São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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Setor sucroalcooleiro vê cenário melhor

Momento é mais propício ao açúcar, pois oferta está menor do que a demanda; álcool deve se recuperar em agosto/setembro

Pessimismo dominou no início da safra, mas agora há mais otimismo; usinas estão conseguindo produzir, financiar e exportar mais

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

As nuvens cinzentas que pairam sobre o setor sucroalcooleiro parece que estão se dissipando. Houve uma mudança de cenário nos últimos meses e, embora parte das usinas ainda tenha dificuldades para sair da crise, outras já apresentam um horizonte bem melhor.
Essa é a visão de vários participantes do Ethanol Summit, encontro do setor iniciado ontem, em São Paulo, e que termina amanhã. Organizado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o evento serve para o setor "refletir e debater sobre suas perspectivas", segundo Marcos Jank, presidente da entidade.
O setor está dividido, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura. "As usinas que se endividaram ainda passam por um processo difícil. Já as que não contraíram dívidas estão se saindo bem. Deve haver concentração maior no setor."
O setor vive um cenário bom para o açúcar, cuja oferta está menor do que a demanda, mas o álcool tem preços que não remuneram adequadamente. Com preços baixos, as usinas sem crédito colocam mais álcool à venda, depreciando ainda mais os preços. Essa queda reflete diretamente na renda dos fornecedores de cana, segundo Rodrigues.
Na avaliação do ex-ministro, o setor passa por um processo de saneamento, mas o cenário de 2010 será melhor. Prova disso é a busca de negócios no setor por parte das petrolíferas.
Plinio Nastari, presidente da Datagro, também vê um cenário melhor para o setor. "Após termos chegado ao fundo do poço, estamos saindo da crise", diz ele. Não haverá, no entanto, expansão acelerada porque o setor vive uma ressaca, diz.
O açúcar, produto que dá mais liquidez ao setor no momento, tem déficit mundial de 7,8 milhões de toneladas na safra 2008/9. Na próxima safra, o déficit se manterá, e a oferta deverá ser 4,5 milhões inferior à demanda, segundo Nastari.
Já o álcool, com preços baixos no momento, deve se recuperar a partir de agosto e setembro, devido à menor oferta.
Antonio de Padua Rodrigues, da Unica, diz que a safra começou com pessimismo muito grande, "mas já está havendo uma transição para o otimismo, principalmente devido ao açúcar". As usinas estão conseguindo produzir, financiar e exportar, tendo fluxo de caixa.
Mas não são todas. "Muitas usinas enfrentam problemas de liquidez, de falta de crédito e não conseguem obter financiamento nem para construir estoques", diz ele.

Ajuste no mercado
Internamente, os preços baixos aumentaram a demanda. Do lado externo, as exportações estão fortes e somaram 400 milhões de litros no mês passado. Com as usinas voltadas para o açúcar, mais rentável, a produção de álcool deve crescer pouco. "O mercado vai fazer um ajuste de oferta e demanda via preço", afirma o diretor da Unica.
O setor de fornecimento de equipamentos, um dos mais afetados pela crise, também começa a sentir um cenário melhor. "Voltaram as consultas, mas ainda não ocorreram novos negócios", afirma José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini Indústria de Base.
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, diz que o banco também aumentou a participação no setor sucroenergético neste ano. De janeiro a abril, o BNDES já desembolsou R$ 3,2 bilhões, 36% acima do volume de igual período de 2008.
O setor de máquinas agrícolas, que ainda sente fortemente a crise financeira vivida pelo agronegócio, também foi "surpreendido positivamente nos últimos dois meses", quando houve melhora nas vendas de colhedoras de cana, segundo Ari Kempenich, da Case IH.


Com a Reuters


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