São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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VISÃO DE FORA

Economista americano critica política pautada pelo FMI e afirma que recuperação do país não tem se mostrado sólida

Retomada no Brasil decepciona, diz Krugman

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O economista norte-americano Paul Krugman disse estar "desapontado" com o Brasil e criticou o fato de a equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar sendo pautada pela política recomendada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Krugman é reconhecido como um dos principais economistas da atualidade. Colunista do jornal "The New York Times", ele foi o convidado especial de um seminário em Washington no qual apresentou uma série de dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação econômica dos EUA.
Questionado pela Folha ao final do evento sobre como avaliava a recuperação da economia brasileira, Krugman afirmou:
"O Brasil tem sido um desapontamento para mim. Eu tinha mais esperanças em Lula. Minha torcida ainda está com o Brasil, mas já não sei, a economia não tem se mostrado tão sólida quanto gostaríamos que estivesse", disse. "Ainda não vimos uma recuperação econômica forte."
Confrontado com o fato de o FMI estar freqüentemente elogiando as medidas adotadas pelo Brasil, Krugman sorriu e disse:
"O fato é que esse tipo de política nem sempre é a adequada. Essa é uma longa história. Às vezes as coisas acabam não indo para o lado que você pensava que elas iriam. Pode ser que o quadro melhore, mas isso ainda não está claro para mim", afirmou.
Em sua apresentação, Krugman também colocou várias dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação norte-americana e afirmou que "a atual retomada não segue um modelo clássico".
"A retomada [nos EUA] é prematura e não é o resultado dos investimentos do setor produtivo nem está sendo transferida para a renda dos consumidores. É uma recuperação baseada em gastos, em uma política econômica totalmente expansionista que se esgotou." Krugman afirmou ainda não entender "o fato de existir tanto consenso" sobre a necessidade de aumentar os juros. "A retomada não está consolidada."
Segundo ele, o principal indício é o fato de "os salários estarem ficando muito atrás do ritmo da recuperação". Desde o início de 2004, o salário-hora pago na produção caiu de um pico de US$ 15,85 para US$ 15,65. Há também indícios de que o ritmo das contratações esteja caindo.
O economista da Universidade de Princeton afirmou também que os EUA têm no horizonte a possibilidade de um estouro na chamada "bolha imobiliária".
"[Alan] Greenspan [presidente do Fed] conseguiu fazer com que a "bolha imobiliária" substituísse a "bolha da Nasdaq", que, como todos sabem, acabou explodindo."
A "bolha imobiliária" norte-americana levou a uma vertiginosa expansão de novas construções e dos preços de imóveis nos EUA -alavancados por financiamento farto e juros baixos. Agora, há o risco de que os preços, em patamares recordes, desabem.
O alto endividamento da sociedade americana, aliado ao atual movimento de alta de juros, tenderia a agravar o processo.


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