São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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OPINIÃO ECONÔMICA

Emprego, o maior problema do Brasil hoje

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Tenho refletido sobre as pesquisas de opinião pública que procuram medir a forma como a população avalia o governo Lula, nestes seus primeiros 18 meses no poder. Existe um quadro claro de decepção com o governo do PT e um sentimento de que as promessas de campanha não estão sendo cumpridas. A opinião pública está hoje dividida em três grupos de cidadãos, cada um representando um terço do universo pesquisado.
O primeiro terço está satisfeito com o governo e com o presidente da República. Representa os brasileiros que sempre viram no PT a melhor alternativa para o Brasil. Um segundo terço julga o governo como ruim ou péssimo e não confia mais em Lula. Certamente esse contingente de brasileiros votou em José Serra, mas, boa parte dele aprovou os primeiros meses do governo.
O terceiro grupo, que votou em Lula nas eleições de 2002, migrou para a posição de expectativa em relação ao governo. Já não apóia o Palácio do Planalto, mas ainda não manifesta sua contrariedade de forma explícita. Prefere julgar o governo como tendo uma performance regular em relação às suas expectativas e a maioria ainda confia em Lula.
Outras indicações dessas pesquisas sobre o governo e as primeiras avaliações sobre os resultados do PT nas próximas eleições municipais também apontam para um desencanto com a situação do país. Na pesquisa Sensus, 48% dos entrevistados responderam que não votariam em Lula em uma hipotética eleição presidencial hoje. Nas pesquisas sobre as eleições municipais de São Paulo, a atual prefeita amarga um terceiro lugar, atrás até de Paulo Maluf.
Qual seria a causa para essa desilusão precoce da população? Não tenho dúvida de que é a percepção de que o problema do emprego e da queda da renda do brasileiro continua o mesmo no governo do partido da estrela vermelha. Nem mesmo a tentativa de vender uma recuperação econômica fantástica neste início de 2004, que não existe, consegue inverter esse processo de desgaste. Peço a atenção do leitor da Folha para o quadro nesta página em que mostro as taxas de crescimento da população economicamente ativa, dos empregados e dos desempregados nos últimos oito anos. Fica claro que o número de empregos gerados é sistematicamente inferior à demanda por trabalho, o que gera taxas crescentes de desemprego.
Esse quadro não mudou nestes últimos dois anos, pois a economia cresceu em média menos do que no período 1994/2003. Uma análise mais cuidadosa do PIB no primeiro trimestre de 2004 mostra que, apesar da retomada do crescimento, o consumo das famílias reduziu-se em 3,5% em relação aos primeiros três meses de 2003. Sabemos que o cidadão reage às efetivas condições de bem-estar de sua família, e não a estatísticas divulgadas com estardalhaço pela mídia. Por isso, a desilusão com as promessas de mais emprego e melhores condições de vida que permeia a sociedade às vésperas das eleições para prefeitos e vereadores deve continuar.
Os números na tabela representam o crescimento médio da PEA, do emprego e do desemprego até a data. Por exemplo, entre 1994 e 2002, o número de pessoas procurando emprego cresceu em média 1,85% ao ano nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, enquanto os ocupados cresceram a uma taxa média de 1,55% ao ano e os sem-emprego aumentaram 6,53% ao ano. No caso do Seade, os dados cobrem a Grande São Paulo e estão disponíveis até 2003. Os valores já divulgados pelo Seade para o início de 2004 mostram que a tendência dos últimos anos não mudou.
Somente uma inversão importante no quadro de geração de emprego, interrompendo uma tendência de mais de oito anos, pode inverter essa situação de desalento com um governo que prometeu novos dias para a população.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br


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