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Servidores puxam alta de gasto no exterior
Despesas de funcionários públicos fora do país bateram recorde em 2009 e somaram US$ 55 milhões, segundo o Banco Central
Para o governo, alta deve-se à presença do país em fóruns mundiais; gastos de turistas com tratamento médico no exterior também cresceram
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O crescente protagonismo do
Brasil nos principais fóruns internacionais de discussão e regulação durante a crise, se, de
um lado, confirmou a importância do país como um dos líderes emergentes, por outro lado elevou substancialmente as
despesas de funcionários públicos em viagens internacionais.
Somados à necessidade de
intensificar visitas de promoção comercial e ao esforço na
busca de sediar a Olimpíada de
2016, os gastos de comitivas
oficiais no exterior bateram recorde em 2009.
Segundo dados do Banco
Central, os valores gastos por
servidores nessas viagens totalizaram US$ 55 milhões no ano
passado, um salto considerável
em relação aos US$ 37 milhões
gastos em 2008.
Até então o maior patamar
da série história, iniciada em
1947, havia sido em 2004,
quando essas despesas chegaram a US$ 48 milhões. A soma
inclui todas as esferas do poder
público do país.
A maior demanda pela presença brasileira nas discussões
em busca de uma saída da crise
ocorreu justamente no ano em
que o país assumiu a presidência rotativa do G20 financeiro
-clube que reúne as maiores
economias do planeta.
Por causa disso, os deslocamentos do ministro Guido
Mantega (Fazenda) também
aumentaram. Segundo Marcelo Fiche, assessor econômico
do ministério, um dos êxitos do
maior empenho internacional
do país foi a transformação do
Bric (que inclui Brasil, Rússia,
Índia, China) em um ator respeitado nas decisões globais.
"Nós passamos a ser convidados para vários fóruns lá fora,
não apenas para participar mas
também para ter voz. Tivemos
até que recusar convite para alguns eventos por falta de agenda", conta. Segundo dados do
ministério, Fiche voou 217 horas a trabalho em 2009, ante 39
horas no ano anterior.
Segundo o professor de Ambiente Econômico Global do
Insper, Otto Nogami, as sucessivas tentativas do governo de
ampliar o peso geopolítico do
Brasil trazem um custo na mesma proporção, pois muitas viagens, sobretudo as presidenciais, envolvem várias etapas
com comitivas formadas por
diversos assessores.
"O simples fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
habitualmente viajar bastante
já tem influência no resultado.
Mas, além disso, o lado ufanista
do governo na saída da crise fez
com que o dispêndio aumentasse ainda mais", avalia.
No primeiro trimestre de
2010, a conta já bate na casa dos
US$ 13 milhões, ante US$ 6 milhões registrados no mesmo
período do ano passado. Para
Nogami, a tendência de crescimento deve continuar, porque
o Brasil ainda precisa recuperar importantes mercados consumidores perdidos durante o
forte recuo do comércio global.
"O Itamaraty e o Ministério
do Desenvolvimento trabalham bastante com a promoção
do país e seus produtos lá fora.
Isso deve se intensificar."
O crescimento dos gastos dos
funcionários públicos a princípio não deve causar desequilíbrios na balança de pagamentos, pois representam uma parte pequena da conta de viagens
internacionais, cujas despesas
totais somaram US$ 10,898 bilhões no ano passado.
Mas, se no ano marcado pela
crise houve um pequeno recuo
do total de viagens dos brasileiros para fora, os deslocamentos
por motivo de saúde e os gastos
com cartões de crédito no exterior -que incluem as compras
realizadas via internet- também bateram recorde. Dólar
barato e manutenção da renda
e do emprego, mesmo em um
período de crise, estimularam o
aumento dessas despesas.
"Além do maior poder de
compra do real no exterior, a
ascensão da nova classe C com
crédito disponível para parcelar viagens possibilitou o acesso dessas pessoas inclusive a
tratamentos médicos ou mesmo de estética em outros países", explica Nogami.
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