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MERCADO FINANCEIRO
Com queda das taxas, captação líquida nos fundos de renda fixa de estrangeiros volta a ser negativa
Juro já afugenta capital especulativo
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
A migração de capitais especulativos para o Brasil perdeu o fôlego.
Depois da enxurrada de recursos
em março, a captação líquida dos
fundos de renda fixa oferecidos a
estrangeiros voltou a ficar negativa
a partir de meados de abril.
Em janeiro passado, conforme
dados do Banco Central, a captação líquida (depósitos menos saques) diária foi negativa em R$
98,75 milhões. No mês, saíram
quase R$ 2 bilhões, devido inicialmente à moratória mineira e, depois, às incertezas desencadeadas
pela abrupta maxidesvalorização.
Fevereiro foi mês de banho-maria, ainda com expectativas bem
negativas sobre o futuro da economia brasileira. A captação líquida
diária foi negativa em R$ 13,78 milhões, totalizando saída de R$ 248
milhões no período.
A virada veio em março, a partir
do dia 17, quando entrou em vigor
a alíquota de apenas 0,5% do IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras). Até então, a entrada do capital estrangeiro de curto prazo
(exceto Bolsa) era taxada em 2%.
Em março, a captação líquida
dos 115 fundos de renda fixa de capital estrangeiro alcançou R$ 2,4
bilhões positivos, com entrada
média de R$ 104,17 milhões a cada
dia útil, um desempenho recorde.
Os dados do BC revelam que em
abril os depósitos foram diminuindo, até que, a partir do dia 16, voltaram a surgir saques, alguns expressivos, de até R$ 160 milhões
em apenas um dia.
Até 26 de abril, o último dado
disponível do BC, o fluxo ainda era
positivo, mas com média diária de
apenas R$ 12,67 milhões, contra os
R$ 104,17 milhões de março.
Não se trata, porém, de reações
negativas ao "risco Brasil" (moratória ou algo que o valha) ou à CPI
dos Bancos. A principal causa é a
queda dos juros, avaliam executivos do mercado financeiro.
Os juros básicos do BC, agora
medidos pela taxa Selic, que chegaram a 45% ao ano depois da posse
de Armínio Fraga, no início de
março, já recuaram para 32%.
Os juros embutidos nos títulos
cambiais, predominantes nas carteiras de muitos fundos de renda
fixa de capital estrangeiro, chegaram a 30% ao ano. Passaram então
a cair, para 15% e 12% ao ano (mais
variação cambial), com a volta do
crédito externo ao país. Na quinta-feira passada estavam em 9%.
O cupom cambial (retorno) medido pelas expectativas dos mercados futuros recuou de até 27% para
13,80% (cálculo para um ano na última sexta-feira).
Para usar uma expressão típica
das Bolsas, os estrangeiros atraídos pelos altos juros estão simplesmente "realizando lucro" quando
decidem sair, explica Gilberto
Kfouri, diretor do CCF Brain.
O IDU (título da dívida externa
renegociada) paga, no exterior,
13% ou 14% ao ano. Por que aplicar
aqui, correndo risco cambial, e receber menos? -questiona.
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