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OPINIÃO ECONÔMICA
Emprego, o maior problema do Brasil hoje
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Tenho refletido sobre as
pesquisas de opinião pública
que procuram medir a forma como a população avalia o governo
Lula, nestes seus primeiros 18 meses no poder. Existe um quadro
claro de decepção com o governo
do PT e um sentimento de que as
promessas de campanha não estão sendo cumpridas. A opinião
pública está hoje dividida em três
grupos de cidadãos, cada um representando um terço do universo pesquisado.
O primeiro terço está satisfeito
com o governo e com o presidente
da República. Representa os brasileiros que sempre viram no PT a
melhor alternativa para o Brasil.
Um segundo terço julga o governo
como ruim ou péssimo e não confia mais em Lula. Certamente esse
contingente de brasileiros votou
em José Serra, mas, boa parte dele
aprovou os primeiros meses do
governo.
O terceiro grupo, que votou em
Lula nas eleições de 2002, migrou
para a posição de expectativa em
relação ao governo. Já não apóia
o Palácio do Planalto, mas ainda
não manifesta sua contrariedade
de forma explícita. Prefere julgar
o governo como tendo uma performance regular em relação às
suas expectativas e a maioria ainda confia em Lula.
Outras indicações dessas pesquisas sobre o governo e as primeiras avaliações sobre os resultados do PT nas próximas eleições
municipais também apontam para um desencanto com a situação
do país. Na pesquisa Sensus, 48%
dos entrevistados responderam
que não votariam em Lula em
uma hipotética eleição presidencial hoje. Nas pesquisas sobre as
eleições municipais de São Paulo,
a atual prefeita amarga um terceiro lugar, atrás até de Paulo
Maluf.
Qual seria a causa para essa desilusão precoce da população?
Não tenho dúvida de que é a percepção de que o problema do emprego e da queda da renda do
brasileiro continua o mesmo no
governo do partido da estrela vermelha. Nem mesmo a tentativa
de vender uma recuperação econômica fantástica neste início de
2004, que não existe, consegue inverter esse processo de desgaste.
Peço a atenção do leitor da Folha
para o quadro nesta página em
que mostro as taxas de crescimento da população economicamente
ativa, dos empregados e dos desempregados nos últimos oito
anos. Fica claro que o número de
empregos gerados é sistematicamente inferior à demanda por
trabalho, o que gera taxas crescentes de desemprego.
Esse quadro não mudou nestes
últimos dois anos, pois a economia cresceu em média menos do
que no período 1994/2003. Uma
análise mais cuidadosa do PIB no
primeiro trimestre de 2004 mostra que, apesar da retomada do
crescimento, o consumo das famílias reduziu-se em 3,5% em relação aos primeiros três meses de
2003. Sabemos que o cidadão reage às efetivas condições de bem-estar de sua família, e não a estatísticas divulgadas com estardalhaço pela mídia. Por isso, a desilusão com as promessas de mais
emprego e melhores condições de
vida que permeia a sociedade às
vésperas das eleições para prefeitos e vereadores deve continuar.
Os números na tabela representam o crescimento médio da PEA,
do emprego e do desemprego até
a data. Por exemplo, entre 1994 e
2002, o número de pessoas procurando emprego cresceu em média
1,85% ao ano nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, enquanto os ocupados cresceram a uma taxa média de 1,55%
ao ano e os sem-emprego aumentaram 6,53% ao ano. No caso do
Seade, os dados cobrem a Grande
São Paulo e estão disponíveis até
2003. Os valores já divulgados pelo Seade para o início de 2004
mostram que a tendência dos últimos anos não mudou.
Somente uma inversão importante no quadro de geração de
emprego, interrompendo uma
tendência de mais de oito anos,
pode inverter essa situação de desalento com um governo que prometeu novos dias para a população.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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