São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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VAREJO

Grupo confirma compra da última rede de supermercados disponível no Sudeste por R$ 375 mi

Com Sé, Pão de Açúcar "fecha" mercado de SP

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Abílio Diniz, dono do grupo Pão de Açúcar, deu duas tacadas de uma só vez. Diniz anunciou ontem, após quatro meses de negociações quase ininterruptas, a assinatura do contrato de compra da rede Sé Supermercados, a sétima maior do país. Pagará, em duas parcelas, R$ 250,5 milhões e ainda irá arcar com R$ 124,4 milhões em dívidas da companhia. Com isso a empresa "fechou" a região Sudeste para a entrada de qualquer outro concorrente, estrangeiro ou nacional, interessado nesse mercado. O Sé era a última cadeia à venda na região.
Além disso, ele ainda decidiu não renovar o contrato de franquias de 12 lojas da marca CompreBem no Recife (PE). Passará então a utilizar a bandeira Pão de Açúcar nessas lojas na capital pernambucana. Ou seja, a rede amplia sua atuação no Nordeste, onde a rede holandesa Royal Ahold -uma das maiores interessadas na compra do Sé até o mês passado- reina de forma absoluta no setor de supermercados.
"Ele fechou o mercado de São Paulo e ainda expandiu a atuação da marca no Nordeste", diz Marcos Gouvêa de Souza, sócio e diretor-geral da consultoria GS&MD.
Para ficar com o Sé, teve de entrar em junho num leilão fechado coordenado por representantes do ex-dono da rede, o grupo português Jerônimo Martins. Segundo analistas, Diniz não era a primeira opção da rede portuguesa para a venda. Quando Diniz resolveu vender suas lojas em Portugal, anos atrás, os controladores do Sé tinham interesse nos pontos. A cadeia brasileira acabou vendendo as lojas para os próprios funcionários portugueses. O grupo Jerônimo perdeu o negócio e haveria uma rixa pessoal, algo que o Pão de Açúcar nega.
"Entramos no negócio meio preocupados. Eu estava temeroso quanto ao resultado, mas acho que foi um bom negócio", disse Abílio Diniz. O leilão era fechado, e as empresas não sabiam das propostas das outras. No páreo, estavam Carrefour e Tesco. Wal-Mart e Ahold desistiram.

O negócio
A rede brasileira fechou a operação de compra no domingo à tarde. A maioria das 62 lojas do Sé não serão fechadas. Aquelas com sobreposição vão adotar a bandeira Barateiro ou Pão de Açúcar. Haverá demissão e fechamento de poucas lojas no interior de São Paulo. A rede não quis dar detalhes a respeito.
Com a decisão, os fornecedores dizem que saem perdendo. Os consumidores também nada ganharão. Essa aquisição elevará a concentração do mercado -agora o Pão de Açúcar será dono de 15% do setor, contra 13,6% até junho- e a rede aumentará seu poder de negociação com as indústrias. Portanto, quem quiser ter os seus produtos nas prateleiras do Pão de Açúcar ou do Sé agora só tem um canal de vendas.
Isso incomoda os fornecedores, que torciam para a venda do Sé para a rede inglesa Tesco. "A indústria vai pagar parte dessa conta", diz Gouvêa.
"Eles (os fornecedores) precisam ficar vermelhos quando dizem isso. Existe uma marca de cerveja dona de 85% do mercado. Isso é concentração", declara Abílio Diniz.
Ainda há a questão dos preços. Com a venda do Sé, o Pão de Açúcar deverá fechar um maior volume de encomendas para as suas lojas. Isso deve fazer com que a empresa consiga melhores descontos com os fornecedores. O que, entretanto, não deve ser repassado aos preços, segundo avalia a direção do grupo.
Com a operação, a rede passa a acumular um faturamento anual de R$ 10,9 bilhões e 507 lojas. Ainda aumenta a distância do Carrefour (R$ 9,2 bilhões), o segundo colocado no ranking do setor.



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