já degradantes de vida dos jovens da favela Parque Fraternidade, em Duque de Caxias, na
região metropolitana do Rio.
A comunidade sobrevive, basicamente, da coleta de material do aterro de Gramacho.
O Parque Fraternidade é um
amontoado de construções
precárias, em terreno alagado,
onde vivem 3.000 famílias, pelo
cálculo da associação de moradores. Não tem escola, posto de
saúde, esgoto ou calçamento, e
pelo menos um terço dos jovens não estuda nem trabalha.
E há o tráfico de drogas, controlado pelo Comando Vermelho.
Durante a reportagem, um
traficante, descalço e com rádio
de comunicação na mão, apresentou-se para pedir emprego.
""Soube que a senhora veio tratar de emprego. Trabalho na
boca de fumo e preciso sair desta vida. Estou nas suas mãos",
disse o rapaz, que disse ser Rafael Oliveira Silva, 25.
"Aqui, tudo é ao contrário",
afirmou Anderson da Silva Vicente, 28, pai de três filhos, e
catador de material para reciclagem no lixão de Gramacho.
Depois que o preço da lata de
alumínio caiu de R$ 3,20 para
R$ 1,20 o quilo, ele passou a catar cobras e rãs no poluído rio
Sarapuí para vender.
Leonardo da Rocha, 19, vive
com cinco irmãos desempregados. Indagado sobre como vive,
os amigos responderam: ""Rouba". Ele não contestou.
Foi nesse cenário que o paraibano Aldenúbio Pereira de
Souza, 21, segundo grau completo, desembarcou há três
anos, proveniente do Ceará. Ele
sobrevive como mascate, vendendo roupa de cama, mesa e
banho de casa em casa.
O rapaz é pouco otimista em
relação a conseguir um emprego com carteira assinada. ""É
para quem tem peixinho", afirmou, referindo-se a apadrinhamento para a colocação no
mercado de trabalho formal.
Gleison Oliveira Guimarães,
23, pai de quatro filhos, tem no
bolso a carteira de trabalho, em
branco, para a eventualidade de
aparecer emprego.
Com a habilidade de fazer desenhos com navalha no couro
cabeludo, sobrevive com um
salão improvisado.
(EL)
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