São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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Servidores puxam alta de gasto no exterior

Despesas de funcionários públicos fora do país bateram recorde em 2009 e somaram US$ 55 milhões, segundo o Banco Central

Para o governo, alta deve-se à presença do país em fóruns mundiais; gastos de turistas com tratamento médico no exterior também cresceram


EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O crescente protagonismo do Brasil nos principais fóruns internacionais de discussão e regulação durante a crise, se, de um lado, confirmou a importância do país como um dos líderes emergentes, por outro lado elevou substancialmente as despesas de funcionários públicos em viagens internacionais.
Somados à necessidade de intensificar visitas de promoção comercial e ao esforço na busca de sediar a Olimpíada de 2016, os gastos de comitivas oficiais no exterior bateram recorde em 2009.
Segundo dados do Banco Central, os valores gastos por servidores nessas viagens totalizaram US$ 55 milhões no ano passado, um salto considerável em relação aos US$ 37 milhões gastos em 2008.
Até então o maior patamar da série história, iniciada em 1947, havia sido em 2004, quando essas despesas chegaram a US$ 48 milhões. A soma inclui todas as esferas do poder público do país.
A maior demanda pela presença brasileira nas discussões em busca de uma saída da crise ocorreu justamente no ano em que o país assumiu a presidência rotativa do G20 financeiro -clube que reúne as maiores economias do planeta.
Por causa disso, os deslocamentos do ministro Guido Mantega (Fazenda) também aumentaram. Segundo Marcelo Fiche, assessor econômico do ministério, um dos êxitos do maior empenho internacional do país foi a transformação do Bric (que inclui Brasil, Rússia, Índia, China) em um ator respeitado nas decisões globais.
"Nós passamos a ser convidados para vários fóruns lá fora, não apenas para participar mas também para ter voz. Tivemos até que recusar convite para alguns eventos por falta de agenda", conta. Segundo dados do ministério, Fiche voou 217 horas a trabalho em 2009, ante 39 horas no ano anterior.
Segundo o professor de Ambiente Econômico Global do Insper, Otto Nogami, as sucessivas tentativas do governo de ampliar o peso geopolítico do Brasil trazem um custo na mesma proporção, pois muitas viagens, sobretudo as presidenciais, envolvem várias etapas com comitivas formadas por diversos assessores.
"O simples fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva habitualmente viajar bastante já tem influência no resultado. Mas, além disso, o lado ufanista do governo na saída da crise fez com que o dispêndio aumentasse ainda mais", avalia.
No primeiro trimestre de 2010, a conta já bate na casa dos US$ 13 milhões, ante US$ 6 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Para Nogami, a tendência de crescimento deve continuar, porque o Brasil ainda precisa recuperar importantes mercados consumidores perdidos durante o forte recuo do comércio global.
"O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento trabalham bastante com a promoção do país e seus produtos lá fora. Isso deve se intensificar."
O crescimento dos gastos dos funcionários públicos a princípio não deve causar desequilíbrios na balança de pagamentos, pois representam uma parte pequena da conta de viagens internacionais, cujas despesas totais somaram US$ 10,898 bilhões no ano passado.
Mas, se no ano marcado pela crise houve um pequeno recuo do total de viagens dos brasileiros para fora, os deslocamentos por motivo de saúde e os gastos com cartões de crédito no exterior -que incluem as compras realizadas via internet- também bateram recorde. Dólar barato e manutenção da renda e do emprego, mesmo em um período de crise, estimularam o aumento dessas despesas.
"Além do maior poder de compra do real no exterior, a ascensão da nova classe C com crédito disponível para parcelar viagens possibilitou o acesso dessas pessoas inclusive a tratamentos médicos ou mesmo de estética em outros países", explica Nogami.


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