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VISÃO DE FORA
Economista americano critica política pautada pelo FMI e afirma que recuperação do país não tem se mostrado sólida
Retomada no Brasil decepciona, diz Krugman
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O economista norte-americano
Paul Krugman disse estar "desapontado" com o Brasil e criticou o
fato de a equipe econômica do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar sendo pautada pela política recomendada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Krugman é reconhecido como
um dos principais economistas
da atualidade. Colunista do jornal
"The New York Times", ele foi o
convidado especial de um seminário em Washington no qual
apresentou uma série de dúvidas
sobre a sustentabilidade da recuperação econômica dos EUA.
Questionado pela Folha ao final
do evento sobre como avaliava a
recuperação da economia brasileira, Krugman afirmou:
"O Brasil tem sido um desapontamento para mim. Eu tinha mais
esperanças em Lula. Minha torcida ainda está com o Brasil, mas já
não sei, a economia não tem se
mostrado tão sólida quanto gostaríamos que estivesse", disse.
"Ainda não vimos uma recuperação econômica forte."
Confrontado com o fato de o
FMI estar freqüentemente elogiando as medidas adotadas pelo
Brasil, Krugman sorriu e disse:
"O fato é que esse tipo de política nem sempre é a adequada. Essa
é uma longa história. Às vezes as
coisas acabam não indo para o lado que você pensava que elas
iriam. Pode ser que o quadro melhore, mas isso ainda não está claro para mim", afirmou.
Em sua apresentação, Krugman
também colocou várias dúvidas
sobre a sustentabilidade da recuperação norte-americana e afirmou que "a atual retomada não
segue um modelo clássico".
"A retomada [nos EUA] é prematura e não é o resultado dos investimentos do setor produtivo
nem está sendo transferida para a
renda dos consumidores. É uma
recuperação baseada em gastos,
em uma política econômica totalmente expansionista que se esgotou." Krugman afirmou ainda
não entender "o fato de existir
tanto consenso" sobre a necessidade de aumentar os juros. "A retomada não está consolidada."
Segundo ele, o principal indício
é o fato de "os salários estarem ficando muito atrás do ritmo da recuperação". Desde o início de
2004, o salário-hora pago na produção caiu de um pico de US$
15,85 para US$ 15,65. Há também
indícios de que o ritmo das contratações esteja caindo.
O economista da Universidade
de Princeton afirmou também
que os EUA têm no horizonte a
possibilidade de um estouro na
chamada "bolha imobiliária".
"[Alan] Greenspan [presidente
do Fed] conseguiu fazer com que
a "bolha imobiliária" substituísse a
"bolha da Nasdaq", que, como todos sabem, acabou explodindo."
A "bolha imobiliária" norte-americana levou a uma vertiginosa expansão de novas construções
e dos preços de imóveis nos EUA
-alavancados por financiamento farto e juros baixos. Agora, há o
risco de que os preços, em patamares recordes, desabem.
O alto endividamento da sociedade americana, aliado ao atual
movimento de alta de juros, tenderia a agravar o processo.
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