São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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Produção industrial tem pior quadrimestre desde 91

Apesar da queda de 14,7% em relação a 2008, IBGE diz que dado mensal revela reação "lenta e gradual" devido ao consumo interno

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Distante ainda de se recuperar do tombo provocado pela crise, a produção da indústria caiu 14,7% no acumulado de janeiro a abril de 2009, o pior desempenho para esse período desde o início da pesquisa do IBGE, em 1991. Em abril, o recuo ficou no mesmo patamar: 14,8% ante abril de 2008.
Já em relação a março, houve expansão de 1,1% na série livre de influências típicas de cada período. Foi o quarto mês consecutivo de alta nessa base de comparação.
Para Isabela Nunes, técnica do IBGE, o resultado revela uma "gradual e lenta" reação da indústria, sustentada pelo mercado interno graças ao crescimento da renda. Especialistas, por seu turno, não descartam, diante do resultado, retrações do PIB no primeiro e no segundo trimestres deste ano e estimam uma queda de até 6% da indústria em 2009.
"Há um crescimento gradual da indústria na margem [em relação ao mês anterior]. É uma recuperação muito lenta e gradual, mas contínua nos últimos meses", disse Nunes.
Na esteira da expansão da renda, a categoria de bens semi e não duráveis teve o desempenho menos negativo no primeiro quadrimestre: queda de 3,2%. Já na outra ponta, a produção de bens de capital caiu 22,6% no período -o pior desempenho desde o início da pesquisa do IBGE.
Para Nunes, as expectativas se deterioram diante da crise, o que inibe investimentos, especialmente na compra de máquinas e equipamentos. A queda de 29,3% em abril também foi a maior da série do IBGE.
A economista avalia que o desempenho da indústria só não foi pior porque o crédito melhorou desde o começo deste ano e a redução de tributos também beneficiou alguns setores. É o caso do de veículos automotores, cuja produção avançou 61,1% nos quatro primeiro meses deste ano, após desabar no final de 2008.
De março para abril, a produção do setor automobilístico cresceu 3,3%. Tal desempeno puxou também para cima outros ramos, como metalurgia (5,1%) e borracha e plástico (6,7%). Os três tiveram os melhores desempenhos da indústria em abril.
Apesar dos primeiros sinais de melhora, os dados de abril não são suficientes para inverter a tendência de queda da indústria neste ano, segundo Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Mesmo com os quatro meses seguidos de crescimento na comparação com o mês imediatamente anterior, a indústria ainda opera no mesmo patamar de outubro de 2005.
"Esse resultado de abril não é suficiente para ajudar a indústria. Se a indústria mantiver o ritmo atual, na ponta, a produção vai cair 6% neste ano", diz.
Diante desse cenário, a MB prevê PIB próximo a zero neste ano. Para o primeiro trimestre, prevê queda de 3,4% ante o mesmo período de 2008. Já a estimativa para o segundo trimestre indica retração de 0,9%.
Para Leonardo Carvalho, economista do Ipea, a produção ainda sente os efeitos de um grande ajuste de estoques e só deve registrar uma recuperação mais firme no segundo semestre, sustentada pelo mercado interno.
"O reajuste do salário mínimo recupera o consumo e a renda e evitará uma queda ainda mais intensa da produção da indústria e sustentará um pouco o PIB", concorda Vale.


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