São Paulo, sábado, 02 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reciclagem em baixa deteriora vida em favelas

DA SUCURSAL DO RIO

Ao arrastar para baixo o preço do material para reciclagem (alumínio, ferro, papelão), a crise global piorou as condições já degradantes de vida dos jovens da favela Parque Fraternidade, em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio.
A comunidade sobrevive, basicamente, da coleta de material do aterro de Gramacho.
O Parque Fraternidade é um amontoado de construções precárias, em terreno alagado, onde vivem 3.000 famílias, pelo cálculo da associação de moradores. Não tem escola, posto de saúde, esgoto ou calçamento, e pelo menos um terço dos jovens não estuda nem trabalha. E há o tráfico de drogas, controlado pelo Comando Vermelho.
Durante a reportagem, um traficante, descalço e com rádio de comunicação na mão, apresentou-se para pedir emprego. ""Soube que a senhora veio tratar de emprego. Trabalho na boca de fumo e preciso sair desta vida. Estou nas suas mãos", disse o rapaz, que disse ser Rafael Oliveira Silva, 25.
"Aqui, tudo é ao contrário", afirmou Anderson da Silva Vicente, 28, pai de três filhos, e catador de material para reciclagem no lixão de Gramacho. Depois que o preço da lata de alumínio caiu de R$ 3,20 para R$ 1,20 o quilo, ele passou a catar cobras e rãs no poluído rio Sarapuí para vender.
Leonardo da Rocha, 19, vive com cinco irmãos desempregados. Indagado sobre como vive, os amigos responderam: ""Rouba". Ele não contestou.
Foi nesse cenário que o paraibano Aldenúbio Pereira de Souza, 21, segundo grau completo, desembarcou há três anos, proveniente do Ceará. Ele sobrevive como mascate, vendendo roupa de cama, mesa e banho de casa em casa.
O rapaz é pouco otimista em relação a conseguir um emprego com carteira assinada. ""É para quem tem peixinho", afirmou, referindo-se a apadrinhamento para a colocação no mercado de trabalho formal.
Gleison Oliveira Guimarães, 23, pai de quatro filhos, tem no bolso a carteira de trabalho, em branco, para a eventualidade de aparecer emprego.
Com a habilidade de fazer desenhos com navalha no couro cabeludo, sobrevive com um salão improvisado. (EL)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Abril superou março em vagas, diz Lupi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.